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Ingerência excessiva da SED: Roque Sebastião diz basta e bate com a porta

Ambiente de “cortar à faca” no “Afrobasket” 2023 e excessivo protagonismo assumido pela Secretaria de Estado do Desporto, através do Fundo de Promoção Desportiva (FPD), no “dossier” do acordo de patrocínio da selecção nacional de basquetebol sénior feminino pela TotalEnergies na origem da saída de Roque Sebastião. A FMB não foi tida nem achada no processo de gestão do valor de 18,5 milhões de Meticais alocados pela TotalEnergies. Outras federações há já algum tempo reclamam da actuação do inerte Fundo de Promoção Desportiva.

Hirto, firme e com sentimento de passar para trás o fardo pesado que carregava, o presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB), Roque Sebastião, renunciou, hoje, o cargo de presidente da agremiação que vinha ocupando desde 2019. A renúncia surge após os problemas que afectaram a selecção nacional no “Afrobasket” 2023, em que as atletas reclamaram o pagamento de subsídios do valor de 32 mil Meticais, cujo fundo era gerido pela Secretaria de Estado do Desporto (SED) através do polémico Fundo de Promoção Desportiva. “Passei um pouco mal e, para não continuar a ter estas situações que já preocupam a minha família, vou anunciar que coloco o meu cargo à disposição para o bem do Desporto, da modalidade e para o bem da minha saúde”, disparou, hoje, Roque Sebastião, em conferência de imprensa explicativa sobre o processo de participação de Moçambique no “Afrobasket” e acordo entre a Secretaria de Estado do Desporto e TotalEnergies.

 

O FILME DA DESGRAÇA COLECTIVA

É que, depois de não terem recebido parte do valor de subsídios referentes à sua participação nas eliminatórias da zona VI para o “Afrobasket” 2023, em Bulawayo, no Zimbabwe, as atletas viram-se sem o dinheiro antes do arranque da preparação para a fase final.

Sem o dinheiro, algumas atletas influentes, sentindo-se prejudicadas pelo não cumprimento do acordado, recusaram-se a iniciar com as restantes colegas o ciclo de preparação. Acontece, porém, que há um valor que devia ter sido canalizado, mas não foi. Ainda em solo pátrio, as condições de treinamento não eram, nem tampouco, das melhores com a falta de gelo para a recuperação das atletas, situação contestada, ainda que em voz baixa.

O estágio pré-competitivo, inicialmente agendado para Turquia, caiu por terra, uma vez que os orçamentos e o plano de treinamento já não cabiam para a sua materialização. As atletas recusaram, pouco antes da viagem, os equipamentos para viagem disponibilizados para as mesmas, sendo que depois a Secretaria de Estado do Desporto foi obrigada a substituí-lo por outro. O pior ainda estava por vir!

A poucos dias do arranque da delegação moçambicana para Kigali, palco do “Afrobasket” 2023, a Federação Moçambicana de Basquetebol foi notificada pelo Governo a informar que somente 20 elementos podiam seguir para o Ruanda, ficando, desta forma, por terra os dirigentes do organismo que gere a modalidade da bola ao cesto. Cinco elementos, incluindo o preparador físico, uma figura importante em qualquer selecção, foram “cortados”.

Antes mesmo do arranque da competição, e já em Kigali, mais um episódio que colocou a nu as fragilidades e falta de transparência na gestão de fundos e da delegação moçambicana, porquanto o seleccionador nacional, Carlos Aik, se viu obrigado a comprar água e a pagar uma taxa para a selecção nacional defrontar o Senegal em jogo amigável.

A agravar a situação, e depois do presidente da República, Filipe Nyusi, ter interagido com a selecção nacional nas vésperas do jogo com a Guiné Equatorial, o caldo entornou-se com as atletas a exigirem o pagamento dos subsídios. Caso não houvesse pagamento, as mesmas, segundo os relatos que surgiram de Kigali, ameaçaram não se fazer à quadra para defrontar a Nigéria nos quartos-de-final do “Afrobasket”. Em meio ao esticar da corda, a Secretaria de Estado do Desporto, através das redes sociais, ainda tentou minimizar a situação, considerando que havia procedimentos a seguir e que as atletas tinham consciência desta situação.

Um áudio que vazou, no qual Carlos Ibraimo Aik, seleccionador nacional, que se queixava de ter, na altura, apenas metade da equipa à disposição, fez soar o alarme. O país estava na iminência de ser envergonhado, com as atletas a boicotarem o jogo de acesso às meias-finais.

A gestão pelo Fundo de Promoção Desportiva do valor global de 18,5 milhões de Meticais previstos no acordo com a TotalEnergies, e não pela Federação Moçambicana de Basquetebol, entidade que tutela a modalidade da bola ao cesto no país, nunca chegou a ser consensual com o Governo a ter excessivo protagonismo e a limitar a FMB.

Há dois anos, a Secretaria de Estado do Desporto chegou, de forma indirecta, a sugerir a demissão do presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol (FMB), numa conferência de imprensa convocada para anunciar que o Governo ia apoiar a deslocação da selecção nacional a Yaoundé, Camarões, palco do “Afrobasket” 2021.

Roque Sebastião foi eleito presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol a 5 de Outubro de 2019 para o quadriénio 2019-2023.

Sebastião Roque contabilizou, no escrutínio, 5 dos 10 votos, mais um que Dino Khan e três que Carlos Tomo. Clarisse Eulália Machanguana, lenda do basquetebol moçambicano, não teve nenhum voto.
Sebastião sucedeu no cargo a Francisco Mabjaia, que esteve durante oito anos na presidência da FMB.
O elenco de Roque Sebastião tomou posse depois do torneio pré-olímpico, competição realizada entre 14 e 17 de Novembro.

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