Pelo menos 80% dos moçambicanos continuam a recorrer à medicina tradicional e alternativa para cuidados primários de saúde, segundo dados do Ministério da Saúde, que adianta que em breve o país terá leis e regulamentos sobre a medicina tradicional, incluindo os produtos usados, para melhorar a actividade do sector.
A praça dos heróis moçambicanos em Maputo acolheu esta segunda-feira, as celebrações centrais do Dia da Medicina Tradicional Africana. O momento serviu para uma avaliação após a aprovação, em 2000, da política de medicina tradicional e respectiva estratégia de implementação. As autoridades notam que houve avanços por consolidar mas prevalecem desafios.
Em duas décadas foram formados 110.422 praticantes da medicina tradicional. Gaspar Chirindza faz parte da nova geração de médicos tradicionais e começou actividade na adolescência.
Segundo contou, foi acometido por uma doença que, aparentemente, não tinha cura na medicina convencional. Ao partilhar a sua história, Gaspar Chirindza contou que ficou “muito doente” a ponto de ser internado. A partir do hospital, ele recebia orientações de um médico da medicina convencional no sentido de recorrer à medicina tradicional para resolver o problema que o apoquentava. Daí, passou a fazer parte da área.
Fernando Mathe está há muito tempo na medicina tradicional e destacou, no seu discurso, o contributo dado à sociedade pelos praticantes deste sector. Como desafios a ultrapassar, ele apontou, sobretudo, os falsos médicos tradicionais.
“Nós praticantes da medicina tradicional e alternativa acreditamos que continuando com esta colaboração e se cada um de nós der o seu contributo, podem de ser identificados e diagnosticados doenças de forma antecipada. Para isso, precisámos de colaboração e cooperação de todos para identificar aqueles que em nome da medicina tradicional prejudicam a sociedade”, disse Mathe.
A representante da Organização Mundial de Saúde em Moçambique, Djamila Cabral, falou do avanço da medicina tradicional em África e encorajou o país a tirar proveito dos progressos alcançados.
Concretamente, Djamila Cabral não disse quais mas indicou que os países devem “continuar a produzir mais evidências sobre a segurança, eficácia e qualidade” na preparação de medicamentos à base de plantas.
É igualmente “necessário reforçar a aplicação estrita dos quadros regulamentares e a utilização de plataformas mais avançadas para partilhar e salvaguardar o saber da medicina tradicional para as gerações futuras”, disse a Djamila Cabral.
Na óptica da vice-ministra da Saúde, Lídia Cardoso, que dirigiu a cerimónia alusiva ao Dia da Medicina Tradicional Africana, “embora haja avanços, depararmo-nos ainda com acontecimentos” que mancham a chamada “medicina que e milenar, como e o caso do trafico de órgãos humanos, com maior destaque” para o assassinato de “pessoas albinas, acusação de feitiçaria, principalmente a pessoa idosa”.
Segundo Lídia Cardoso o país ainda debate-se com o problema de “queimadas descontroladas, extinção de plantas medicinais, publicidade e práticas enganosas. Estes fenómenos têm sido interpretados com frequente menção ao nome da medicina tradicional”, o que constitui uma “barreira para o futuro que desejamos” deste campo.
A vice-ministra da Saúde apelou a empenho de todos na luta contra estes actos criminais e antiéticos na medicina tradicional.
O crescimento medicina tradicional em África fez com que a União Africana e a Organização Mundial de Saúde declarassem o 31 Agosto como o Dia da Medicina Tradicional Africana, através de uma resolução ratificada por todos os países membros, incluindo Moçambique.
Em 2010, Moçambique criou o Instituto de Medicina Tradicional e, posteriormente, o Centro de Desenvolvimento Etnobotânico para contribuir na pesquisa de plantas medicinais.
Este ano, o Dia da Medicina Tradicional Africana foi celebrado sob o lema “Duas décadas de medicina tradicional africana 2001-2010 e 2011-2020: que progressos nos países”.