“Não há investimento cultural para páginas literárias neste país, como não há, no próprio texto jornalístico que nós lemos nos jornais, o mínimo de eficácia comunicacional, de referencialidade à língua portuguesa (se é escrita em português) que seja perceptível de alguma maneira”. Estes foram os pronunciamentos de Luís Carlos Patraquim à volta do tema “Jornalismo, engrenagem literária” num debate havido sexta-feira na Fundação Fernando Leite Couto.
Patraquim é uma voz autorizada quando o assunto é jornalismo e artes no país, até porque foi por isso que o autor da recente obra “Deus Restante” foi convidado como orador dessa palestra testemunhada maioritariamente por jovens escritores e jornalistas. Ou seja, público certo.
Patraquim não se deu o trabalho de procurar palavras mais suaves para exteriorizar o seu pensamento sobre aquilo que é o jornalismo cultural praticado actualmente: “Não temos uma página cultural em Moçambique a sério, ninguém liga a isso”, reclamou.
No segundo momento, Patraquim disse haver “falha de qualidade muito grande, muito sinceramente”, reiterou. No pensamento do pseudo-jornalista esse problema deve-se a educação defeituosa conjugada com outros assuntos. Para o orador é um “grande equívoco pensar que o erro é uma derivação nacionalista do moçambicanismo que não está lá. Por que não está lá? Porque essas coisas não se inventam, vão acontecendo num processo sociológico, político, cultural, de aprendizagem”.
Precisamente, Patraquim critica o facto de as páginas dos jornais esquivarem-se por completo dos assuntos culturais: “Não há nenhuma análise crítica de absolutamente nada”, rematou. Concorda apenas que há pequenas notícias, regra-geral, repetindo comunicados de imprensa de algumas entidades.
Como que a identificar o problema de facto, num tom certeiro, o palestrante disse que peca-se quando se transforma a oralidade para a escrita. Neste quesito há questões de gramática e de técnicas que os jornalistas desrespeitam por incompetência. “Estamos numa sociedade de pequeno espectáculo e de muita ignorância a este nível”, despejou.
Em Moçambique vive-se com medo
Não é só de jornalismo cultural que Patraquim dissertou na sessão de aproximadamente duas horas, que contou com a moderação do jornalista José dos Remédios. O jornalismo investigativo também foi chamado à mesa, mas a crítica não mudou. Aliás, para o orador nem se quer existe o jornalismo de investigação, porque quem o fazia foi assassinado
“Neste momento, há medo. Em Moçambique vivemos com medo, acabou o jornalismo de investigação”, concluiu.