O sequestro do fujão ou o desamparo das flores no escuro é o título da história de Miguel Luís que se destacou na edição 2020 do Concurso Literário Maria Odete de Jesus. O anúncio foi feito esta terça-feira.
São 10 horas em Sintra, Lisboa. O escritor Sérgio Raimundo (Poeta Militar) pega no seu celular e informa ao amigo Miguel Luís que em Portugal chegam boas notícias de Moçambique. Como que excitado pela novidade revelada pelo autor de A ilha dos mulatos, Miguel Luís interrompe o trabalho por breves minutos e vai ao Facebook. Lá vê um post do escritor Pedro Pereira Lopes, dando a conhecer que O sequestro do fujão ou o desamparo das flores no escuro é o grande vencedor do Concurso Literário Maria Odete de Jesus 2020. Nesse instante, o prémio logo significou ao laureado reconhecimento de um trabalho contínuo que envolve muita leitura, escuta e escrita, e, claro, soou-lhe como uma voz especial que lhe sussurra aos ouvidos: “coragem, Miguel!”.
Depois de ver a publicação sobre a atribuição do prémio ao seu texto, Miguel Luís entrou em contacto com a organização do prémio, conforme a recomendação, já que a organização não conseguia o contactar. E o autor de O sequestro do fujão ou o desamparo das flores no escuro compreendeu que ali não havia equívocos. De facto, a sua narrativa infanto-juvenil, que explora o drama do sequestro e o tráfico de menores em Moçambique, destacou-se num concurso constituído para incentivar o gosto pela leitura, bem como a valorização da produção literária.
A escrita de O sequestro do fujão ou o desamparo das flores no escuro começou com uma voz que andava na cabeça do autor, a gritar memórias de alguns episódios da sua infância. “À determinada altura, a voz tornou-se muito presente e incómoda. Quando vi o regulamento do concurso, pensei que seria interessante juntar o útil ao agradável e comecei a escrever. No fim da primeira versão do texto, notei que se tratava de uma narrativa que ia para além da minha infância”, explicou Miguel Luís, esta terça-feira, a partir de Sintra, onde trabalha.
Ao compor a sua história, Miguel Luís quis expor que o drama do sequestro e o tráfico de menores roem o sorriso das crianças e o futuro do país. “Por isso que, para mim, escrever este livro serviu como um acto de resistência contra alguns dos vários silêncios que fazemos como nação. O sequestro do fujão ou o desamparo das flores no escuro é para mim um grito contra aqueles que tentam transformar as crianças em flores murchas”.
A história de Miguel Luís foi escrita entre Janeiro e Fevereiro deste ano, tendo-se destacado num concurso que teve 16 participantes. A distinção no Concurso Literário Maria Odete de Jesus contempla um valor pecuniário de 50.000 meticais, além da edição em livro. Quanto à entrega do prémio, será Novembro, em Maputo.
A edição 2020 do Concurso Literário Maria Odete de Jesus, promovido pela Universidade Politécnica, esteve aberta à literatura infanto-juvenil (prosa). O júri foi constituído por Gilberto Matusse (professor de literatura, presidente), Maria João de Ataíde Carrilho Dinis (pesquisadora de língua portuguesa) e Teresa Noronha (editora).
O autor Miguel Luís
Miguel Luís José nasceu em Maputo. Frequentou o curso de Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia no Instituto Superior de Relações Internacionais (Maputo), o qual interrompeu em 2016, para tirar o curso de Licenciatura em Direito na Universidade de Lisboa, onde foi tutor da cadeira Economia II do primeiro ciclo, e também frequentou as pós-graduações em Ciência da Legislação e Legística e Pós-graduação em Corporate Finance. Actualmente, é Advogado-Estagiário na Abreu Advogados, Presidente do Grupo Especial de Jovens Advogados da Federação dos Advogados de Língua Portuguesa e frequenta o Mestrado em Estratégia de Investimento e Internacionalização no Instituto Superior de Gestão, em Lisboa. Tem colaborado em publicações com jornais e revistas moçambicanas, como O País, Revista Literatas, Pirâmide, e internacionais, como os jornais portugueses Público e É Agora. Em 2015, foi distinguido com a Menção Honrosa do Prémio Eloquência Camões 2015 e, em 2021, foi distinguido com a Menção Honrosa do Prémio Hernâni Cidade 2020.