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“Quando um Estado ou um Governo, nem sei como dizer, nos persegue, a nossa vida pára”, diz Ângela Leão

Foto: O País

Durante aproximadamente quatro horas, a Procuradora Ana Sheila Marrengula colocou 80 perguntas a Ângela Leão. Os nomes Privinvest e Mulepe foram mencionados imensas vezes. Em geral, o Ministério Público pretendia, com a menção, compreender as eventuais conexões existentes entre as duas empresas, no que se refere à transição de dinheiro. Ângela Leão recusou-se a comentar sobre o dinheiro proveniente da Privinvest, reforçando que as suas construções não eram financiadas por aquela empresa. A ré reconheceu que é sócia da Mulepe. No entanto, nada sabe sobre o passado da empresa antes de se tornar sócia. E mais, disse que, na Mulepe, nunca se fez menção ao projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva.

Segundo Ângela Leão, a Mulepe tem sido acusada de ter recebido dinheiro da Privinvest, porque isso liga a empresa libanesa a ela, a Cipriano Mutota e a António Carlos do Rosário. Segundo disse, os três juntaram-se para criar a empresa que nunca funcionou. Por não ter funcionado, recusou qualquer relação de proximidade ou comercial com António Carlos do Rosário, que foi o seu professor no Instituto Superior de Relações Internacionais e colega do esposo no SISE.

Quando a Procuradora colocou perguntas sobre assuntos que envolvem a Privinvest e Fabião Mabunda, Ângela Leão voltou a sublinhar que não tem qualquer ligação à empresa.

A audição que começou por ser serena, quando foi conduzida pelo Juiz Efigénio Baptista, foi mais emotiva quando chegou a vez de o Ministério Público proceder ao interrogatório. Quando teve oportunidade, Ângela Leão disse que estava presa por causa do seu marido. Mas o Juiz recusou essa versão, lembrando que as mulheres dos outros réus não estão no tribunal. A ré voltou à carga imensas vezes, dizendo que estava a ser perseguida ou pelo Estado ou pelo Governo moçambicano.

“Quando um Estado ou um Governo, nem sei como dizer, nos persegue, a nossa vida pára”, afirmou a ré a justificar as razões de não ter submetido ao Ministério Público documentos contratuais exigidos, rubricados entre si e o réu Fabião Mabunda. “Não juntei os documentos, porque não tive tempo de o fazer. Fui detida e, nessa altura, deitaram-me numa cela sem luz, sem água, suja, e pedi que me ouvissem e não me ouviram. Na minha casa, estou a ser assaltada todos os dias. Neste momento, não tenho nem um sítio para colocar o meu filho, quanto mais para conseguir documentos”.

Ângela Leão foi presa a 7 de Março de 2019, e é acusada de branqueamento de capitais e associação para delinquir.

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