O País – A verdade como notícia

Queremos celebrar contigo

Por: Dadivo José

 

Tlanguelani ku hanha

Hi ku a utomi I xigwa xaku lomba

Aku hanha swi tsandzili vanu missaveni

Vo djiyela va hoxa ni ntente

 

Celebrem a vida porque a vida é algo que temos por empréstimo

A vida é difícil que algumas pessoas acabaram caçando insectos para sobreviver.

 

Começamos justamente por citar esta receita da vida. Hortêncio mostra aqui o sentido da honestidade com que se deve viver. Já nascemos endividados porque estamos de passagem. O mais importante é a forma como rentabilizamos as nossas vidas. O nosso professor viveu num contexto de Kudakabanda… se fosse hoje diríamos, vivemos num contexto em que a macena ma hlanhili. Faz sentido que ele tenha aproveitado o ritmo e a melodia para recriar uma música que fizera para a campanha de valorização do metical em 1989, quando dizia: “dinheiro custa dinheiro, nunca se deve estragar, por isso cuida bem do seu dinheiro, ajuda o país”. Chamou-nos atenção e não entendemos. O metical despencou e veio o Kudakabanda, justamente o título do álbum lançado em 1998.

Queremos agradecer pela forma como o nosso amigo mereceu a confiança do seu credor da vida e o deu longos 70 anos, para devolver a vida donde levou por empréstimo. Como aquele indivíduo escolhido para codificar as nossas conquistas, as nossas dores, as nossas preocupações, se fez de poeta com humildade para devolver a esperança de amor. Com muita dedicação podemos viver o amor desde o plantio à colheita, como aconselha-nos em a Alirandzu. Falamos de humildade porque a forma como chora para a Teresa que se foi embora, a forma como descreve a beleza da nossa cidade em Maputo, a forma como educa a menina para não correr para o namoro antes do tempo, é típico de quem conhece a arte de manipular as palavras, mas, mesmo assim, como quem só sabe que nada sabe, olha para a sua musa e diz “quem me dera ser poeta meu amor, para te dizer palavas belas”. Prof, tu já eras um poeta, gingão e jovem. Tao jovem quanto as suas ideias inovadoras. Gravar com um menino da idade de Bakili (estudante de música da ECA), participar em tudo que fosse evento da ECA, desde música ao teatro, dar aulas com alegria e mestria, isso é coisa de jovens que sonham. Vamos sentir saudades disso. Os nossos olhos vão procurar o Honda Balade preto com matrícula MMS estacionado algures.  A certeza que temos é que vamos continuar a cultivar este Moçambique através da tua obra para que mais pessoas não se desviem da escola para serem Va nwatimbangue e vamos chegar lá e …, quando lá chegarmos … quando lá chegarmos, dançaremos ao som de Xipandanganda ou de Madjika. Estamos cientes das dificuldades que vamos enfrenta. Sabemos da guerra, a mesma que já tinhas denunciado em Nyandayeyo, que leva homens e mulheres a experimentarem um turismo geográfico forçado. Escalam montanhas fugindo dos homens armados, escondendo-se nas bandas de Malawi, Zâmbia e Zimbabwe, até sair rachas nos pés. Não adianta reclamação que está nos rostos de gente amordaçada, não adianta ver as lágrimas  das crianças absorvidas por uma terra impiedosa.  E só Nyandayeyo de um homem que, as vezes, desiste da vida, entregando-se ao álcool para esquecer a pobreza e guerra, e dormir sem sequer se reconhecer. Ni ta phuza ni k uga txotxovoloooo ainda que não seja a solução porque dia seguinte, os filhos estarão ali pedindo pão, pedindo uniforme e mais responsabilidades de um pai derrotado pelas dificuldades. Ainda bem que tu, colega, prof. Hortêncio, tio Hortêncio, mais velho… e mais designações que te permitias atribuir, foste sempre um exemplo para os teus meninos, esposa, netos e demais familiares, a quem endereçamos as nossas mais sentidas condolências e aproveitamos pedir que nos ajudem a celebrar este crédito que é a vida e contigo, todos os dias.

Um abraço tio Hortêncio.

Dadivo José, em nome dos docentes da ECA

Maputo, 16 de Abril de 2021

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