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Salvemos o(s) Salvado(s)

Numa altura em que muito se fala em academias para que os talentos encontrem espaço para explanarem as suas qualidades, veio-me à mente a experiência que considero inédita há pouco mais de uma década, do Pembinha, onde se forjaram alguns dos melhores futebolistas dos últimos anos, com Riquito como figura de proa.

A ideia surgiu porque os então astutos dirigentes do Costa do Sol, verificando que a equipa principal possuía estrelas de primeira grandeza como Gil, Nito, Caldeira, Semedo, Luís, Ramos e outros, deveriam criar condições para preparar, sem pressões, a “fornada” seguinte, a partir dos jovens que despontavam nos juniores.

O Pemba, então integrado nas EDM e na qualidade de filial do Costa do Sol, foi um “laboratório de experiências” que produziu resultados que servem de modelo, em toda a linha.
Como mentor e executor, um nome de referência e dedicação, tanto nos clubes como na Selecção Nacional: Arnaldo Salvado, que subiu na difícil função de treinador, não de elevador, mas através das escadas que a profissão exige. Foi adjunto de Rui Caçador e Bondarenko e o seu currículo fala por si, sendo o mais titulado do país.

Desencanto
Há uns anos, desencantado, decidiu afastar-se do futebol. O Ferroviário de Nampula conseguiu convencê-lo a abraçar um projecto no Moçambola que não teve o sucesso esperado. Aguentou, enfrentando algum racismo e anti-machanganismo de premeio, resistindo até onde pôde, até que, recentemente, anunciou que iria, em definitivo, deitar a “toalha ao chão”.

É pelo Salvado, raridade como cidadão e como homem do futebol e pelos outros que vão passando ao esquecimento, que devem os dirigentes (re)pensar. Onde param Miguel dos Santos, Euroflin, Geneto, Calton, Zainadine e tantos outros? Temos um Moçambola cada vez mais estrangeirado, dentro das quatro linhas e agora também no banco técnico. E se é bom que possamos ter desportistas de fora que representem mais-valias, a subalternização dos nossos não nos levará a lado algum.

No caso particular do “mister” Salvado, a FMF, poderia utilizar a sua vasta experiência e sensibilidade, para liderar um projecto ligado a uma Academia, como a Mário Coluna da Namaacha, para algo inovador que, estou seguro, produziria resultados e em poucos anos atingiria a auto-suficiência.

É desolador acompanharmos as frequentes descidas do nosso país no “ranking” FIFA e augurarmos avanços somente a partir dos Mambas. Os clubes, em regra, apostam no imediatismo, gastando mais dinheiro em meia dúzia de reforços para os seniores do que em toda a área de formação. O exemplo de uma acção no sentido inverso, vindo de cima, poderia “contagiar” as bases pela positiva, ressurgindo novos “Pembinhas”.

Porém, de uma coisa eu estou certo: o nosso futebol não pode dispensar, de ânimo leve, pessoas com provas dadas, em áreas em que estamos tão carenciados. Daí o apelo: salvemos, com projectos sérios, os Salvados que por várias razões se encontram desmotivados!

 

 

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