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Mistérios e Tendências da Capulana

No ano em que a Fundação Fernando Leite Couto comemora o seu quinto aniversário de actividades culturais, exibe na Galeria, a segunda exposição de 2020, a individual de cerâmica, intitulada: ”Mistérios e tendências da Capulana” do artista moçambicano Arsénio Massunga (Massunganhane de nome artístico).

Massunganhane fala connosco através da sua arte, rasgando o tecido do quotidiano com as suas obras bordadas de aspectos chave, que contam as nossas histórias e nos levam imediatamente a múltiplas questões sobre a forma como representa o corpo humano, simultaneamente criativo e provocativo aos nossos olhos.

A representação humana, tem constituído ao longo dos tempos um desafio e uma preocupação para os artistas plásticos, em todas as vertentes da arte, na pintura, na escultura, na fotografia ou mais modernamente nas artes digitais.

A Cerâmica não poderia constituir excepção na representação do corpo humano que, em África, data de tempos imemoriais sempre intimamente ligada aos costumes, tradições, língua, religião e cultura das diversas regiões. Uma representação que é constantemente modificada e alterada segundo determinam os acontecimentos de cada época, sejam de ordem sociais como política. 

Ver e descobrir aquilo que as imagens criadas pelo artista nos sabem dizer sobre as identidades individuais de cada delas e sobre a forma como “conversam” entre si, os pormenores ocultos que sintetizam as nossas mulheres é desafiante.

O jovem Massunganhane procura, através das suas esculturas de formas bizarras alojar uma série de práticas e percepções, seguindo um rumo onde coexistem fenómenos e processos no espaço e no tempo.

Explora o tema do corpo humano e relaciona-se com a sociedade através de um mundo utópico de figuras modificadas que os nossos olhares vão percorrendo e filosofando a cada uma delas, à medida que avançamos através da exposição.

Inspira-se nos modos, hábitos e costumes das comunidades por onde anda, dos lugares que visita durante as suas pesquisas e, em particular, do meio social onde vive.

O artista examina constantemente a história, investiga e interconecta-se com ela para representar as emoções, os sentimentos, as convicções, as ambições de cada um. É deste modo que utilizando o barro Massunganhane vai moldando o passado e o futuro.

Habilmente vai recriando as formas esculturais e os movimentos sensuais do corpo humano representando os seus modos de ser e de estar. Nas suas figuras adota uma abordagem própria das multiplicidades inerentes à prática artística dos ceramistas de várias regiões.

Com perspectivas intemporais e físicas percorre a história do seu País e das suas gentes, recolhendo sentimentos e identificando através dos instrumentos e hábitos a sua cultura e tradições, tal como o uso da Capulana, que, com origem há muitos séculos atrás, vai adquirindo outras nuances sociais, sem nunca perder valor.

O artista desenvolve um verdadeiro trabalho de procura e de respostas para a relação da mulher e do mundo. Uma espécie de comunhão entre o feminino e o seu corpo enfeitado de capulana, que de maneiras diversas encontra a formulação para as questões da nossa diversidade cultural

É assim a escultura de Massunganhane, que se transforma e molda docemente nas suas mãos e que se redimensiona à condição de vivente no mundo. É assim como a Capulana, símbolo de riqueza, prestígio e poder no século XV e hoje um importante acessório de vestuário rico em cor e design.

As obras de Masdunganhane sabem guardar segredos. São assim também as Capulanas que enchem os baús das belas esposas, mães e avós moçambicanas e que calam os seus segredos trazendo, cada uma, o seu propósito. São assim as obras de Massunganhane enigmáticas, plenas de sensibilidade e nuances que sabem dar voz à realidade do Moçambique contemporâneo.

 

 

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