É um fenómeno que se sente em grande escala na capital do país: o esvaziamento da cidade, com citadinos a dirigirem-se para a periferia, onde uns residem e outros mantêm um espaço, só para “curtição”. Tudo começa à sexta-feira. A cidade vai ficando aos poucos deserta, com a movimentação de automóveis a fluir praticamente em sentido único. Disso se ressentem as mercearias, restaurantes, casas de espectáculos, museus e até a venda de jornais e revistas.
Novas rotinas
Dificilmente o maputense quebra esta sua nova rotina, perante um qualquer chamamento, mais ou menos importante. E a sociedade vai-se habituando, pelo que toda e qualquer cerimónia que solicite a presença dos madalas, tem que ser apontada para segunda/terça ou quarta, pois o fim-de-semana tem outras prioridades…
O desporto ressente-se, e muito, desse novo fenómeno. Ao contrário do que acontece pelo mundo fora, em que há cidadãos que fazem excursões, partindo de lugares longínquos com dois ou mais dias de antecedência para apoiarem e vitoriarem o seu clube e as suas estrelas, por cá os adeptos, mesmo a caminho do estádio, podem ser com relativa facilidade “desviados”para uma sessão de “três-cem” ou algo parecido. Daí que nem os Barcelona Legends ou a final da Taça o motivem a abandonar “a sua quinta”.
O Moçambola põe a nu essa grande diferença entre Maputo e o resto do país. E que não se pense que isso só acontece com o futebol. Recentemente, um Torneio Internacional de Basquetebol, englobando equipas angolas que são a nata de África, foi jogado com as bancadas às moscas. O mesmo se passou no excelente Nacional de boxe, com participantes de todo o país, música e entretenimento.
Idem no disputado Nacional de futebol de salão. E com se não bastasse, era tudo com entradas… mahala!
Que explicação? As respostas mais comuns remetem-nos para a fraca qualidade do espectáculo.
Será só isso?
E se os mais velhos ainda se podem escudar no facto de terem vivido outro nível de emoções, o que dizer dos novos, que preferem senti-las virtualmente, quando o mais sensato seria eles próprios descerem ao terreno e serem protagonistas da melhoria do nível geral do nosso desporto, ao invés de críticos da qualidade da sua geração e aduladores do que lhes é projectado através dos pequenos ecrans?
A auto-estima, de que tanto se fala, só terá “pernas para andar”, quando soubermos e pudermos recuperar valores que já tivemos e que em pouco mais de três décadas tendem a desaparecer.