A vila de Mocímboa da Praia está totalmente destruída e os militares dizem que ainda não segurança total para que a vida volte à normalidade, algo que vai levar tempo, uma vez que não há nenhuma infra-estrutura pública nem privada que foi poupada pelos terroristas. Os camiões de carga e até a mercadoria que estava no interior dos contentores… tudo foi queimado.
Aquela já foi uma vila bastante movimentada e com uma economia muito dinâmica impulsionada pelo próprio porto, pela pesca, comércio geral e agricultura. Mas, hoje, Mocímboa da Praia resume-se em escombros.
E, como forma de demonstrar a afronta à soberania do Estado moçambicano, os terroristas destruíram os edifícios, onde funcionam os principais serviços públicos, como por exemplo, o Tribunal Judicial. A residência do administrador local foi, igualmente, queimada pelos atacantes.
Guarnecida pela força ruandesa, a esquipa do “O País” foi até à residência oficial do presidente de autarquia que foi construída recentemente e o cenário não podia ser diferente – destruição. Os bancos não escaparam da fúria dos malfeitores que deitaram abaixo a agência do BCI e queimaram a agência do Millennium Bim. Os terminais rodoviários e os seus autocarros foram reduzidos à cinza. Lojas, barracas e até residências pessoas não foram poupados.
As Forças de Defesa e Segurança (FDS) e as tropas ruandesas têm, agora, o total controlo da vila, mas consideram ser ainda cedo para receber a população. Nas rusgas que estão a fazer na vila, encontraram diverso material bélico usado pelos terroristas, mas também manuais de formação militar usados pelos malfeitores para treinarem os seus recrutas.
Um dos documentos achados é o mapa da vila de Palma com detalhes até das posições das FDS que, eventualmente, foi usado para preparar o ataque de Março último àquela vila.
AEROPORTO DE MOCÍMBOA DA PRAIA INOPERACIONAL
Técnicos da empresa Aeroportos de Moçambique foram, esta quarta-feira, avaliar a possibilidade de repor a capacidade de assistência a aeronaves do aeroporto de Mocímboa da Praia. No local, verificaram que nenhum equipamento de apoio à navegação aérea sobrou.
André Alberto é controlador aéreo de profissão. Desde o ano de 2011, estava afecto ao Aeroporto de Mocímboa da Praia. Um mês e meio antes da ocupação da vila, foi transferido para Pemba e, esta quarta-feira, retornou ao local que, durante nove anos, foi o seu posto de trabalho. Subiu à torre e, de perto, viu que o equipamento que até ajudou a montar foi consumido pelas chamas postas pelos terroristas.
Em 2019, o aeroporto foi reabilitado e reequipado com instrumentos modernos que fizeram com que fosse aberto para receber voos de provenientes e/ou com destino a países vizinhos e André acompanhou de perto o processo. Um dos seus colegas que o substituíram sobreviveu aos ataques, mas custa-lhe crer que os instrumentos adquiridos com muito esforço desapareceram num ápice. Apesar do cenário descrito, a infra-estrutura está a ser, agora, usada para apoio às operações militares.
MILITAR SOBREVIVENTE
Em Mocímboa da Praia, “O País” encontrou um militar que foi dos últimos a deixar a vila no dia 27 de Julho de 2020. Ele conta que não faltou valentia e bravura aos militares das FDS para evitar a ocupação, mas o que falhou foi a logística.
Incumbido à missão de retirar o administrador de Mocímboa da Praia, um ano depois regressou aonde foi destacado há quatro anos, recorda que os militares que estavam estacionados na vila deram o melhor de si para que a mesma não fosse ocupada pelos insurgentes.
Agora, volta à Mocímboa da Praia mais moralizado e com vontade de continuar a dar o melhor de si, para que a população possa regressar à zona de origem e viva sem medo de um eventual novo ataque. Com apoio da força ruandesa, as FADM procuram alargar o perímetro de segurança em Mocímboa da Praia.