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Moçambique prefere conhecimento que vem de fora das universidades, diz Lourenço do Rosário

Foto: O País

O conhecimento produzido pelas universidades tem sido ignorado no país, em detrimento do produzido fora delas, defende o professor Lourenço do Rosário. O académico advoga maior autonomia das universidades para que transmitem conhecimento crítico à sociedade.

Lourenço do Rosário falou, esta quarta-feira, durante a aula inaugural da Universidade Pedagógica de Maputo, sobre as universidades, a sua qualidade e a sua relevância na sociedade. O Professor Doutor considerou que a academia está a ser “mal” aproveitada no país.

“Não é justo que todo o acervo de produção científica ao longo dos quase 50 anos de independência não seja devidamente reconhecido, aproveitado e inserido nas dinâmicas do desenvolvimento do país. Trabalhos académicos e de grande valor jazem nos arquivos das próprias universidades”, lamentou.

Segundo o académico, o Estado e a sociedade em geral preferem contratar entidades de fora das universidades para consultorias, o que faz com que estas instituições não sejam reconhecidas a nível nacional, nem internacionalmente.

Segundo Do Rosário, esta é uma das razões para a “fuga” de estudiosos nacionais para outros países, onde dão continuidade a seus trabalhos científicos, lesando, desta forma, a nação.

“Assim, somos levados concluir que o ensino superior em Moçambique tem desempenhado o seu papel de uma forma heróica, porque, apesar de o senso comum considerar reiteradamente que os quadros que são produzidos não têm qualidade, é normal ouvirmos que o país possui muitos e bons quadros e que o país se tem beneficiado desses quadros para desenvolver as suas actividades”. Para o orador, isso é um paradoxo, por isso, em forma de provocação, questionou: “Afinal, somos bons ou não somos?”

Outro aspecto que destacou foi a autonomia das universidades. Segundo o académico, o Estado deve deixar de interferir no trabalho das universidades, que é formar o Homem nas diversas áreas do saber.

“O que a universidade quer é que o Estado deve reconhecer o seu papel relevante, respeitando os princípios da autonomia, caracterizados pela tradição e história universal, não sendo a universidade um órgão de soberania do Estado, tal como o legislativo, o judiciário e o executivo ”, afirmou.

Do Rosário vincou que o Estado não deve esquecer-se de que a soberania das universidades está na produção do conhecimento e do pensamento que alimenta a dinâmica do desenvolvimento da sociedade.

“Este equilíbrio de respeito entre o dever do Estado de criar meios adequados para os espaços universitários, sem que ao menos tenha a tentação de interferir na autonomia universitária, afigura-se de difícil gestão, porque a tendência é controlar e determinar as dinâmicas que favorecem, não só a imagem, como também os desígnios dos próprios regimes políticos.”

Para conseguirem impor-se na sociedade, Do Rosário sugere a união das universidades.

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