Na sua mensagem à Nação no tocante ao desporto, Filipe Nyusi, numa passagem meteórica e pouco aprofundada, referiu que ao longo do ano, o país participou em competições internacionais e arrecadou, no total, 62 medalhas das quais 13 de ouro, 20 de prata e 29 de bronze. Foram assinados 64 contratos-programa, a nível central e provincial, cujo financiamento contribuiu para a formação de 1.069 agentes desportivos, a nível central e provincial. Os Jogos Escolares, que contaram com a participação de 1.386 alunos, foi outro ponto mencionado.
E mais não disse!
Tal como noutros sectores da vida nacional, é natural que as gentes e os agentes do desporto estivessem na expectativa quanto “à fatia” que lhes tocava directamente. Neste caso, soube a pouco. Foi uma explanação vazia e pouco desafiante.
Números… Sem enquadramento!
Investimento, contratos-programa, medalhas. O que isso pode representar, comparativamente aos anos passados e que planos e passos se prevêem para o futuro? Numa altura em que no Mundo, o desporto mexe com tudo, mobiliza e motiva a mais trabalho e unidade nacional, o informe do PR o que trouxe de novo?
Entre os 25 milhões de cidadãos que nós somos, quantos se aperceberam, retiveram ou se vangloriaram das vitórias resultantes dessas 62 medalhas de ouro? Que “peso-específico” elas representam no contexto africano ou mundial?
Se o mundo aposta cada vez mais no futebol e Moçambique quer visibilidade não pode ser diferente. Vencer à Zâmbia em Lusaka, seguramente, provocou muito mais festa no país, do que a mão cheia de medalhas que o Presidente mencionou como rescaldo de todo um ano de competição.
De uma vez por todas, importa esclarecerem-nos se a estratégia governamental para o desporto, é a de sermos fortes no meio dos fracos, priorizando competições e modalidades em que o Mundo não aposta.
Ano após ano, nas provas “a doer”, os “rankings” vão colocando o nosso país em lugares cada vez mais subalternos. Depois de Mutola, a visibilidade de Moçambique em Jogos Olímpicos passou a ser uma miragem. Vão-nos valendo as meninas do basquetebol e a “resiliência” no hóquei em patins.
Nos dias que correm, os sucessos e insucessos no desporto são mensuráveis. Mas nós vamos convivendo com as repetidas menções a “balanços positivos”, sempre na ponta da língua de quem dirige e corporiza o nosso desporto, sem leituras realistas, comparativas e com rigor ao lugar que as nossas modalidades ocupam em África e no Mundo.
Até quando iremos satisfazer o nosso ego, fechados num casulo, como se estivéssemos a competir sozinhos com a nossa mediocridade?