Se alguém se referir a Cipriano Rebeca dos Santos, dificilmente se saberá “descodificar” de quem se trata. Mas se se disser Nito, tudo se torna mais fácil, pois estaremos a citar um dos maiores laterais-direitos do pós-indepedência que brilhou no período áureo do Costa do Sol, quando esta turma foi bi-campeã.
A ala direita era totalmente sua. Força e raça, representavam os seus pontos fortes. Vencia os adversários através da persistência. De posse do esférico, fazia uma, duas… dez tentativas, até desgastar os adversários. Não sendo tecnicamente excepcional, após os arranques, a força que imprimia aos seus piques” eram um espectáculo dentro de outro.
ATRAÍDO PELO MARSIA
Veio de Nampula, do Sporting, e tentou o enquadramento no Desportivo de Maputo. Apesar das boas indicações, ainda em idade de júnior, teve algumas dificuldades em se afirmar. Os nomes que então pontificavam, faziam-lhe sombra. Eis então que, com alguma celeuma à mistura, se transfere para o então Benfica de LM (hoje Costa do Sol), “encaixando-se” na perfeição.
Estava-se, em 1977 em plena geração de ouro. O “olho de lince” de Martinho de Almeida descobriu-o e de imediato lhe lançou o repto de fazer parte do então Benfica de LM, que acabava de entrar na alta roda. Os encarnados haviam-se sagrado campeões nacionais e a turma tinha uma mescla de jovens e veteranos, uma autêntica selecção nacional.
Várias coincidências felizes para o clube acompanharam o inventor do método “Marsia”. Estrelas com características diferentes despontaram para os vários lugares do terreno. Nito, foi das mais reluzentes.
VIDA DIFÍCIL
NO PROFISSIONALISMO
Não “cabendo” no mercado interno, tentou avançar com a sua carreira indo para Portugal, onde treinou em vários clubes, com sucesso, sempre na expectativa de receber a carta internacional. Havia então uma proibição quanto à “exportação” de atletas para o estrangeiro.
O então jovem moçambicano viveu momentos difíceis, tendo que colocar o futebol em segundo plano para sobreviver. Quando, finalmente, a autorização da FIFA chegou, assinou um contrato pelo Estrela da Amadora, jogou duas épocas, mas os pés já não tinham a capacidade de resposta de outrora…
REI DAS “CAVALGADAS”
A médio ou a defesa, ele “carregava o piano”, ajudando a equipa nas ofensivas que protagonizava, às catadupas, independentemente do adversário. Pelo flanco direito, subia para cruzar inúmeras vezes, sem descurar as suas tarefas defensivas. Dava a impressão de que possuía um “alçapão” que lhe permitia um vai-vem contínuo.
Dizia-se que pecava nos pormenores. Mas para que é que necessitaria de pormenores, se nos “pormaiores” à vista de todos, protagonizava cavalgadas imparáveis, e que deliciavam as enchentes do Estádio da Machava?