Aura é um conceito com vários significados, considerando os distintos contextos de inserção do termo. Segundo o dicionário Prebiram da internet, a Aura é descrita como um ambiente psicológico que parece envolver ou influenciar algo ou alguém.
A AI inteligência artificial possui uma definição similar, aura é um suposto círculo de luz ou energia que envolve o corpo.
Se a exposição de Maria Chale, patente na Fundação Fernando Leite Couto, denominada “Agente da passiva”, que foi inaugurada no dia 12 de Março de 2025, também for entendida como um “corpo”, podemos, seguramente, dizer que esta exposição também possui uma aura, cabe a cada espectador desvendar a aura da exposição.
O título “Agente da passiva” remete-nos a uma dupla fragilidade humana, a incapacidade de sermos protagonistas de todos os eventos que nos ocorrem, e a dificuldade que temos em admitir que somos criaturas frágeis.
Os rostos da exposição, se metamorfoseiam em rostos vividos no nosso quotidiano, são rostos do mercado, da nossa vizinhança, são rostos do nosso prédio, do nosso bairro, são figuras moçambicanizadas visualmente pelos seus rostos e pelas suas vivências.
Se Maria Chale, durante um plebiscito com as telas e aguarelas, foi passada para “agente da passiva”, com certeza uma aura lhe foi entregue para recriar o quotidiano social em que vivemos em quadros como: o preço do saco subiu, a nova cunhada, a patrulha.
Enfeitiçada pela aura do ofício visual, Maria recriou visualmente as diversas auras que tomam posse de si enquanto uma “agente da passiva” que não pode parar o imprevisto de dar vida às telas.
O quadro Aura X feito com recurso a técnica Aguarela sobre papel, com a dimensão de 20x30cm, criado em 2025, é parte da exposição, Maria Chale com o seu talento, convida o espectador a interpretar as emoções visuais do quadro.
Aura X é um quadro que caracteriza o mistério, o desconhecido, com um fundo branco, apresenta linhas e formas indefinidas, as cores ganham vida sobrepondo-se umas por cima das outras, numa tonalidade ora esverdeada ora enegrecida, a tonalidade escura transmite a ideia de algo errado.
O quadro é intrigante, as cores estão em desarmonia, o espectador é transportado para um lugar de desconforto e meditação, a sensação mais patente do quadro é o inconformismo. Chale provavelmente quis espelhar o estado de um cidadão, ou uma aura rebelde, que segue o seu próprio curso, e pelo caminho encontra vários obstáculos, mas inconformada, vai criando, novos caminhos, novas estradas, representadas através das várias curvas de aguarela na tela, essas curvas são saídas, são processos complexos e trabalhosos até este cidadão ou aura chegar ao topo do quadro, o seu destino final.
Para espectadores com menos sensibilidade visual, o facto de não haverem formas convencionais no quadro, e o único recurso de imaginação ser a palavra aura, que por sinal foi tida em vários quadros, pode originar uma limitação na interpretação do quadro.
Aura X pode ser a personificação do clima de tensão e instabilidade que vivemos em Moçambique, deixando cada cidadão em estado de lamúrias e inconformismo.
Aliás, inconformismo é o que todos precisamos para buscar uma mudança e a paz.
Maria Chale é licenciada em Arquitectura e Planeamento Físico pela Universidade Eduardo Mondlane, segue uma carreira apaixonada, e está actualmente na sua terceira exposição individual.