Um grupo de Jovens liderados pelo crítico literário Nataniel Ngomane criou um clube do livro em Maputo. O grupo encontra-se uma vez por semana para sentar e ler obras ao gosto do membro escolhido.
As árvores abanavam e zumbiam ao ritmo do vento, ao mesmo tempo que criavam uma sombra suficiente para mais de 100 pessoas no parque dos poetas, na cidade da Matola Província de Maputo.
Sentadas, concentradas, mas completamente tomadas pelos caminhos que cada livro leva o leitor a seguir, o grupo de quase trinta pessoas destacava-se das demais pessoas no coração do “Central Park”.
Ali os corpos estavam imobilizados, as almas voavam ao ritmo do Niketche, as vozes adormecidas gritavam e os flamingos voam eternamente, sem armas, sem guerra e sem barulho dos subúrbios por onde passou Meledina quando descrita por Aldino Muianga, mas tudo era intensamente vivido através da leitura.
“O nosso sonho é que se possa ler do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico” idealiza o crítico literário Nataniel Ngomane, que acrescenta que “o nosso país está a precisar de ler”.
A necessidade é geral, mas a sectores chave da sociedade, que podiam com relativa rapidez registar melhorias significativas com a leitura. “Uma das formas de melhorar a qualidade do ensino é colocar as nossas crianças a começar a ler muito cedo” disse, acrescentando que “esta é uma forma de exercitar os seus neurónios”.
A viagem pelas obras nacionais e não só é o culminar de um processo iniciado pouco depois da exposição da língua portuguesa, onde um grupo de sete pessoas decidiu manter os encontros.
Para o efeito, “sugeriu-se que a criação de um clube de livros” que consiste em “um grupo de pessoas que gostam de ler, que iriam se encontrar uma vez por semana e ler conjuntamente” explica.
A ideia colheu consenso e definiu-se que “os encontros deviam ser feitos em lugares públicos para que fossem vistos por outras pessoas que quisessem também fazer parte do grupo” conclui.
No clube criado, os gostos são diversificados, afinal, como diz a célebre frase do jornalista Carlos Cardozo, eternizada em várias obras literárias e não só, não se pode colocar algemas nas palavras e, nós acrescentamos, nem nos gostos literários.
Isso tendo em conta a conceito desenvolvido por este grupo de amantes da leitura, que abrem espaço para todos, ou seja, “a pessoa é que escolhe que género de livro pode ler ou que já está a ler, e vem ler connosco” explica Amad Balamad, um dos mentores da iniciativa.
Depois da leitura, os membros fazem uma roda para partilhar e colher experiencias de os outros membros do clube, criando uma “pontinha” de curiosidade sobre o livro, afinal “a leitura também é viciante” diz a poetiza Énia Lipanga.
Ela é também uma das escritoras emergentes do país, e defende que o clube de livros recentemente criado é a prova de que a tendência de leitura é crescente, pese embora persistam desafios.
“Apesar da existência de um grupo que diga que os jovens não lê, eu acho que de uns anos para cá as pessoas tem lido mais, as pessoas tem comprado mais livros” diz a poetiza e escritora.
Os desafios segundo ela, tem que ver com “o facto de os livros estarem muito caros”, sendo que a alternativa a falta de dinheiro, ela propõe, “é que sejam utilizados livros eletrónicos, que podem ser acedidos através de um telefone”, aliás “este clube tem, total abertura para este tipo de leitura”.
O clube do livro já tem cerca de trinta membros e colabora com dois clubes idênticos que se encontram nas terras de Bolsonaro, Brasil, que são coordenados (um deles) por Maria Toledo, e outro por Merces Parentes.
Com estes clubes, Ngomane e “companhia” já sonham em fazer uma leitura sincronizada através do Skype, apesar da diferença em termos de fuso horários. “Vamos encontrar um meio-termo para materializar este sonho” garantiu Ngomane.