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Regresso da TotalEnergies a Moçambique pode subir os preços para 8,8% no final do ano

A consultora Oxford Economics considerou, esta semana, que a inflação em Moçambique, depois de cair para níveis de Março de 2022, poderá aumentar para 8,8% no último trimestre do ano em curso, impulsionada pelas informações de regresso da TotalEnergies a Cabo Delgado.

“Antevemos que a TotalEnergies vá recomeçar a construção do Parque Afungi LNG em Cabo Delgado no segundo trimestre deste ano, o que vai aumentar significativamente as importações, o que, por seu turno, vai colocar pressão nas reservas em moeda estrangeira, levando o Banco de Moçambique a abandonar a actual indexação de facto no último trimestre do ano”, escrevem os analistas num comentário à inflação de Junho último.

Na nota, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, a Oxford Economics escreve que “a consequente depreciação da taxa de câmbio do Metical vai aumentar os preços dos bens importados, como os produtos alimentares, e levar a inflação para 8,8% no quarto trimestre”.

O comentário dos analistas surge poucos dias depois da divulgação do aumento dos preços em Junho, que subiram apenas 1,4 pontos percentuais, para o nível mais baixo desde Março de 2022.

“Apesar de a inflação ter caído para menos de 7% face ao período homólogo pela primeira vez desde Outubro de 2021, antevemos que a taxa já vai começar a subir gradualmente no último trimestre do ano devido às importações necessárias ao recomeço do projeto da TotalEnergies e à depreciação do Metical”, concluem os analistas.

A inflação a um ano em Moçambique reduziu-se para 6,81% em Junho, de acordo com os dados divulgados na terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o valor mais baixo em 14 meses.

“A redução da inflação em Junho é explicada pela queda do preço dos cereais no mercado internacional e a maior oferta interna de frutas e vegetais”, lê-se no relatório sobre o Índice de Preço no Consumidor do INE, relativo a Junho de 2023, consultado pela Lusa.

Em Maio passado, a taxa de inflação a um ano em Moçambique tinha atingido os 8,23%, que, segundo o INE, foi então o valor mais baixo (crescimento mensal) em 13 meses.

Na comparação face ao mês anterior, de Maio, a taxa de variação mensal da inflação em Moçambique caiu 0,58%, mas o acumulado desde o início do ano aponta para uma subida de 2,57%, segundo o histórico do INE.

 

INFLAÇÃO AUMENTA E A FOME TAMBÉM

A consultora Oxford Economics Africa considerou recentemente que o aumento da inflação, em África, vai acentuar a situação de falta de alimentos e da fome.

As moedas africanas têm depreciado, nos últimos meses devido à queda global dos preços do petróleo, e prevê-se que vá continuar a depreciar-se

No comentário, enviado aos clientes, o departamento africano da Oxford Economics considera que “o impacto desta desvalorização vai começar a mostrar-se numa inflação moderadamente mais alta no segundo semestre deste ano, ainda que bem melhor que o aumento de preços.

Segundo alguns economistas, a desvalorização do câmbio é o segredo para impulsionar a indústria e o sector exportador de qualquer país. Ao desvalorizar-se o câmbio, segundo eles, as exportações são estimuladas e, liderada por um aumento nas exportações, a indústria volta a produzir e, por conseguinte, toda a economia volta a crescer.

O primeiro grande problema é que, no mundo globalizado, vários exportadores são também grandes importadores. Para fabricar, com qualidade, os seus bens exportáveis, eles têm de importar máquinas e matérias-primas de várias partes do mundo. Uma mineradora e uma siderúrgica têm de utilizar maquinaria de ponta para fazer os seus serviços. E elas também têm de comprar, continuamente, peças de reposição. O mesmo vale para qualquer indústria.

Se a desvalorização da moeda fizer com que os custos de produção aumentem – e irão aumentar -, então o exportador não mais terá nenhuma vantagem competitiva no mercado internacional.

Um país de moeda forte e estável envia um sinal bem diferente ao mundo: “tragam o vosso dinheiro; mandem para cá os vossos especialistas; construam as vossas fábricas aqui; ensinem-nos tudo o que vocês sabem; e riqueza que vocês criarem aqui voltará para vocês multiplicada e numa moeda que mantém o seu valor”.

E é exactamente por isso que uma moeda forte e estável é indispensável para o crescimento económico. Quando a moeda é estável, os investidores têm mais incentivos para se arriscar e financiar ideias novas e ousadas; eles têm mais disponibilidade para financiar a criação de uma riqueza que ainda não existe. O investimento em tecnologia é maior. O investimento em soluções ousadas para a saúde é maior. O investimento em infra-estruturas é maior.

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