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Venâncio Mondlane propõe pedido de desculpas e indemnizações às vítimas das manifestações na agenda com PR

Venâncio Mondlane propõe como agenda do encontro presidencial com os quatro candidatos presidenciais, um pedido de desculpas e indemnização às vítimas e as famílias dos manifestantes mortos, a responsabilização criminal dos actos da falsificação do processo eleitoral e a reposição da verdade e justiça eleitorais, razões que deram razão às

O presidente da Renamo, Ossufo Momade, solicitou, esta segunda-feira, na Cidade de Maputo, a anulação imediata do processo eleitoral, em Moçambique, pois, segundo disse, o mesmo “não reflectiu a vontade legítima do povo” moçambicano. Ossufo Momade apelou que os órgãos da Justiça tomem decisões que garantam paz e reconciliação nacional.

Ossufo Momade falou hoje à imprensa, na capital do país, onde lamentou o momento atípico em que Moçambique vive e disse estar preocupado com o silêncio das autoridades. “Preocupa-nos o silêncio do órgão que representa o povo, assistindo à chacina de moçambicanos pela polícia, muitos dos quais sem participar directamente das manifestações. É tempo de a Assembleia da República se reunir em defesa do povo que diz representar”, apelou o presidente da Renamo.

Um apelo que estendeu também a Procuradoria-Geral da República (PGR) e às instituições de defesa.

Ossufo Momade disse que o seu partido, a Renamo, é por manifestações pacíficas, sem derramamento de sangue e, por isso, solicita a anulação imediata de todo o processo eleitoral. “Repito e sublinho, estamos aqui para solicitar a anulação imediata deste processo eleitoral. Aos olhos de todos e da comunidade internacional, somos unânimes em afirmar que o mesmo não reflectiu a vontade legítima do povo, por vários motivos, que são por todos nós conhecidos”, sublinhou o político.

O número um do partido da Perdiz apela aos órgãos da justiça para que tomem decisões que garantam a paz, a reconciliação nacional e que defendam os mais altos interesses dos moçambicanos no seu todo, respeitando a vontade popular.

Momade garantiu que a exigência pela anulação não é uma acção leviana, nem movida por interesses pessoais ou partidários, mas “é um apelo à ética, à justiça e à verdade”. E ainda acrescentou: “Temos evidências que apontam para práticas que comprometem a lisura do processo eleitoral. Desde o enchimento de boletins de votos, falsificação de editais e de resultados, detenção dos delegados de candidaturas, apuramento sem a presença de delegados de candidaturas, dos partidos políticos e da oposição, mortes causadas pela polícia, perseguição e assassinato de opositores, privação de direito à manifestação, privação de direito à informação em internet, fraudes, coerção, desinformação, etc”.

Para o presidente da Renamo, Ossufo Momade, os factos por si mencionados devem ser “tratados” com a devida seriedade, para que não criem precedentes perigosos para o futuro da democracia e da intolerância e extremismo em Moçambique.

Ossufo Momade disse ainda que “a anulação desta eleição não significa desligar a voz do povo, mas assegurar que esta voz seja ouvida de forma clara e inquestionável”.
O presidente da Renamo fez também uma exortação para que os órgãos competentes analisem com atenção e imparcialidade e as evidências apresentadas e que tenham a coragem de tomar a decisão que melhor sirva aos interesses da verdade e da justiça para os moçambicanos.

A Renamo propôs um Governo de Gestão para assegurar o pleno funcionamento das instituições, enquanto o país se prepara para a realização de eleições livres, justas e transparentes.

“A Renamo é pela dissolução do actual modelo de gestão eleitoral, dos órgãos eleitorais, porque ficou provado que são estes autores ideológicos, materiais e morais da instabilidade pós-eleitoral”, disse Ossufo Momade.

O Líder da Renamo não parou por aí, deixou também um convite para que “durante um período de dois anos a sociedade, os académicos, todos os parceiros de cooperação nacional e as organizações internacionais a contribuírem de forma que tenhamos um modelo de gestão eleitoral, que transmita confiança aos moçambicanos”.

Os pronunciamentos do presidente da Renamo ocorreram numa altura em que o país enfrenta uma onda de manifestações, protestos e violência nas ruas, decorrentes dos resultados das eleições, anunciados no mês passado, pela Comissão Nacional de Eleições, e que deram vitória ao candidato presidencial Daniel Chapo e o seu partido Frelimo.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, apelou, ontem,  à contenção por parte das autoridades moçambicanas e que a expressão das diversas opiniões e posições seja feita pacificamente.

“Em relação a Moçambique, o meu apelo é, naturalmente, um apelo à calma, um apelo a que a expressão das diversas opiniões e das diversas posições se faça pacificamente e que as autoridades tenham também a contenção necessária, para garantir que os problemas de Moçambique sejam resolvidos, como disse, em paz e no respeito pelo funcionamento das instituições”, disse Guterres.

O pronunciamento do líder das Nações Unidas teve lugar dois dias depois de uma declaração de especialistas independentes da organização que defende que os protestos pacíficos deveriam prosseguir sem perseguição.

António Guterres encontra-se no Rio de Janeiro para participar na cimeira de líderes do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo.

No sábado, a plataforma eleitoral Decide estimou que 22 pessoas morreram, mais de metade em Maputo, em três dias de manifestações de contestação aos resultados das eleições gerais moçambicanas de 09 de outubro, além de 23 baleados e 80 detidos.

O presidente da República, Filipe Nyusi, diz que a cada momento que o empenho pela paz for colocado à prova, a resiliência cresce e fortifica a nação. Filipe Nyusi falava, hoje, durante a cerimónia de graduação dos cursos militares, no Instituto Superior de Estudos de Defesa Tenente-General Armando Emílio Guebuza, onde apelou que os moçambicanos apoiassem a selecção nacional no jogo de hoje contra o Mali.

Filipe Nyusi dirigiu, hoje, a cerimónia de graduação dos cursos militares de Estado-Maior conjunto e o curso de Promoção a Oficial Superior. Durante o seu discurso, o Comandante em Chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique felicitou aos graduados e apelou à resiliência. 

“Como nação, conseguimos superar desafios e temos de continuar nesta senda, mas devemos recordar que, se em cada momento o nosso empenho na paz for colocado à prova, a nossa resiliência cresce e saímos cada vez mais reforçados. Em momentos atribulados e de desafios, a unidade se torna não só importante,  mas essencial. O nosso futuro, a nossa nação, as nossas famílias, os nossos filhos  chamam cada um de nós para darmos mais um passo em frente com dedicação e esperança”, disse.

Filipe Nyusi exortou os oficiais graduados a dedicarem-se “com maior brilho e afinco no alcance dos objetivos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique”, e reiterou as suas felicitações. 

“Essa foi a orientação última que dei, precisava-se de mais comandantes no terreno, para refrescar aqueles que estão lá, não para sair, mas sim para refrescar. Como vocês todos sabem, o vosso empenho vai ser necessário, vão ser brevemente empenhados naquelas missões, terão que fazer com brilho, com profissionalismo, como aqui foram muito bem treinados, ensinados e ensaiados”, apelou Nyusi aos graduados. 

O Presidente da República apelou também que os moçambicanos fossem apoiar os Mambas, jogo contra o Malí, marcado para hoje, no Estádio Nacional do Zimpeto. 

“Quero aproveitar este momento para convidar a todos moçambicanos para logo às 18 horas, sobretudo aqueles que puderem, para irmos apoiar o nosso clube, a nossa equipe (…) o patrocinador dos Mambas ofereceu mais de 12 mil bilhetes e estão a levantar, seria bom ir aproveitar esses bilhetes para noite, porque nós queremos boas coisas em Moçambique”, apelou Nyusi. 

 

O Partido Renamo diz que já identificou todos os agentes da Polícia que protagonizaram os baleamentos que tiraram a vida a três pessoas e feriram várias outras durante as manifestações em Nampula, nesta quarta-feira. O partido considera os baleamentos como um “massacre” e prometeu que nenhum Polícia que atirar contra as populações ficará impune.

Quarta-feira foi o primeiro dia da quarta fase dos protestos nacionais contra os resultados eleitorais, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane. Durante as primeiras horas do dia, em quase todo o país, as manifestações pareciam pacíficas, com excepção de Namicopo em Nampula, onde foram baleadas oito pessoas, das quais, três morreram e as restantes ficaram gravemente feridas.

“Em Nampula, mais de oito pessoas foram vítimas de baleamento dentro das suas residências, e hoje, igualmente, enquanto uma das crianças era levada para a sepultura, a polícia baleou todos que acompanhavam o corpo desta criança para a sua última moradia. Esses actos desumanos, macabros, de irresponsabilidade e de falta de sentimento de Estado, para nós, como Renamo, condenamos e queremos garantir que todos que estão envolvidos sejam responsabilizados”, disse Marcial Macome, porta-voz do partido.

Para a “Perdiz”, os actos protagonizados pela polícia são um massacre cometido a mando do partido Frelimo.

“A Renamo é pela paz, pela concórdia, mas não pode tolerar que o povo seja massacrado, mesmo quando o povo se manifesta pacificamente ou estando nas suas residências. Queremos chamar atenção do governo que não há memória no mundo de armas que tenham acabado com a vontade popular”, referiu.

E não matar a vontade, para a Renamo, significa respeitar o direito da manifestação, da livre circulação, do direito à integridade e, sobretudo, do direito à vida, que não foram respeitados no dia de ontem e de hoje, durante as cerimónias fúnebres de uma das vítimas onde houve mais baleamentos.

“A vontade da população é a vontade de Deus e deve ser respeitada. O povo não quer outra coisa senão viver num país com boas políticas sectoriais, que garantam a estabilidade do desenvolvimento económico do seu país. O que o povo quer é ter liberdade de escolher livremente os seus dirigentes e ser respeitada a sua vontade. Quando o povo se apercebe que o seu voto é desviado, tem, sim, o direito de se manifestar”.

Também a Renamo alerta que o povo não só se manifesta contra os resultados eleitorais, como também defende melhores condições para o próprio Polícia.

“Este povo manifesta-se também pelas condições laborais e salariais desta mesma polícia, que hoje é obrigada a disparar contra os seus próprios irmãos”, sublinhou.
A Renamo diz que não há dúvidas de que a Polícia tem sido orientada para “massacrar” a população, uma vez que, em Quelimane, sob orientação do edil, Manuel de Araújo, foi realizada uma marcha de 47 dias, mas não houve qualquer queixa de violência ou vandalismo. Entretanto, ontem, o edil e seus apoiantes, depois de terem emitido um pedido para uma marcha pacífica, foram impedidos com disparos.

“O que aconteceu, ontem, em Quelimane, onde as populações marchavam com o cabeça de lista, Manuel de Araújo, constitui uma demonstração clara de que o problema, em todo o país, não está com os manifestantes, mas, sim, com a Polícia que recebe ordens de um partido para que de tudo faça para impedir que os manifestantes gozem do seu direito constitucional e buscam puxar-nos para o monopartidarismo contra o qual lutamos’’, acusou.

Assim, a conclusão do partido é de que “houve uma irresponsabilidade da polícia e precisa ser responsabilizada criminalmente e isto não iremos deixar passar. Estão identificados os que protagonizaram essas agressões contra as populações indefesas, pelo que, a Renamo e seu presidente, de tudo farão para colocar esses que mataram as populações nos tribunais nacionais e internacionais”, sustentou.

A Renamo, por fim, reafirmou que as manifestações só vão parar quando a “verdade eleitoral” for reposta.

“O Povo exige e continua a exigir a verdade eleitoral, o direito à circulação, o direito a uma saúde justa, e, por isso, não vemos motivos para que ele seja apedrejado. O Povo reivindica a liberdade do voto, condição ideal para garantir a democracia multipartidária”.

Brazão Mazula diz que a Comissão Nacional de Eleições foi precipitada e politicamente ingénua ao divulgar os resultados das eleições sem corrigir as irregularidades. O antigo Presidente da CNE fala de falta de vontade política para tornar o processo eleitoral transparente e propõe que, no órgão, os políticos sejam substituídos por juízes e advogados.

São 60 minutos de uma grande entrevista em que o antigo presidente da Comissão Nacional de Eleições analisa a crise pós-eleitoral com o olhar de quem já dirigiu a máquina de administração eleitoral em Moçambique. 

“Eu diria que a CNE se apressou e foi também politicamente ingénua na divulgação dos resultados com os quais não concordava. Este é um grande erro da CNE”, disse Brazão Mazula. 

Outro erro que aponta para o nosso sistema eleitoral é o tempo de divulgação dos resultados finais. Mazula questionou porque Moçambique tem que ser o único a levar muito tempo para contar os votos. 

“A contagem dos votos é um processo matemático e técnico. Estamos a contar desde o dia 9 do mês passado. Hoje são 12, mais de um mês, e ainda temos de esperar mais 20 dias”, disse. 

O antigo presidente da CNE disse ainda que houve propostas de solução para reduzir o tempo de contagem dos votos, mas a resposta não foi positiva. 

“Numa das eleições passadas, não digo estas, não vou dizer qual, em que esteve algum tempo um representante, o chefe da observação da Commonwealth. Porque olha, a Commonwealth poderia apoiar Moçambique para tecnicamente reduzir o tempo de contagem de votos. Sabe qual foi a resposta que lhe foi dada? O nosso processo não é técnico, é político. O que é que isto significa? Significa que se for técnico, daqui a dois ou três dias teremos os resultados. Mas é político fazer jogadas. Hoje a juventude fala de boladas”, explicou. 

Brazão Mazula é da opinião de que Moçambique deve aprender com esta crise pós-eleitoral e mudar de vez a composição da Comissão Nacional Eleitoral.

“A composição da CNE deve provir da magistratura judicial e da ordem dos advogados. O sistema judicial e a ordem dos advogados deveriam compor a CNE…Porque é uma carreira ou uma profissão que está obrigada a estar isenta de julgamentos”. 

Também ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Brazão Mazula, falava durante o programa Grande Entrevista da STV.

O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural diz que houve muitos avanços no seu pelouro durante o ciclo governativo que termina. Celso Correia diz que há trabalhos que estão a ser feitos para que Moçambique deixe de depender de outros países para ter bens alimentares.

O ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural realizou o seu Conselho Coordenador para avaliar os ganhos que teve no sector. Celso Correia, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, destacou alguns factores que contribuíram para o pouco sucesso que o seu pelouro teve no ciclo governativo.

“Relembro que, a nível da agricultura, iniciámos a implementação do nosso programa quinquenal com a incidência de choques climáticos severos. Vínhamos do Idai, que já tinha deixado marcas que se fizeram sentir nos anos subsequentes, mas ao longo destes cinco anos destacaram-se negativamente as cheias e inundações do ciclone Elouise, do Guambe, do Freddy, as tempestades Ana e outras mais. Outros factores que determinaram a nossa intervenção e a nossa acção no sector da agricultura foram, naturalmente, o conflito e o ambiente de conflitos que se vive na Ásia e na Europa. Houve um factor determinante durante estes cinco anos, em que praticamente dois deles nós estivemos em casa, com a COVID-19. Não se faz agricultura em casa, faz-se agricultura no campo. Não posso deixar de mencionar o terrorismo na província de Cabo Delgado, que igualmente condicionou em grande maneira o desempenho da agricultura na província”, disse Celso Correia.

Porém, apesar das adversidades, Celso Correia assume que houve muitos aspectos positivos nas actividades do ministério. “Acima dos 5%, fomos recuperando a nossa trajectória, a nossa tendência de crescimento e porque a agricultura representa 25% do PIB a nível nacional, foi o sector da agricultura que contribuiu, também, em grande medida para a retoma do crescimento da nossa economia nacional”, referiu o ministro da Agricultura.

Em termos de progressos, Correia salientou o uso de tecnologias e de fertilizantes melhoradas, no âmbito do projecto Sustenta, que ajudaram a melhorar a vida dos moçambicanos.

“Houve um crescimento de três vezes mais em termos de produção de semente. O aumento do uso de semente certificada, que é uma tecnologia importante para a melhoria da produtividade. O país, há cinco anos, tinha um consumo de semente certificada de 3,7 mil toneladas e agora está com 15 mil toneladas. Igualmente, e a testar este sinal é o uso de fertilizantes, que eram de 108,3 mil toneladas e agora estamos com cerca de 164 mil toneladas de uso de fertilizantes em todo o território nacional”, destacou.

E porque Moçambique tem alguma dependência de importação de produtos alimentares, como os da África do Sul, por exemplo, Celso Correia diz que há avanços que estão a ser feitos para que essa dependência deixe de existir.

O ministro diz que “temos alguma produção nossa também a entrar no mercado da cidade de Maputo, como é o caso do tomate, que vem da Gaza. Temos milho também, temos hortícolas, acima de tudo que entram particularmente no mercado de Zimpeto”. No entanto, de acordo com Celso Correia, “temos de melhorar a nossa competitividade para podermos competir”.

Mas há mais que se faça: “Nós temos de ajudar os produtores a melhorar a qualidade, porque o mercado também determina este exercício, mas é um trabalho gradual. Nós ainda não temos tecnologia suficiente para permitir a produção em estufa, fora da época, e os sul-africanos têm, então quando o clima muda em Moçambique, o abastecimento local desaparece, deixando-nos à mercê do abastecimento externo”, justificou Correia.

Outro factor que foi destacado pelo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural é o efeito do fenómeno El Niño no país. “Grande parte da agricultura em Moçambique é naturalmente dependente da chuva, depende do nível de chuva, e este ano vamos ter a mudança para o El Niño. Todos os dados que temos em nossa posse indicam que vamos ter boa precipitação, que permite dar a cobertura necessária, em tempos diferentes ao longo do território nacional. Na zona Sul, já começou a chover, conforme podemos testemunhar, e na zona centro e norte o tempo de lançamento da sementeira vai ser um pouco mais tarde”, garante.

E com optimismo, Celso Correia diz que “a expectativa é que na próxima campanha nós possamos ter um bom clima e isto vai ter um impacto positivo na produção”.

O V Conselho Coordenador do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural decorre sob o lema “Agricultura Sustentável, transformando vidas”.

O vice-presidente da CNE, Fernando Mazanga, desconhece o conteúdo do expediente submetido ao Conselho Constitucional, em resposta às discrepâncias existentes entre o número de votantes e números de inscritos nas eleições gerais, uma vez que o assunto não foi debatido em plenária. Mazanga diz também que há um grupo dentro da CNE com o objectivo de encobrir as ilegalidades eleitorais cometidas pelo STAE.

A Comissão Nacional de Eleições tinha até sexta-feira, 8 de Novembro, para a submissão da explicação ao Conselho Constitucional sobre a disparidade entre o número de votantes nas três eleições realizadas no dia 9 de Outubro, nomeadamente, presidenciais, legislativas e de governadores provinciais. A CNE fê-lo, porém, fora das regras, segundo o vice-presidente do órgão.

Fernando Mazanga afirma desconhecer o conteúdo do ofício enviado ao Conselho Constitucional, uma vez que não houve debate em sede da plenária.

“O assunto foi enviado sem que tivesse havido um debate dentro da mesa e quiçá, um debate dentro da plenária da Comissão nacional de Eleições, que é o órgão máximo da Comissão Nacional de Eleições, que é o órgão máximo, é superior ao presidente da CNE, é superior a mesa, portanto tinha de ser o conjunto de todos os membros a terem conhecimento, a ser socializada a matéria para permitir que tudo fosse correspondente àquilo que terá sido a constatação desses membros da da CNE”, explicou Mazanga.

O não envolvimento da plenária, composta por 17 membros da CNE, incluindo o director Nacional do STAE e seus adjuntos, é um ferimento à Lei Eleitoral, denuncia Mazanga, que diz que o facto pode significar tentativa de cobertura de anomalias técnicas cometidas pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral.

“Porque ficou claro, mais uma vez, que esta acção foi feita no STAE, mas há algumas pessoas dentro da Comissão Nacional de Eleições que saem em protecção do STAE, porque o STAE é ele que ficou nos trouxe essas discrepâncias, é o STAE que trouxe esses resultados eleitorais, é o STAE que, através da projecção de um quadro, condicionou os membros da CNE a terem o detalhe, a terem o detalhe de analisar como é que terá sido todo o processo”, acusou.

Sobre a posição do Conselho Constitucional face ao cenário, Mazanga acredita no bom senso do órgão e respeito pela legalidade. “Mesmo com todos os defeitos que possamos encontrar, com todas as imperfeições ainda há uma nesga de esperança de que alguma coisa possa ser feita”, disse.

Mas essa esperança traz algumas dúvidas porque, para Mazanga, o principal questionamento, neste momento, é como é que o Conselho Constitucional vai corrigir o problema dessas ilegalidades no processo eleitoral.

“O que me coloca em dúvida é como é que vai ser possível o Conselho Constitucional separar a sujidade de uma parte. Quando nós lavamos as mãos, eu lavo as mãos, o jornalista lava as mãos na mesma bacia, e depois eu dizer “tira a sua sujidade”, não sei se será capaz de tirar a sua sujidade. Este é o dilema com qual o Conselho Constitucional se vai debater, porque, na verdade, é preciso trazer se vai catar a sujidade de cada um ou vai preferir deitar toda a água.”

Os resultados publicados pela CNE não são conclusivos, e caberá ao Conselho Constitucional reprovar ou validar.

O Partido Povo Optimista para Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), diz que o Conselho Constitucional está a ser injusto e ilegal por ignorar algumas fases da reclamação submetida pelo partido a reivindicar a sua vitória e do seu candidato persidencial, Venâncio Mondlane. O PODEMOS garante, igualmente, a continuidade das manifestações até que “haja reposição da legalidade eleitoral”.

O Partido Povo Optimista para Desenvolvimento de Moçambique, (PODEMOS) chamou a imprensa para dar a conhecer a sua posição em relação à resposta do Conselho Constitucional ao recurso interposto em relação à disparidade dos números de votantes nas três eleições de 9 de Outubro, nomeadamente presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais. Para este partido, o acórdão do Conselho Constitucional é ilegal e injusto, até porque:

“De acordo com a nossa legislação, o recurso é uma prerrogativa que os entes cidadãos têm, para diante de um inconformismo, eles verem os seus direitos ressarcidos. Então, o Conselho Constitucional, em completo desalinhamento com a lei decidiu não apreciar o nosso recurso e mandou o recurso para fazer figurar na segunda fase. No escopo da Lei Eleitoral e da Constituição da República, o CC tem dois momentos: o primeiro, apreciar as reclamações e recursos, finalizados, passa a fase da validação e antes de fazer isso não se passa para a fase da validação. O Conselho Constitucional decidiu analisar o nosso recurso na fase da validação e isso constitui um atropelo à lei”, acusou Dinis Tivane.

Ou seja, o Conselho Constitucional está a faltar com verdade em relação à posição legal dos vencedores do escrutínio.

“O Conselho Constitucional tem que se conformar com a lei, portanto, entrou um recurso, ainda que pareça doloroso dizer que a Frelimo perdeu, que a CNE fez um mau trabalho, é essa consequência que tem que acatar. Se a Comissão Nacional de Eleições deixou de fazer o seu trabalho, e se efectivamente o número de pessoas que votaram a favor do Venâncio Mondlane e do PODEMOS é superior ao número de pessoas que votaram em Daniel Chapo e a Frelimo, então, nós fizemos uma reclamação para pedir nulidade dessa decisão”.

Relativamente às manifestações que acontecem no país, o PODEMOS diz continuar alinhado com Venâncio Mondlane, e que as mesmas vão continuar até a reposição da verdade eleitoral. “Na senda da pressão pela justiça eleitoral, nós vamos continuar a fazer as nossas marchas, separadas do vandalismo que tem estado a surgir. As instituições estão a trabalhar no processo para que possam ir à justiça”.

E, quanto a violência e pilhagem que tem caracterizado os propostos em Maputo, Albino Forquilha diz, “dissemos que no dia 07 faríamos a manifestação e aconteceu. E, as manifestações pacíficas vão continuar e não se podem associar ao vandalismo. Aquilo que está a acontecer não é desejável, mas quem começa com a violência é a Polícia.

Mas, porque os líderes do PODEMOS não são vistos nas manifestações na capital do país? Em resposta à pergunta, Forquilha diz que os membros estão a participar. “A marcha é popular, em todo o canto há pessoas a marcharem, então participamos. O descontentamento não é apenas dos membros do PODEMOS, é popular e há muita solidariedade e nós estamos felizes com isso”. Além de se alegrar com a adesão nas marchas, Forquilha assegurou que todos sabem que são os reais vencedores, “muitos que estavam nas mesas de voto e os que divulgaram sabem quem ganhou”.

O PODEMOS denunciou ainda o desaparecimento de três membros do partido que vinham da Zambézia. “Isso me parece um sequestro, uma ilegalidade. E se um sequestro desses é feito por pessoas que fiscalizam as vias, só por saberem que a pessoa é de certa província e é do PODEMOS, a nossa posição é exigir que haja esclarecimento, queremos saber onde param os nossos compatriotas”, exigiu Forquilha.

Para já, e segundo o PODEMOS as manifestações continuam e sem data para o seu fim, sendo que o limite será o que chamam de reposição da verdade eleitoral.

Lutero Simango, um dos quatro candidatos a Presidente da República, pede a recontagem dos votos e posterior comparação com os editais nas actas, para verificar se os resultados publicados correspondem à vontade popular. Simango diz ainda que, em último caso, se pode recorrer a anulação das eleições, para credibilizar o processo. 

Falando à imprensa sobre as manifestações, o candidato presidencial do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango disse reconhecer os problemas do país, que, na sua opinião, derivam das más políticas, discriminalização, exclusão e marginalização dos jovens na gestão dos recursos, perda de credibilidade das instituições públicas e na administração pública.

Contudo, Simango disse ser importante olhar para as causas, que levam a população à rua, para manifestar. “A causa destas manifestações,que ocorrem em todo o país, são os resultados eleitorais, na posse do Conselho Constitucional, que não reflete a vontade popular e expressão dos eleitores nas urnas e a ausência da justiça eleitoral”. 

Para Simango, a causa fundamental da tensão pós-eleitoral, que se vive no país, é a intolerância política, associada ao abuso do poder e aos altos níveis de pobreza. “A situação sociopolítica de Moçambique hoje não é igual à dos anos passados”, disse. 

O candidato presidencial acredita que as únicas formas de “consertar o problema eleitoral” é a recontagem dos votos e posterior comparação, para saber se os resultados publicados correspondem, de facto, à vontade popular, e em último caso a anulação das eleições. 

Lutero Simango explicou também que o uso da força, para reprimir o desejo popular, só vai gerar ainda mais violência. “Havendo diálogo, esse diálogo deve ser inclusivo, participativo e engajador”, concluiu. 

Refira-se que ontem foi o último dia da terceira fase das manifestações gerais, convocadas por Venâncio Mondlane, em contestação aos resultados eleitorais.

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