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Vento e chuva acordam “pesadelos” das vítimas das cheias de Boane

As vítimas das cheias de Boane, reassentados na localidade de Estevel, Município de Boane, viveram, na noite de quarta-feira, um pesadelo devido aos ventos fortes que sopraram, causando a destruição total de 25 tendas e parcial de 24, ou seja, todas as 49 famílias reassentadas tiveram suas tendas destruídas.

Conforme contaram ao jornal O País, os ventos começaram por volta das 21 horas. Inicialmente, parecia algo sem muita expressão, mas, em menos de cinco minutos, suas tendas foram abaixo, deixando mulheres e crianças ao relento e debaixo da chuva.

Naquele momento, não foi possível tirar quase nada, fugiram para uma escola próxima à busca de abrigo.

“Já estávamos a preparar-nos para dormir, as crianças até já estavam deitadas, de repente ouvimos o som do vento e sentimos a tenda a estremecer. Foi algo tão rápido que só vimos a tenda por cima de nós. Tudo o que vivemos há um ano, aquando das cheias, veio a minha memória e até perguntei por que tenho que sofrer sempre?! Não consegui dormir, só pensei nos bens que conquistei durante este período e que ia perder mais uma vez”, desabafou Sónia Fernando.

Mas nem todos fugiram para escola, Vitória Comé ficou em casa com as suas três crianças, pois a sua tenda ficou parcialmente destruída. Contou que, durante a noite, ficou acordada e em pé a segurar a tenda para que os seus filhos conseguissem pelo menos dormir nas cadeiras sentadas para que não ficassem sufocadas.

Ainda assim, os seus filhos não conseguiam dormir, pois entrava água e soprava muito; tudo dentro da sua tenda molhou e, na manhã de hoje, não tinham nada para comer.

“Aqui, estou desesperada, não sei o que vai acontecer, o que vamos comer, molhou tudo, farinha, arroz, roupa, tudo, não sei se ainda vou conseguir recuperar alguma coisa, para além dos reservatórios de água e do fogão que são coisas plásticas e de ferro”, lamentou Vitória.

Uma mistura de sentimentos tomou conta das 49 famílias, que vivem naquela localidade: dor, tristeza e angústia.

Já passavam mais de 12 horas depois de a “desgraça” ter batido a sua porta mais uma vez, mas parecia não acreditar no que via. Sentada com um olhar perdido num bidão, mesmo em frente à sua tenda, acompanhava jovens voluntários a reerguerem a sua tenda. A sua filha, ao lado e deitada num colchão molhado, comia o único pedaço de pão que não molhou com a chuva.

Das 49 tendas, 24 ainda eram reaproveitáveis, eram essas que estão a ser erguidas, mas, ainda assim, as condições não eram das melhores, muitas estavam rasgadas e o material, nesse caso, os ferros que apoiam a tenda para que esteja intacta, já não tem qualidade.

“Estas tendas já não vão durar muito tempo. Esta é a terceira vez que isso acontece, agora estamos a usar paus para poder sustentar, e qualquer outro vento que vier, vai fazer a mesma coisa. Esta população precisa de algo com mais qualidade”, disse um jovem voluntário e nativo da localidade, Hélio José.

O edil da vila de Boane, Jacinto Loureiro, disse que entende a revolta da população, mas não tem condições para fazer muito mais, pois o Município gastou muito dinheiro para reconstruir e repor as infra-estruturas destruídas pelas cheias.

“Estas famílias devem tentar reerguer-se por si só, nós não temos condições para construir casas, a não ser que tenhamos algum apoio de alguma organização de boa vontade, fizemos as casas de banho, demos água e também estamos a apoiar outras famílias que estão noutros pontos que também sofreram com as cheias. Há muita coisa que ficou a cargo do município e tivemos despesas extras com as cheias. Queremos ajudar, mas não temos como.”

Entretanto, o INGD na Província de Maputo e o Município da Vila de Boane disponibilizaram 25 tendas novas, 10 quilos de arroz e dois litros de óleo para cada família e 10 sacos de diversos tipos de roupa.

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