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O silêncio como estética na obra de Languana

Os silêncios são a seiva do pensamento.

In Os pintores de sonhos, de Carlos dos Santos.

 

24 peças completam a sexta individual de Aldino Languana. Patente no Núcleo de Arte, Cidade de Maputo, até 2 de Julho, domingo, a exposição revela um autor versátil, cujos traços das suas aguarelas denunciam uma espécie de obsessão sensata pela paisagem humana.

Nas múltiplas formas de conceber os seus universos ideais, no entanto aparentemente tangíveis, Languana faz do seu pulso uma ferramenta viável para a fixação, no papel, dos batimentos do coração. Nesse movimento suave e cardiovascular, fundamentalmente, o artista parece ver com os dedos tudo o que é impossível sentir com os olhos. Quiçá, por essa razão, a mostra não apresenta um título prático, digamos assim, visual ou até que nos remeta para as artes plásticas. Pelo contrário, dando ao conjunto da sua obra o título Conversando com o silêncio, o artista transparece a sensação de que, muito além de um trabalho aturado de pesquisa, quis fazer das suas peças algo assertivo na reivindicação dos seus e dos vários sujeitos que fazem o Homem.

Ora, na preparação da sua nova individual de artes plásticas, a Languana interessou, sobretudo, ouvir do que dizer. Essa opção, num mundo espiado pelo caos e pela incerteza, reflecte um artista que não grita, não chora e não se rebela. Longe disso. Ao invés do ferro e fogo ou do escopro e martelo no sentido virulento das duas expressões, o artista escolhe orquídeas e tulipas para, desse modo, exalar cheiros e vicissitudes… Nisso paira o jogo da metáfora, no qual as flores se enxergam nos sentimentos e na combinação das cores quentes.

Na mostra Conversando com o silêncio, em que algumas molduras podem contrariar a preferência do visitante, na verdade, cada tela é uma flor (não em termos paisagístico), isto é, tem o seu encanto na medida em que a pintura transmite uma energia positiva na harmonização de elementos vitais e de beleza. Também por essa razão, o Núcleo de Arte é um bom lugar para se frequentar nestes dias, pois, nas aguarelas em papel de Languana, nas pequenas, médias e grandes dimensões, estão diálogos que o autor, tendo estabelecido consigo em viagens inefáveis, agora, estende a toda gente. Em grande parte, vem dessa sua predisposição para partir a possibilidade de chegar ao âmago da criatividade; e, acto contínuo, surge da sua entrega ao silêncio a atenção para escutar a natureza e a vida.

Ao reverso da constatação do narrador de Marizza, ficção de Mélio Tinga, o silêncio não é a coisa mais atormentadora para um homem que é perseguido por mil coisas. Para Languana, de facto, mesmo a concordar com o narrador de Os pintores de sonhos, de Carlos dos Santos, os silêncios são a seiva do pensamento. Logo, no seu registo anímico e manual, o artista plástico combina o que pensa e o que sente, diria Nick do Rosário, nos seus solilóquios.

Por um lado, quer pela intenção na utilização da cor, quer pelo resultado alcançado com as suas aguarelas, Languana afirma-se como um artista necessário, ousado e maduro. Tecnicamente falando, temos aqui um autor que sabe como explorar o papel e derreter a aguarela. O branco, à semelhança do silêncio, essa espécie de vazio, é luz complementar dos desenhos geométricos, antropomórficos ou presumivelmente animistas.

Com uma série de procedimentos minimalistas, as aves e os peixes merecem algum destaque. Provavelmente, como representações da liberdade e profundidade criativa, respectivamente.

Por outro, Conversando com o silêncio é uma construção desvirtuada sobre o corpo humano em jeito de segmento de persuasão interpretativa. Nesse aspecto, sem pretensões eróticas, a exposição dignifica os objectos representados, todavia, sem apegos a retratos. O compromisso de Languana é discernir no silêncio os filamentos imprevisivelmente narrativos. Afinal, na conversa/monólogo se identificam a causa e efeito, o espaço e o tempo, as personagens sonhadas e o narrador que somos nós, os visitantes da mostra.

Perseguindo as suas formas, Languana sugere textos e pausas, parafraseando Mikhail Bakhtine, consciente de que assim como o Homem nunca coincide completamente com a sua situação concreta, também o mundo nunca coincide completamente com a pintura. Ainda assim, a sua individual é um mundo sereno, no qual se adivinham tonalidades do silêncio enquanto elementos estéticos, portanto, e instrospectivos.

 

Título da exposição: Conversando com o silêncio

Autor: Languana

Local: Núcleo de Arte

Classificação: 17

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