O Costa do Sol conquistou, sexta-feira, o Campeonato da Cidade de Basquetebol sénior feminino após vencer o Ferroviário de Maputo (81-59) no jogo 2 do play-off da final a melhor de 3. As “canarinhas” fizeram o 2-0 na série e fecharam em beleza a sua participação na prova sem nenhuma derrota.
É assim: no dia 14 de Abril de 2014, Leonel Rodolfo Manhique (Mabê) abriu uma nova página no basquetebol feminino ao liderar a armada do Ferroviário de Maputo (liderada por Zinóbia Dulce Machanguana) a conquista do primeiro de uma série de seis títulos consecutivos!
Em pleno pavilhão do Maxaquene, o Ferroviário de Maputo transfigurou-se e destronou a fortíssima e extinta equipa da Liga Muçulmana liderada por Nasir Salé, vencendo a final por 67-52. Encerrava-se, desta forma, um ciclo de conquistas de um conjunto que colocou África a seus pés ao conquistar, em 2012, na Costa do Marfim, a Taça dos Clubes Campeões Africanos de Basquetebol.
Com uma folha de serviço na qual se destacava, em termos de percurso como “coach”, as conquistas do torneio inter-escolar Basket Show (orientando as escolas Secundárias da Matola, Zona Verde e Josina Machel) e a Liga Vodacom como adjunto de Carlos Aik, o jovem colocou em sentido o senhor dos anéis.
Dito de outro modo: foi mais forte que o respeitado Nasir Salé, “coach” que “papou” tudo internamente e fez escola na Taça dos Clubes Campeões Africanos, competição na qual ergueu o troféu com o Desportivo Maputo (2007 e 2008) e Liga Muçulmana (2012).
Oito anos depois, precisamente a 28 de Janeiro de 2022, Leonel Manhique fechou o ciclo vitorioso de uma equipa ganhadora, derrotando, curiosamente, Nasir Salé na final do Campeonato da Cidade!
Na quadra do pavilhão da Universidade Eduardo Mondlane, Manhique tinha como trunfo uma das joias do CFVM que foi determinante para o êxito na final de 2014: Ingvild “Inga” Mucauro.
Beliscado, após derrota no jogo 1, o Ferroviário de Maputo tinha que mostrar a sua musculatura e forçar uma decisão à negra.
Como “ases” do seu baralho, Nasir Salé tinha Odélia Mafanela e Anabela Cossa (suas atletas na Liga e protagonistas da final de 2014 com o Ferroviário), Deolinda Gimo (sobrevivente da equipa que ganhou a prova em 2014 ao serviço do Ferroviário de Maputo), Dulce Mabjaia e Stefânia “Papelão” Chiziane (mais evoluída, sobretudo, depois da passagem pelo Highlinders Community College dos EUA).
Havia uma esperança fundada, entre as campeãs em título, de transfigurar-se e impor a primeira derrota ao Costa do Sol no Campeonato da Cidade. Um parcial de 4-2, logo no início do jogo, dava indicações de que as “locomotivas” levariam a decisão do título até às últimas consequências. Deolinda Gimo e a combativa Odélia Mafanela eram as opções para o jogo interior do Ferroviário de Maputo. Dulce Mabjaia, sem a lesionada Amélia Massingue, foi a escolha para a armação do jogo. Anabela Cossa e Stefânia Chiziane encaixaram no cinco inicial como extremos e com ordens para desequilibrarem nos tiros exteriores e penetrações. O Costa do Sol jogava com uma poste fixa: Vilma Covane. Ingvild Mucauro, Eleutéria Lhavanguane e Shelsea Rafael e Elizabeth Perreira eram as opções para o canário levantar o voo para o almejado título.
Havia um problema identificado no Ferroviário: ataques abaixo dos 24 segundos sem que a bola circulasse mais, culminando com muitos “turnovers”. Desequilibrada, Eleutéria “Formiga” Lhavanguane foi umas das unidades mais destacadas do Costa do Sol com tiros exteriores e penetrações que partiam a defesa homem a homem das “locomotivas”. Com Deolinda Gimo em evidência no jogo interior, o Ferroviário de Maputo fez um parcial de 15-8. Fez pressão alta do Ferroviário de Maputo, ajustou defensivamente o Costa do Sol que passou depois a condicionar o seu adversário. Paula Orlando, que transitou da equipa satélite para as campeãs nacionais, teve muitas dificuldades para se impor na luta das tabelas quando chamada ao jogo.
Mais esclarecido na quadra, o Costa do Sol melhorou ofensivamente e passou para a frente do marcador, fechando o primeiro quarto a vencer pelo parcial de 22-20.
Com maior agressividade defensiva e esclarecimento ofensivo, as “canarinhas” voltaram melhor no segundo quarto. Aliás, conseguiram fazer um parcial de 3-0 (25-20) com Eleutéria Lhavanguane em bom plano na quadra. Resposta à altura da experiente Anabela Cossa com um tiro exterior e finalização de uma jogada de contra-ataque. Jogo empatado (25-25). Pensava-se que, daí, o Ferroviário de Maputo fosse ajustar e melhorasse o balanço defensivo. Nada disso! O Costa do Sol, já com Nilza Chiziane a jogar lá em baixo, não só ganhou as segundas bolas como esteve melhor na abordagem do jogo.
As “locomotivas” acusaram ansiedade. Os ataques foram menos elaborados. Uma sucessão de perdas de bola. Defensivamente, o conjunto de Nelito cometeu muitos erros. Foi nessa etapa do jogo que o Costa do Sol fugiu no resultado, conseguindo uma vantagem de 20 pontos: 44-24.
Sem soluções, Nelito viu o Costa do Sol controlar o jogo. E, no final do segundo quarto, o resultado era de 47-28.
Como ir buscar o resultado? Esta era a questão que assaltava as campeãs nacionais. O jogo exterior foi a solução encontrada, sendo que Anabela Cossa e Dulce Mabjaia foram assertivas na zona dos 6, 75 metros. Mas, diga-se, o Ferroviário de Maputo revelou-se uma equipa sem agressividade defensiva. A rotação da equipa trazia desequilíbrios em todas as posições. A “manta era curta”!
Confortável, Leonel “Mabê” Manhique fez a rotação e deu minutos às atletas menos utilizadas. O terceiro quarto foi novamente controlado pelo Costa do Sol que venceu por 63-49. Não deixar que o Ferroviário de Maputo se aproximasse foi a palavra de ordem no Costa do Sol. E, com o jogo controlado e a cheirar a título, Leonel Manhique fez a gestão da equipa. Condicionado, o Ferroviário de Maputo jogava pela sua honra. Não sair derrotado por um resultado pesado! 100% Vitorioso, o Costa do Sol fechou em grande a sua participação no Campeonato da Cidade.
Nasir Salé era um homem resignado no final do jogo com o Costa do Sol. Carregado de “fair play”, Nelito parabenizou as “canarinhas” pela conquista do Campeonato da Cidade.
MABÊ JUBILA, NELITO RESIGNADO
O treinador do Costa do Sol, Leonel “Mabê” Manhique, mostrou-se satisfeito com a conquista do Campeonato da Cidade, o segundo título esta temporada. “Fazemos uma avaliação positiva no sentido de que estamos 100% vitoriosos. Acreditamos que há muita coisa que temos que corrigir para atacar o Campeonato Nacional. Acredito que, com sacrifício e dedicação da minha equipa, podemos melhorar um e outro aspecto. Temos que dar o nosso máximo para atingirmos os nossos objectivos. Mas, para atingirmos os nossos objectivos, temos que encarar jogo a jogo com determinação. Nós somos feitos de desafios. Fiz o meu trabalho no Ferroviário, onde conquistei títulos. Agora fui chamado para o Costa do Sol. Tenho que continuar com a mesma dedicação, senão mesmo dobrar para poder atingir os meus objectivos e do clube”.
Por sua vez, o treinador do Ferroviário de Maputo, Nasir Salé, reconheceu o valor do Costa do Sol na final do Campeonato da Cidade de Maputo. Nelito queixou-se, por outro lado, das lesões que afastaram da quadra algumas atletas. “Há que parabenizar o adversário pela diferença que fez. Mas eu acredito que vamos continuar a trabalhar e pensar nos melhores dias. Temos uma equipa reduzida em termos de estrutura devido a lesões. Agora queremos recuperar o grupo e perspectivar aquilo que possa ser a nossa prestação no Campeonato Nacional. Em função do resultado, tivemos que descansar o grupo para tratar das mazelas de algumas atletas. A época não acabou. Há que pensar, estruturar melhor a equipa e prepararmo-nos para a próxima competição. Espero ter um Ferroviário melhorado no Campeonato Nacional. Não podemos desistir. Temos que continuar a trabalhar e melhorar aquilo que foram os nossos erros”.