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Mélio Tinga purifica-se com a engenharia da morte

O escritor apresenta o seu segundo livro de contos às 18 horas de quarta-feira, numa cerimónia a acompanhar pela Internet.

 

Em Ferramentas para desmontar a noite, livro de Japone Arijuane, uma voz diz o seguinte: “por vezes penso que sou toda a gente/ em toda a gente me sinto outro e outros” (p. 19). Coincidentemente, saber ser toda gente (amigos, colegas, familiares, e etc.) e aí encarnar as dores dos outros foi o que permitiu Mélio Tinga escrever o seu segundo livro: a engenharia da morte, que será apresentado às 18h de quarta-feira, a partir da página Facebook do Camões – Centro Cultural Português e do canal YouTube da Revista Literatas.

Na voz do autor, a engenharia da morte é uma espécie de questionamento e frustração, relacionados com a incapacidade de o Homem assegurar que os seus ente queridos continuem vivendo, quando o além bate à porta. Assim, de algum modo, Mélio Tinga quis exprimir o poder que a morte tem em desafazer relacionamentos quando bem entende.

Os 19 contos do segundo livro de Tinga, em geral, partem de experiências em que o escritor se situa num lugar secundário em relação aos factos que o fizeram escrever, porque, “às vezes, sentimos mais dor na dor dos amigos que perdem os seus. Tenho a mania de sentir a dor dos outros. Não gostaria que fosse assim, mas tem sido. As dores dos outros me fazem sofrer também”.

O livro a engenharia da morte começa a ser escrito no início do ano passado e continua em construção. Como assim, se já está impresso? “Há ali coisas sobre as quais continuo a reflectir”. Entre os 19 contos, estão “O cão que falava irlandês”, “A máquina do chinês”, “A madrugada do cavalo branco”, “Os vagões da morte” e “Enterrado vivo”. A versão imprensa tem 100 páginas, e Mélio Tinga gostaria que o livro fosse uma cura para os leitores, como continua sendo para si. “Escrever este livro acabou sendo um antídoto para qualquer coisa que me dói. Sinto que me fui purificando, enquanto escrevia; foi uma forma de lavar o corpo e espírito; uma purificação contínua”.

A apresentação do livro

O segundo livro de contos de Mélio Tinga, edição de autor, será apresentado por Ubiratá Souza. O académico brasileiro considera que “A literatura para Mélio Tinga é uma síntese de contemplação, inspiração, trabalho e transpiração”. Num texto sobre a engenharia da morte, o mestre e doutor em Literaturas Africanas pela Universidade de São Paulo destaca o diálogo que as narrativas de Mélio Tinga estabelecem com autores moçambicanos e com os de outros espaços de língua portuguesa. Por exemplo, Brasil e Portugal.

A cerimónia de apresentação do livro terá comentários e leituras do poeta Léo Cote e moderação do jornalista Eduardo Quive.

 

Perfil

Mélio Tinga nasceu em Maputo. Publicou O voo dos fantasmas (Ethale Publishing, 2018), fez parte de O hambúrguer que matou Jorge – antologia de contos criminais moçambicanos (Ethale Publishing, 2017), co-organizou e participou no livro Contos e crónicas para ler em casa Vol. I e II (Literatas, 2020) e coordenou e participou da antologia Idai – marcas em verso e prosa (Gala-Gala Edições, 2020). Tinga foi ainda finalista do Prémio 10 de Novembro 2019, com o livro inédito Outro dia a nuvem evapora. É formado em Educação Visual pela Universidade Pedagógica, e, actualmente, exerce a profissão de designer de comunicação. Tinga também é co-fundador da DESIGN Talk e editor da Revista DEZAINE.

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