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Ngoenha e Castiano alertam para a pior crise de todos os tempo no país

Os académicos Severino Ngoenha e José Castiano defendem que o país está no pior momento, desde a independência de Moçambique. Para os filósofos, esta crise pode servir de oportunidade para a implantação de uma verdadeira democracia. Ngoenha e Castiano falavam durante o lançamento, em Maputo, do livro “Manifesto por uma terceira via”.

A obra dos filósofos moçambicanos é uma crítica e ao mesmo tempo um alerta para as tragédias que têm colocado em causa a justiça social e a unidade nacional.

A guerra civil de 16 anos e as dívidas ocultas são, segundo os autores, parte da principal fonte dos dissabores dos moçambicanos, causados pelos homens aos quais falta a ética.

Por isso, Severino Ngoenha e José Castiano reuniram numa sala, em Maputo, dezenas de pessoas, com o objectivo de chamar a atenção para a necessidade de pensar Moçambique.

“Estamos num mau momento, muito mau, talvez um dos piores momentos que já atravessamos. Hoje, podemos acordar com um Moçambique dividido, o tribalismo e o regionalismo estão na ordem do dia. Há muitos interesses externos que querem isso. Acho que é a coisa mais desastrosa que poderia acontecer. Nós não podemos aceitar isso cegamente. Estamos num momento em que, mesmo ao nível dos partidos, estão desnorteados”, vincou Severino Ngoenha.

Severino Ngoenha defende que diferente do que acontece, os políticos em Moçambique deviam ser eleitos pelos seus projectos de governação.
“Os que se propõem a Presidente da República devem ser eleitos por apresentar os seus projectos, apresentar o que cada um porta, não ser eleito porque nasceu no Sul, Norte, Centro, Este ou Oeste. A educação, neste país, é um desastre, a saúde é pior, não há habitação, não há escolas, estamos em guerra. Por isso, devemos questionar o que cada um dos candidatos, aquele que quer ser Presidente da República porta, o que ele quer fazer, quais são os seus projectos de sociedade”, defendeu Ngoenha.

Lançado, pela primeira vez, na cidade da Beira, em 2019, “Manifesto por uma terceira via” traz também a reflexão sobre os poderes que alguns órgãos acumulam.

“Pessoalmente, penso que, de facto, o que se pode seguir ao debate é olharmos para que natureza de instituições e como podem ser reconfiguradas, no sentido de no mínimo encontrarmos consenso. Quando falamos de instituições, também devemos falar sobre os valores que devem estar subjacentes a estas instituições, como justiça social”, referiu José Castiano.

A expectativa do filósofo é que Moçambique possa viver com um mínimo de consenso e com justiça social.
No livro, “Manifesto por uma terceira via”, dividido em oito pontos, os autores traçam uma série de argumentos, que resultam da leitura sobre os diferentes estágios da nossa jovem história, para sustentar a sua tese.

Com efeito, defendem que, para a proposta que apresentam, incluir o passado colonial seria contraditório, pois esta fase é marcada pela negação do sujeito moçambicano.

Para o apresentador da obra, o jornalista e jurista Tomás Vieira Mário, “Manifesto por uma terceira via” apresenta a necessidade “de irmos ao Estádio da Machava, não para ouvirmos o discurso do Presidente Samora, mas para nos olharmos nos olhos e dizermos o que queremos: o regresso da colónia ou continuar a marcha libertária. Dizermos o que estamos dispostos a fazer para mantermos a nossa independência e definirmos como queremos viver juntos”, frisou Tomás Vieira Mário.

Severino Ngoenha e José Castiano sugerem que não é, necessariamente, o papel de um grupo específico, seja ele partidário seja associativo, pensar o país, mas de todos os moçambicanos.

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