O País – A verdade como notícia

ONU diz que violência no Sudão é uma mancha na história dos direitos humanos

O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos classificou a violência na cidade sudanesa de El-Fasher como uma mancha no historial da comunidade internacional, que se revelou incapaz de travar as hostilidades.

As atrocidades que estão a ocorrer em El-Fasher eram previsíveis e poderiam ter sido evitadas, mas não foram. Estes são dos mais graves crimes. O meu gabinete emitiu mais de 20 comunicados só sobre El-Fasher no último ano, com base em informações verificadas pela nossa equipa”, referiu o Alto-Comissário.

A guerra civil no Sudão, que se arrasta há dois anos e meio, é um conflito oculto que envolve vários países da região pela disputa de recursos e matérias-primas, e a comunidade internacional deve agir, segundo o Alto-Comissário. Nesta sessão especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre os crimes cometidos durante e após o cerco à cidade de El-Fasher, na região de Darfur, no Oeste do Sudão, Türk enfatizou que o Conselho de Segurança deve remeter os abusos cometidos neste conflito para o Tribunal Penal Internacional.

Nesta guerra, “estão envolvidos inúmeros países da região”, salientou Türk na abertura da sessão, sem referir casos específicos. O Exército sudanês, por seu lado, tem acusado repetidamente os Emirados Árabes Unidos (EAU) de armar as Forças de Apoio Rápido (RSF), rebeldes que cercaram El-Fasher durante um ano e meio e que finalmente a capturaram a 26 de Outubro, derrubando assim o último bastião das Forças Armadas sudanesas no Darfur.

Após a conquista, Türk noticiou na sexta-feira que houve relatos de assassinatos em massa de civis, execuções por motivação étnica, violência sexual, raptos, detenções arbitrárias e ataques a profissionais de saúde, entre outros abusos. “Já tínhamos avisado que a queda da cidade para as Forças de Apoio Rápido poderia terminar num banho de sangue, mas os nossos avisos não foram ouvidos”, lamentou o Alto-Comissário austríaco, que alertou que a tragédia poderia repetir-se em Kordofan, a Região a Leste do Darfur, onde os combates estão actualmente concentrados.

“Todos os sinais apontam para isso: bombardeamentos, bloqueios, pessoas forçadas a abandonar as suas casas e um terrível desrespeito pela vida civil. Kordofan não deverá sofrer o mesmo destino que o Darfur”, declarou. Türk reiterou os seus apelos para que a comunidade internacional imponha um embargo de armas a todo o território do Sudão, e não apenas à Região Ocidental do Darfur, como tem sido o caso até agora, e para que faça tudo o que for possível para facilitar o fluxo de ajuda humanitária para o país.

EUA querem travar envio de armas para as RSF

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, apelou a uma acção internacional para travar o fornecimento de armas às Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla inglesa), um grupo paramilitar do Sudão acusado de assassinatos em massa em el-Fasher.

No final de uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros do G7, no Canadá, Rubio afirmou que as RSF cometeram atrocidades sistemáticas, incluindo assassinatos, violações e violência sexual contra civis.

O Exército sudanês acusa os Emirados Árabes Unidos de apoiar as RSF com armas e mercenários enviados através de nações africanas. Os Emirados Árabes Unidos negaram repetidamente estas alegações. As RSF combatem o Exército sudanês desde Abril de 2023, quando uma disputa de poder entre os seus líderes se transformou numa guerra civil generalizada.

Não é claro qual será o impacto do apelo de Rubio. Uma proposta anterior dos EUA para um cessar-fogo humanitário no Sudão já foi violada pelas RSF, embora estas tenham concordado com ela na semana passada. El-Fasher foi capturada no mês passado pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) após um cerco de 18 meses, o que significa que agora controlam todas as cidades da vasta região de Darfur, no Oeste do país.

Uma parte da população conseguiu fugir da cidade, onde terão ocorridos massacres. Pilhas de corpos no chão e terra manchada de sangue são visíveis do espaço em imagens de satélite. Os grupos não árabes da região mais vasta do Darfur estão a ser sistematicamente visados pelas RSF no que equivale a genocídio, de acordo com os EUA e grupos humanitários.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos