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Onze jornalistas foram violentados no país em 2022

Pelo menos 11 jornalistas foram violentados ano passado no país, segundo dados apresentados, hoje, pelo MISA Moçambique. Embora os casos tenham reduzido face ao ano 2021, o cenário inquieta os media.

Os casos recorrentes de violência contra jornalistas e empresas de comunicação social dominaram, hoje, o Dia da Liberdade de Imprensa em Moçambique, num seminário alusivo à efeméride organizado pelo Misa Moçambique na Cidade de Maputo.

Numa sala composta por alguns jornalistas decanos, o director executivo do Misa Moçambique deu a conhecer que o número de casos de violência reduziu de 23, em 2021, para 11, em 2022. No seu entender, factores políticos explicam a situação.

“A questão da cultura política autoritária, muito vigente no nosso contexto, demarca muito aquilo que é a expectativa dos actores políticos em relação aos jornalistas. E quando essas expectativas não se vêem realizadas, esses actores usam o poder que têm para coartar a liberdade de imprensa”, disse Ernesto Nhanale.

Segundo um relatório resultante de uma pesquisa feita pelo Misa Moçambique, “as agressões físicas e o estabelecimento de um quadro legal ‘ruidoso’  ao jornalismo e ao espaço físico, em nome da prevenção e combate ao terrorismo e ao branqueamento de capitais, reforçam o medo e as incertezas quanto ao futuro do país relativamente ao exercício de direito e liberdades fundamentais”.

Para o jornalista Salomão Moyana, participante no seminário de hoje, a ausência de jornalistas mais antigos e experientes no terreno é a razão da recorrente violência contra os profissionais da comunicação social, uma ideia rebatida pelo jornalista Paul Fauvet.

“O jornalismo ficou uma paisagem em que qualquer autoridade com 20 anos de cargo, no poder, pode tentar perguntar ‘de que ano você é? Quando é que você começou a fazer-me esse tipo de perguntas?’ E o jovem jornalista vai tremer. Eu não acredito que um Polícia pudesse desrespeitar o jornalista Rogério Sitoe”, defendeu Salomão Moyana.

Em jeito de reacção, Fauvet referiu que “eu não concordo com essa ideia segundo a qual o problema do jornalismo resulta de os mais velhos não estarem no activo, nas redacções. O problema é mais profundo que isso. No passado, as pessoas que entravam no jornalismo tinham um certo compromisso com a verdade, com o país e alguns até se consideravam nacionalistas”.

Na ocasião, juntou-se ao debate outro jornalista, também decano, Rogério Sitoe. No seu entender, para que se faça a análise em causa, é preciso distinguir as formas de violência contra os jornalistas da ética e deontologia profissional da classe.

“Os problemas da ética e deontologia profissional são evidentes. Tratemo-los à parte. A problemática da violação dos direitos de liberdade de imprensa é outra parte. Em algum momento, vamos fazer com que se encontrem. Quando entrei no jornalismo em 1980, o paradigma era o jornalismo como vocação. Era o que a sociedade produzia como paradigma da época. Hoje, o jornalismo é como um emprego, um desenrascado, mas é a sociedade que nós temos. A questão é: como é que nós lidamos com isso?”, reflectiu o jornalista Rogério

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