Semear o medo que propicia o florescimento do afecto, fertilizar o receio de perder um olhar que não desvia a atenção do amor, abandonar o medo que convida a um carinho fascinante – são imperativos para a edificação de um castelo de sentimentos. Sim, é vital a apropriação desse medo que aduba o terreno do amor sincero. Quando se dissolve o medo de amar, o temor de perder um afecto, encerra-se uma grandiosa marcha pelo deserto que conduz o coração à terra prometida do amor.
O medo benéfico não julga o amor, ao contrário, rejuvenesce a ânsia de amar e perpetua a vida em um eterno cárcere de afecto a dois. Esse medo nobre insufla uma humildade sincera no amor, transformando a existência em algo sempre simples e belo.
Como evitar a perda do temor de perder um grande amor e a fantasia da paixão que pinta em nosso comportamento distraído quadros de amor com cores que ocultam ilusões e deturpam as figuras reais das experiências vividas? A ausência desse medo promove promessas de amor tingidas em ouro, tatuadas na arte de uma verdadeira mentira. O medo saudável se dissipa quando submetemos a fonte do amor a temperaturas elevadas, permitindo que as folhas da humildade chamusquem e exalem o perfume do amor autêntico.
Ao perdermos a honesta humildade e a leal cumplicidade no amor, a vida perde o sentido de alcançar a plenitude. O medo benéfico auxilia na expressão de sentimentos naturais, sem receio de críticas. A ausência da inteligência desse medo propicia uma operação na consciência sem anestesia, expondo os neurónios do amor à dor que ressuscita os nervos, mantendo viva a chama, a vida no amor e o conhecimento da filosofia do medo.
As pessoas necessitam extinguir os conflitos no céu do amor, garantindo paraquedas com cordas de experiências que unem corações e constroem laços para que os problemas não apaguem as saudades do beijo e carinho que edificam desejos de uma eternidade amorosa. Os corações precisam se importar não com as dificuldades formadas pelas ondas do mar do amor, mas sim com o que mais importa na plantação de letras que cultivam lembranças vislumbrando a vida para além do horizonte.
Às vezes, a vida não é justa para uma multidão de almas justas, mas não é necessário quebrar a existência, pois seu concerto pode ser desafiador. Por vezes, é preciso acreditar na ilusão da óptica do pensamento para corrigir as imagens sombrias do passado com as cores nítidas do presente. É necessário compreender que o mal e o bem coabitam nos corações humanos, cabendo a cada dedo do coração escolher a opção correcta. Em certas ocasiões, pode ser imperativo renunciar às demandas naturais das relações humanas para harmonizar o amor a dois. Tudo isso se torna possível quando se valoriza o medo de perder o que clareia vivamente a vida.
O filósofo alemão Martin Heidegger, em seu texto intitulado “O Sentido do Medo”, defende que o ser humano possui uma disposição afectiva, uma abertura para vivenciar tudo que há no mundo. Os objectos, por si só, não despertam medo, mas sim a maneira como o indivíduo se relaciona com eles. O medo consiste na experiência de ameaça ao ser, retirando-o da confortável sensação de que tudo está em ordem e sob controle. O medo da perda de um objecto que tenha importância afectiva, por exemplo, pode significar uma ameaça à própria existência.