A produção do açúcar no país sofreu uma queda de 12%, devido à incidência de chuva, ciclones e as restrições impostas no âmbito da prevenção da COVID-19, na época agrária 2020-2021. A produção passou dos 306 mil hectares para 271 mil hectares.
A queda dos níveis de produção de açúcar encontra explicação nas cheias do vale do Incomáti, devido ao excesso de chuva causada pelo ciclone Idai e pela depressão tropical Eloise. Por outro lado, pesa a degradação das infra-estruturas de irrigação e as vias de acesso que afectaram a capacidade de manutenção dos aspectos agronómicos necessários para a cultura de cana-de-açúcar.
Sérgio Zandamela, presidente da Associação dos Produtores de Açúcar de Moçambique (APAMO), revelou ontem, durante um balanço, que a situação prejudicou bastante a produção, tendo contribuído para a perda de enormes quantidades de açúcar cifradas em mais de 200 toneladas.
Para isso, o gestor apela para que sejam criadas políticas de gestão de calamidades, cada vez mais frequentes, para se poder reverter o cenário de redução dos níveis de produção. “O país emprega cerca de 32 mil trabalhadores, em período de campanha, que trabalham nas fábricas e plantações de cana e serviços de apoio, ocupando cerca de 47 mil hectares de terra. Actualmente, existem mais de quatro mil pequenos agricultores, distribuídos em 16 associações, ao longo do país, cultivando uma área de 14 mil hectares”, disse.
A cadeia de valor desta indústria é de capital importância para a economia nacional, mas também para o desenvolvimento das comunidades, contribuindo para a renda de pelo menos 140 mil moçambicanos.
“A indústria açucareira está ciente de que é um sector-chave no sector da agricultura, com impacto no Produto Interno Bruto, na criação de emprego, de meios de subsistência, na arrecadação de divisas, na receita fiscal, na criação de novas oportunidades de investimentos para toda a comunidade a sua volta.
De acordo com dados do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, apesar da capacidade instalada de produção de 530 mil hectares, só em 2014 é que o país esteve próximo dessa capacidade, tendo atingido a fasquia de 425 mil toneladas. Para que se volte a estes níveis de produção, o subsector pede o acarinhamento do Governo, para se lutar contra determinados obstáculos, nomeadamente, importações ilegais, necessidade de expansão das áreas de produção de açúcar e redução da carga fiscal.
O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, diz que, apesar dos grandes desafios que o sector enfrentou na época passada, a indústria açucareira conseguiu manter-se em pé e superou inclusive as piores expectativas que tinha, avaliando pelos eventos climatéricos que o país viveu no ano em alusão.
“Num ano histórico de cheias e eventos não favoráveis para este sector, tínhamos consciência de que o sector ia passar por desafios muitos grandes, mas queremos felicitar pelos ganhos alcançados, mesmo em meio a tantos desafios. Incluiu nestas felicitações todos aqueles que contribuem na cadeia de valor, aqueles que, mesmo em condições deploráveis, trabalharam nos canaviais, pois, mesmo com a previsão em baixa, conseguiram manter-se firmes”.
Celso Correia disse ainda que o encontro que manteve com produtores de açúcar, sindicatos e diversas entidades da cadeia de valor visa desenhar estratégias, por forma a identificar os principais desafios do sector e, em conjunto, encontrar soluções.
Durante o encontro, alguns pequenos produtores pediram ao Governo que olhasse para o trabalhador, através de aumento salarial, pagamento de bónus e, acima de tudo, as indústrias devem tomar em consideração as comunidades onde elas estão inseridas.
Moçambique conta, actualmente, com quatro unidades fabris de açúcar, nomeadamente em açucareira de Mafambisse, Maragra, Xinavane e Marromeu e é auto-suficiente na produção do açúcar refinado castanho e branco e ainda exporta o excedente.