Quando a tão almejada independência nacional chegou, Marcelino foi um dos libertadores que conseguiram estar no estádio da Machava.
No momento do célebre discurso, esteve do lado direito do seu amigo, o primeiro presidente de Moçambique: Samora Machel. Nessa altura, somava 46 anos de idade, dos quais 13 como militante da FRELIMO e 26 de luta pela independência nacional, actuando na clandestinidade, nos corredores diplomáticos e na luta armada.
Com Samora na presidência do movimento, Marcelino ajudou a conduzir o sonho dos moçambicanos: a liberdade tão cantada no âmago dos seus versos.
A seguir à independência, Dos Santos ocupou vários cargos, como os de governador de Sofala e ministro da Planificação e Desenvolvimento, até 1977, ano em que foi eleito membro do Bureau Político do Comité Central e secretário do Comité Central do partido Frelimo – agora apenas com a inicial maiúscula, com orientação marxista-leninista, para a Política Económica. Ainda em 77, foi designado secretário permanente da Assembleia Popular, onde desempenhou o cargo de presidente.
Três anos depois, no dia 25 de Setembro, data na qual iniciou a luta armada de libertação nacional, Marcelino foi nomeado major-general. Como político importante, quando Machel morreu, a comissão que nomeou Joaquim Chissano Presidente da República foi liderada por Marcelino dos Santos, que encorajou o então futuro presidente a assumir a causa nacional.
Chissano não se esquece disso, tão-pouco do facto de Marcelino ser um homem que critica ou sugere em função do que acredita. Mesmo sendo um político de alto nível, Kalungano não abdicou da sua inclinação poética, longe disso. Levou avante a paixão pela literatura, ajudando a fundar a Associação dos Escritores Moçambicanos, em 1982. Coube a Dos Santos proferir o discurso de abertura da Conferência Constitutiva da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), a 31 de Agosto de 1982.
Na fundação da organização, o poeta José Craveirinha foi escolhido presidente da Mesa da Assembleia e Rui Nogar foi designado secretário-geral. Pela AEMO, Marcelino dos Santos foi o primeiro autor a publicar, O canto do amor natural, em 1987, na colecção Timbila, criada para livros de autores consagrados. Um dos textos que integram a obra do poeta intitula-se “Nampiali”, na verdade, uma região de Cabo Delgado homenageada em verso, depois de uma visita do libertador da pátria.
Na colecção Timbila, publicou-se também memória do povo, de Sérgio Vieira, As faces visitadas, de Orlando Mendes, A inadiável viagem, de Luís Carlos Patraquim, A filha de Thandi, de Heliodoro Baptista, Verdade dos mitos, de Hélder Muteia, Moçambicanto, de Gulamo Khan, O país de mim, de Eduardo White, Xigubo, Babalaze das hienas e Karingana ua karingana, de José Craveirinha, Sangue negro, de Noémia de Sousa, entre outros.
Kalungano foi distinguido com o Prémio Lótus, da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos, em reconhecimento ao seu percurso literário na reivindicação e consciencialização do Homem na luta pela independência nacional. É prémio Mirsu Tursum Zade, da União dos Escritores Soviéticos e do Comité Soviético da Solidariedade com os povos de África e Ásia. A escrita de Kalungano tem “inspiração” na mãe, daí não poucas vezes ter declamado poesia para ela. Aliás, foi um homem muito apegado ao colo materno.
Quando ela morreu, o poeta ficou chocado, o que lhe custou 24 horas de internamento no hospital. Mas, habituado a lidar com a morte desde os tempos de luta armada, superou a perda da sua progenitora até ao limite da sua força. Em Janeiro de 1987, Dos Santos tornou-se presidente da Assembleia Popular, cargo que ocupou até à realização das primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
Marcelino foi condecorado com as medalhas do vigésimo aniversário da fundação da Frelimo, ordem 25 de Setembro do 1º Grau e o título Herói do trabalho da República Popular de Moçambique. E do estrangeiro, na última sexta-feira, mais um reconhecimento: Marcelino dos Santos foi condecorado com a Ordem Sagrada Esperança pela Fundação Agostinho Neto, em Angola.
Portanto, durante décadas de entrega à causa nacional e africana, Marcelino dos Santos realizou o seu maior sonho: fazer de Moçambique um país independente, livre das amarras coloniais.