No Museu Mafalala, na capital do país, em Maio, decorreu uma residência artística subordinada ao tema “A literatura como exemplo de cidadania na periferia de Maputo”, que reuniu sete jovens entre os 18 e 25 anos de idade, provenientes de Maputo, Cabo Delgado, Inhambane, Niassa, Sofala e Tete, com diferentes ocupações nas artes, entre dança, música, literatura e desenho.
De acordo com uma nota de imprensa, a residência artística foi organizada pelo Museu Mafalala, com o financiamento da União Europeia no âmbito do Programa de Apoio aos Actores Não-Estatais (PAANE), iniciativa que visa reforçar a democracia participativa, representativa e sensível ao género em Moçambique, através do envolvimento das autoridades públicas e da sociedade civil num diálogo democrático sustentável.
No fórum, acrescenta a nota, os jovens tiveram a oportunidade de aprofundar conhecimentos sobre cidadania, sobre o papel da arte na sua construção, e sobre a história do bairro da Mafalala e sua importância na construção do país.
Numa etapa inicial, a residência artística contemplou a realização de oficina de literatura e performance cuja curadoria esteve a cargo da actriz e encenadora Lucrécia Paco e do escritor e jornalista Eduardo Quive, ainda com a participação do jornalista Elton Pila e do designer e escritor Mélio Tinga.
A oficina percorreu o contexto histórico da literatura moçambicana no contexto de periferia, olhando, sobretudo, para um dos maiores poetas da história de Moçambique, José Craveirinha, em celebração do seu centenário.
A partir de José Craveirinha, a capacitação olhou para a poesia como forma de intervenção social, participação e engajamento. Ainda durante a oficina literária, os participantes foram submetidos a exercícios práticos sobre activismo literário, trabalho colaborativo, planificação e orçamentação, bem como a auto-publicação e edição de modo a explorarem melhor as oportunidades a nível local, mesmo confrontados com a falta ou escassez de recursos.
Com Lucrécia Paco, os participantes mergulharam na arte da performance, aprendendo a usar a arte, para expressar não só a sua criatividade, mas também a transmissão assertiva das mensagens através das suas obras de arte.
Na segunda etapa, a residência artística esteve focada no trabalho sobre a vida e obra do fotojornalista Ricardo Rangel, e do artista plástico e poeta Malangatana, dois contemporâneos de José Craveirinha.
Neste capítulo, o historiador e docente universitário, Rui Laranjeira, orientou sessões sobre o contexto histórico, social e político da época em que José Craveirinha, Noémia de Sousa, Malangatana e Ricardo Rangel viveram. Esta acção contou com a colaboração do Centro de Documentação e Formação Fotográfica, que para além de fazer uma resenha da vida e obra de Ricardo Rangel, ofereceu um curso de fotografia aos participantes da residência artística. Ainda nesta jornada de formação, a Casa Museu Malangatana proporcionou aos jovens artistas uma viagem ao íntimo e familiar de Malangatana.
Com o financiamento da União Europeia, a Associação IVERCA poderá locar recursos a vários actores sociais, entre colectivos e singulares, para a realização de um conjunto de actividades culturais, entre festivais de arte, concertos, formações, debates e seminários, exposições, oficinas, concursos, entre outras actividades.