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Ossufo Momade exige intervenção da PGR para travar irregularidades no recenseamento eleitoral

Foto: O País

Os últimos dias foram férteis para denúncia de alegadas irregularidades no processo de recenseamento eleitoral, com enfoque para eleitores migrantes, situação de pessoas que recebem cartões à calada da noite, entre outras queixas dos partidos da oposição. O presidente da Renamo, Ossufo Momade, quebrou, na quarta-feira, o silêncio e instou a Procuradoria da República a agir de forma firme em defesa do Estado moçambicano face às alegadas irregularidades que estão a ocorrer no processo de recenseamento eleitoral.

Momade recordou que foi por situações idênticas e tantas outras que perigam a democracia que o maior partido da oposição recorreu às armas para protestar contra aquilo que chamou de manipulação do processo em curso pelo partido no poder. Ossufo Momade foi mais longe, ao afirmar que “não somos pela guerra, mas, se for pela defesa do interesse do povo, não temos medo”.

O líder da Renamo frisou que “o regime da Frelimo nunca quis alternância governativa”. Para Momade, “com a amputação multipartidária, o exercício do direito e liberdade dos cidadãos fica em causa. E, sistematicamente, manipulam os cidadãos. É nesta senda em que surgiu o conflito político recém-terminado que forçou Afonso Dhlakama a refugiar-se nas matas de Gorongosa. Não nascemos para fazer guerra. Mas, quando for necessário, em defesa dos superiores interesses do Estado e do povo moçambicano, não temos medo da guerra”, advertiu.

Pede, por isso, uma intervenção da guardiã da legalidade no país, neste caso a Procuradoria-Geral da República. “As irregularidades que estão a acontecer no processo eleitoral devem merecer responsabilização criminal dos seus autores. Por isso, instamos a PGR a intervir em defesa do Estado moçambicano”, apelou o líder da perdiz. Ossufo Momade lamentou ainda o suposto silêncio da sociedade civil e de confissões religiosas.

O presidente da Renamo espera destes actores um maior envolvimento e fiscalização do processo. “A sociedade civil, os cidadãos e as confissões religiosas devem travar a ditadura que mata o bem comum. Estranhamos o silêncio das forças vivas da sociedade perante as graves irregularidades que são diariamente reportadas no país.”

O líder da Renamo, Ossufo Momade, que falava em Magundi, terra natal de Afonso Dhlakama, antigo presidente deste partido, durante a celebração de cinco anos após a sua morte, criticou ainda os resultados apresentados pela Comissão de Reflexão sobre as Eleições Distritais. “Então, sem surpresas, o partido no poder pretende a todo o custo colocar em causa a Constituição da República para inviabilizar as eleições distritais por medo de uma derrota vergonhosa.”

“Em relação aos cinco anos sem Afonso Dhlakama, Momade reconheceu o contributo do mesmo, de André Matsangaissa e todos os combatentes da Renamo na construção de um país democrático.É um momento importante para reconhecer e homenagear essas figuras que nunca morrem.”

As cerimónias alusivas aos cincos anos sem Afonso Dhlakama contaram com a participação de membros, simpatizantes e familiares, tendo sido marcadas por dois momentos, nomeadamente deposição da coroa de flores na campa do malogrado e uma missa.

QUADROS DA RENAMO APELAM AO DIÁLOGO

A passagem dos cincos anos sem Afonso Macacho Marceta Dhlakama é marcada por momentos conturbados no maior partido da oposição em Moçambique com combatentes, liderados pelo antigo chefe do Estado-maior, que durante décadas foi homem de confiança de Dhlakama, se opõem à liderança do Ossufo Momade.

Os mesmos dizem que não reconhecem Ossufo Momade como presidente. Entretanto, alguns quadros da Renamo ouvidos pelo “O País” consideram que o posicionamento de alguns combatentes é resultado de uma fraca comunicação entre as lideranças do partido e os membros da base a vários níveis.

“Como partido político, como família, devemos saber que situações destas ocorrem. Cabe a nós resolvermos. Não temos que procurar culpados. O que temos que fazer é procurar soluções”, disse, convicto, André Magibire, antigo secretário-geral da Renamo.

Quem também advoga o diálogo é Manuel Bissopo, figura que também ocupou o cargo de secretário-geral da Renamo. “Isto resulta da falta de comunicação. Tem que haver uma solução. Precisamos de promover o entendimento”, apelou.

Por sua vez, Ivone Soares disse que, “quando os membros do partido se pronunciam nestes termos, temos que procurar saber o que está a acontecer. Isso tem que ser por via do diálogo. Temos que ouvir o seu sentimento”.

Entretanto, Thimosse Maquinze, que esteve presente nas cerimónias e até chegou a ser saudado pelo líder da Renamo, afirmou que o posicionamento dos combatentes se mantém, ou seja, não reconhecem o actual presidente do partido. Afirmou ainda que não houve nenhum diálogo com a liderança do partido.

“Reiteramos que Ossufo Momade deixou de ser presidente no passado dia 15 de Abril. Sobre as viagens que ele continua a fazer como líder do partido, está a violar a decisão que já tomámos. Ele já não é presidente. A Renamo está sem presidente. Continuamos em contactos para a realização de um congresso extraordinário para a eleição do novo presidente”, garantiu.

O “País” sabe que a Renamo deverá reunir-se brevemente em Conselho Nacional e um dos pontos de agenda que será debatido é o descontentamento de alguns membros do partido.

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