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Mélio Tinga vai “ampliar a voz” de Sebastião Alba na residência literária em Lisboa

O escritor Mélio Tinga foi seleccionado para uma residência literária em Lisboa, capital portuguesa, de 1 a 31 de Maio. Durante um mês, o autor de Marizza vai procurar enaltecer, através da ficção, a memória de Sebastião Alba.

Há 10 dias, Mélio Tinga foi laureado como impulsionador do design em Moçambique, na primeira edição do Prémio das Indústrias Culturais e Criativas (PREICC). Momentos depois de receber o galardão concedido pelo Ministério da Cultura e Turismo, o artista considerou a sua distinção uma chamada de atenção para a importância da área do design na vida das pessoas de forma perceptível.

Uma semana depois da consagração na gala das indústrias culturais e criativas, Mélio Tinga volta a receber uma excelente notícia: o seu projecto de residência literária na capital portuguesa foi aprovado pelo Camões – Centro Cultural Português em Maputo e pela Câmara Municipal de Lisboa. Desta vez, ao reagir ao reconhecimento do seu trabalho na qualidade de escritor, primeiro, Mélio Tinga explicou que entre 1 e 31 de Maio vai procurar dar mais vigor a um autor que não deve ser abafado pela morte: Sebastião Alba. “Levo para Lisboa dois sapatos, a roupa do corpo, um projecto narrativo de natureza ficcional que pretende ampliar a voz de um poeta quase mítico, esquecido no nosso universo – Sebastião Alba – cuja a vida lhe foi muito difícil, mas a poesia e a música lhe salvaram, a verdade e a lucidez espantosa, também, antes do atropelamento que lhe tirou a vida em 2000”.

Para Mélio Tinga, ficcionar Sebastião Alba é uma prioridade nessa tentativa de combater o esquecimento generalizado. Assim, o recurso à memória será algo a preservar através da sua escrita.

Embora saiba o que pretende explorar na residência literária em Lisboa, Mélio Tinga admite que em termos de processo criativo, é difícil prever como algumas coisas irão exactamente acontecer. “Tenho um processo mais ou menos firme que, claro, havendo necessidade pode ser moldado. Mas o mais importante é o contexto, o ambiente, as pessoas, isso é o que neste momento importa explorar. Tenho uma espécie de estrutura macro, agora, avançámos para a argamassa”.

Ao mesmo tempo que, para Mélio Tinga, a relação com as pessoas é o mais importante, poder ter mais tempo para se dedicar à oficina da escrita é algo que o satisfaz. Até porque, lembra: “António Cabrita costuma dizer que o maior activo do poeta é o tempo. Porque escrever e pensar o texto literário exige tempo, disposição e concentração. A maior importância desta iniciativa é permitir que o autor tenha tempo para pensar e concentrar-se no seu projecto literário, sem as tribulações rotineiras. Para além disso, tenho a convicção de que, quando os autores circulam, os livros também circulam, a palavra está em movimento, as histórias do seu país estão consigo, encurtamos as distâncias e permitimo-nos chegar a outros leitores, a outros mercados literários e aprendemos do outro, também”.

Há alguns anos, Mélio Tinga lançou dois livros em Portugal, Marizza, distinguindo do Prémio Imprensa Nacional/ Eugénio Lisboa e a engenharia da morte. Também por isso: “Penso que esta [residência] é, acima de tudo, uma oportunidade para dar a cara”.

 

 

 

 

 

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