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Neta de Rui de Noronha agradece pela homenagem ao avô

Magda de Noronha agradeceu, esta sexta-feira, ao Conselho Municipal de Maputo, por distinguir, a título próstomo, o poeta Rui de Noronha. O precursor da poesia moçambicana morreu há 80 anos, vítima doença.

 

No segundo dia da Feira do Livro de Maputo, a neta de Rui de Noronha, Magda de Noronha, revelou aos participantes do evento que, durante muitos anos, a pessoa e a obra do precursor da poesia moçambicana foram realidades distantes de si e dos seus irmãos. Por um lado, o facto de o pai de Magda de Noronha ter falado do poeta com muita admiração e carinho, não aproximou os seus filhos à figura do avô. Por outro, “a avó, que connosco passou a viver em 1976, não falava muito sobre Rui de Noronha, falecido, recorde-se, em 1943”.

Ora, apesar de viver em Portugal, segundo esclareceu a neta de Rui de Noronha, a dimensão africana, por assim dizer, nunca foi esquecida, mas estava, de certa forma, adormecida. Aliás, foi nos últimos 25 anos, já depois do falecimento dos seus pais, em 1993, que, através da tia, Elsa de Noronha, vivamente apaixonada pela obra do pai e pessoa incontornável na análise e divulgação passaram a conhecer a obra do poeta. “E foi com essa paixão da nossa tia Elsa que a africanidade nos chegou, e chegou-nos fortemente, precisamente, com o reconhecimento que fomos tendo da obra do nosso avó tão impregnada, que é de África, pelos seus sentimentos, pelos seus anseios e da sua mundividência”, disse Mgada de Noronha, no momento em que, no pódio, interveio em nome da sua família em relação à Distinção Autárquica com a Medalha Acácia Rubra de Excelência. E ainda acrescentou: “Mas só hoje, aqui, realizamos toda a admiração da sua obra e estatura de poeta, as quais a comunidade moçambicana, hoje, presta tributo e nós, os netos, nos vergamos. Hoje somos nós que despertamos para África e perante nós a África surge e é boa”.

Para a neta de Rui de Noronha, falando em nome da família, “É, pois, com muito orgulho e com imensa alegria, que aqui estou, em representação do meu pai, da minha tia e dos meus irmãos. Agradecemos a esta homenagem póstuma a Rui de Noronha”.

Como que a responder ao gesto municipal, a família Noronha ofereceu ao Conselho Municipal de Maputo o espólio do precursor da poesia moçambicana.

Intervindo na cerimónia, o professor de Literatura e ensaísta, Francisco Noa, sublinhou que Rui de Noronha deixou um registo indelével na literatura moçambicana, por ter feito da sua escrita um equilíbrio entre a expressão poética e social. “Não deixou de olhar para questões sociais, ligadas, normalmente, às pessoas e às camadas mais marginalizadas da sociedade. Preocupou-se com os magaizas, com os velhos que não tinham condições. Mas também preocupou-se com uma ideia de África”.

No mesmo registo que Noa, Eneas Comiche acrescentou que “Rui de Noronha soube usar da arte da palavra para manifestar a sua posição contra as atrocidades coloniais”

 

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