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ONU diz que pobreza e desemprego são motores de terrorismo em Moçambique

Foto: DW

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicou o estudo “Jornada ao Extremismo em África: Caminhos para Recrutamento e Retirada”, apontando pressões económicas, a pobreza e o desemprego como factores centrais para o tipo de violência. No estudo, a África Subsaariana, particularmente Moçambique, é identificada como o epicentro global da violência e do extremismo.

Em conversa com a ONU News, de Nova Iorque, a vice-directora do PNUD para África, Noura Hamladji, disse que a prática de actos terroristas ganha espaço em jovens. Acompanha o quadro económico-social de 46 países do continente. A publicação liga esta realidade ao reflexo da pobreza em várias frentes, associada à falta de oportunidades de emprego, bem como aos papéis e às expectativas de género.

“Primeiro, temos entrevistados que estão a dizer que o factor principal para se juntarem os grupos extremistas é económico. É uma esperança de uma vida melhor. É uma esperança de um emprego. Não é um factor religioso, mas um factor económico que é a razão principal para que esses jovens se juntem aos grupos extremistas. São 58% dos recrutados que citam que não há confiança no Estado. Não há confiança nas autoridades nacionais. Querem todos uma vida melhor e um emprego, mas não há confiança no Estado para dar essa perspectiva positiva para o futuro. É mesmo uma quebra do contrato social”, disse Noura Hamladji.

De acordo com o estudo “Jornada ao Extremismo em África: Caminhos para Recrutamento e Retirada”, os jovens colocaram em segundo plano a influência de factores como religião e género. A especialista disse que o raio de acção dos terroristas cresce de forma robusta.

 

TERRORISTAS COMPETEM COM O ESTADO EM MOÇAMBIQUE

“Em terceiro lugar, mostramos também que esses grupos, as zonas que controlam não estão mesmo a dar serviço do Estado. Estão a competir com o Estado: a dar serviço de educação, mas também o de segurança. Com terror, mas segurança. E o serviço de justiça. Então, são mesmo o que chamamos os protoestados nessas zonas que controlam. É uma situação preocupante”, lê-se no comunicado do PNUD.

Apesar da redução de mortes por terrorismo em todo o mundo, os últimos cinco anos marcaram o aumento para o dobro dos ataques nesta região.

A publicação indica que metade das mortes devido a acções terroristas ocorreu na África Subsaariana. Mais de um terço foram registradas em quatro países: Somália, Burquina Fasso, Níger e Mali.

Moçambique é um dos novos pontos de extremismo violento, que também se espalhou para outras partes do continente. Os ataques arrasam vidas, meios de subsistência, perspectivas de paz e desenvolvimento, destaca o PNUD.

 

ATENÇÃO INTERNACIONAL ÀS MUDANÇAS DRAMÁTICAS DOS TERRORISTAS

O documento menciona ainda que as comunidades locais têm habilidade para se recuperar da violência em todo o continente. Elas envolveram-se na prevenção e em práticas inovadoras de construção da paz.

O problema é a fraca atenção internacional ao quadro de incerteza causado pelas mudanças dramáticas na actividade extremista no Oriente Médio e na África do leste, do norte e na região subsaariana. O desafio piora em meio à crescente crise climática, ao autoritarismo, à pandemia e à guerra na Ucrânia.

Com poucos sinais de redução do extremismo violento, o PNUD defende que é preciso apostar em novas ideias sobre as abordagens e os mecanismos internacionais de financiamento do contraterrorismo.

A pesquisa considera relevante ter maior atenção aos factores económicos como impulsionadores do recrutamento de jovens.

 

FALTA DE EMPREGO COMO PRINCIPAL RAZÃO

Um quarto dos participantes no estudo apontaram a falta de emprego como principal razão para ingressar nesses grupos. A maioria era do sexo masculino.

Há cinco anos, cerca de 40% inclinavam-se a culpar as “ideias religiosas de determinado grupo” como a principal razão para se voluntariar ao recrutamento. Menos da metade identificou a religião como um factor-chave.

Os baixos níveis de uso da internet estão relacionados ao recrutamento voluntário de jovens ao terrorismo. Os envolvidos que disseram nunca ter usado ou tido acesso à rede aderiram mais rapidamente a esses grupos do que os outros.

Meios de comunicação tradicional como o rádio foram citados como a principal fonte de informação para este grupo de jovens, depois da palavra passada oralmente.

 

CUSTOS DE PRODUTOS BÁSICOS E ENERGIA

A pesquisa recomenda que se invista nas capacidades dos jovens e em estimular aptidões de liderança. Uma das sugestões é criar oportunidades de monitoria e dar apoio financeiro a organizações juvenis com foco no empoderamento de mulheres mais novas.

Os impactos crescentes das mudanças climáticas, da pandemia e do aumento dos custos de produtos básicos e energia estão entre as maiores dificuldades. Grande parte da África Subsaariana enfrenta pobreza e desigualdade em vários sectores agravados pelos já conhecidos desafios económicos e políticos.

Com a mudança climática impulsionando as ameaças, o PNUD pede uma análise mais profunda das dinâmicas e de como aprofundar factores que ajudem a dar uma resposta mais eficaz ao problema para mitigar as causas do extremismo violento.

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