Segundo www.infopedia.pt mudança pode ser definida como sendo: “acto ou efeito de mudar; “introdução de novidade no modo habitual de fazer algo”; “processo pelo qual algo ou alguém se torna diferente do que era”; “alteração, modificação, transformação”.
Diante da inovação rápida do mundo tecnológico, as empresas e as pessoas estão em constantes mudanças. Nas empresas podemos definir mudanças como sendo processo que visa atingir novos objetivos. As razões, que motivam a necessidade de uma mudança em ambiente empresarial, podem ser de nível tecnológico, operacional, estrutural, estratégicos, econômicos ou sociais.
O controle de assiduidade dos colaboradores, usando um sistema de “Finger print”, era o novo projeto da empresa. Gerson, confio-lhe a gestão deste projeto: disse-me o meu manager na altura. Depois de meses a percorrer a empresa para a montagem das máquinas, cuja a instalação havia sido confiada a uma empresa Sul-Africana, chegou o momento de colocar o projecto em prática. O resultado foi quase nulo, mais de 80% dos colaboradores não aderiram à solicitação da direção. Os meus colegas diziam: “Gerson, tuas máquinas” quando se referiam ao sistema.
Hoje, acredito que o fracasso deste projecto foi resultado da minha incompetência, na altura, na gestão de projectos, aliada a falta de conhecimento sobre relações humanas. Minha arrogância e vontade de me sentir importante não me permitiram ter lucidez suficiente para compreender que eu representava apenas uma parte mínima do projecto. Recordo-me que por vezes passavam colegas e perguntavam “Gerson, Khasi amulungu ayentxa yini”?* Fazendo referência ao técnico sul-africana que montava as máquinas. E eu não respondia ou respondia torto (“estória” de criar suspense; me dar importância).
Ao nível do Governo moçambicano também já vimos vários projetos fracassarem, como é o caso do projeto “jatropha” pensado pelo sua excelência Armando Guebuza. Me lembro de ver na televisão que todas as vezes que o ex-presidente falava do projeto, falava como projeto próprio, no qual nós o povo devíamos apenas seguir. Embora o fracasso do projecto não esteja apenas ligado à questão de gestão, resta um exemplo de projeto em que os principais actores são incitados apenas a seguir e não a colaborar.
Resistência à mudança
Os seres humanos são os únicos seres vivos com a capacidade de racionalizar uma mudança de vida. Nós temos capacidade de mudar a nossa maneira de ser, de estar, de adquirir novos hábitos e costumes, mudar lugar, de parceiros, de alimentação ou mesmo de aprender novas línguas antecipando necessidades. Enquanto que os outros seres vivos, não racionais, mesmo quando mudam, geralmente o fazem em resposta a um estímulo externo (p. ex uma alteração ao seu meio) ou obedecendo a códigos genéticos e instintos. No entanto, nós seres humanos somos muito resistentes quando se trata de fazer mudanças, sejam a nível privado ou profissional. Somos muito apegados aos nossos hábitos, costumes e principalmente cultura (organizacional incluso). Os hábitos são um tipo de memória consolidada nos nossos cérebros e que nos permitem realizar certas atividades de maneira quase inconsciente. Nossa resistência a mudanças vem de um lado das nossas “crenças” mas também do “medo”. As nossas crenças são geralmente criadas e consolidadas durante a infância. O medo de novo nos paralisa, o medo faz com que sejamos apegados às nossas crenças como forma de nos protegermos do sofrimento, esta é uma das características inatas dos seres humanos.
Como gerir com sucesso um processo de mudança
Para efectuarmos da maneira acertada qualquer tipo de mudança no seio da empresa a escolha do gestor do projecto é primordial, sem esquecer que as “outras partes envolvidas” devem ser consultadas antes, durante e depois da implementação do projeto.
Um processo de mudança nas empresas deve ser bem analisado. Primeiro saber se a mudança é necessaria: se os resultados actuais são satisfatórios não existe necessidade de efetuar qualquer tipo de mudança, salvo excepções. No entanto, podemos medir os riscos e ameaças do projecto para saber se realmente vale a pena mudar ou não. Em seguida é preciso passar por um processo de comunicação, que visa sensibilizar as partes envolvidas a se engajarem no projecto, é nesta altura em que o gestor do projecto joga um rol importante. Suas qualidades em gestão de pessoas e sua capacidade de comunicação serão colocados à prova. Assim que as partes envolvidas se sentem confortáveis com a mudança, ou percebem a sua importância para o sucesso da empresa, juntos e em equipe pode se planejar o processo de mudança na empresa. Capacitação e treinamento são uma parte importante do processo, pois por mais que o projeto seja bom, se os colaboradores não estiverem preparados para usar a nova tecnologia p.ex, o projecto poderá resultar num fracasso. implementação, monitoria dos resultados e ajustes vem a seguir e nesta altura também, o trabalho em equipe é necessário para o sucesso do projeto.
Quando um processo de mudança nas empresas segue mais ou menos estas directrizes, as chances de sucesso são consideráveis.
Mudar faz parte da vida. Conforme envelhecemos, adquirimos novas experiências e vivências, nossa mente expande, nossas ambições profissionais, bem como as pessoas, evoluem, a mudança é natural e não deveríamos ter medo. Os passos, acima referidos, para um processo de mudança eficaz no seio das empresas, podem servir para fazer mudanças nas nossas vidas (privadas e profissionais), obviamente com algumas alterações. Não é fácil, mas é possível sair de uma situação profissional e pessoal desastrosa se implementarmos com coragem os métodos que convém à situação, associados de persistência, consistência e sobretudo de muita fé. É sim possível conseguirmos o trabalho dos nossos sonhos ou empreendermos na área que desejamos, assim como ter uma vida privada próspera.
Para terminar gostava de dizer que mudanças fazem parte de um ciclo de vida. Se nós não mudarmos, as coisas mudam é inevitável. Iniciamos um novo ano que se apresenta próspero, depois de um 2020 inédito. 2020 foi um ano cheio de desafios mas também de muito aprendizado. Já iniciamos e teremos de dar continuidade a um processo de mudanças nas nossas vidas privadas e profissionais, temos de ter coragem para as enfrentar, como diz o nosso prestigiado artista Stewart Sukuma no seu mais recente single “acreditar que tudo vai ficar bem” e eu acrescento dizendo que: “juntos somos capazes”! É assim que temos de enfrentar os desafios que 2020 deixou ao nosso Moçambique em quase todos os domínios. Bom ano de 2021 a todos moçambicanos.
*Gerson, o que o branco está a fazer afinal? (changana: língua do sul de moçambique)
Recomendação de Música a escutar em Janeiro de 2021: “Acreditar – Stewart Sukuma”
Samuel Gerson Andrisse
Especialista de recrutamento
Autor do livro “Be ready for your next job interview”