Quarenta e sete anos depois da Independência Nacional, o distrito de Mabote nunca teve uma estrada alcatroada. A via que dá acesso ao distrito é de terra batida, o que retrai os investimentos e o turismo. A população diz estar cansada de promessas e pede uma estrada construída de raiz.
Que há problemas nas estradas do país já não é novidade. Entretanto, o que poucos moçambicanos sabem é que, volvidos 47 anos da Independência Nacional, o distrito de Mabote nunca teve uma estrada alcatroada. Tortuoso e desgastante é como se pode caracterizar a via, de 120 quilómetros, que parte de Mapinhane, na EN1, para o distrito de Mabote.
A equipa do “O País” percorreu o troço em quatro horas e chegou à vila do distrito à noite. O que se verificou foi uma vila calma e com poucas infra-estruturas. A existência de corrente eléctrica é um ganho, mas “tal energia não abrange todos. Não pode haver energia apenas na vila. Há casas sem energia a menos de 500 metros da vila”, disse Aristides Mundlovo, comerciante.
Na actividade há 10 anos, não esconde o desgosto de ter uma estrada naquelas condições. “A estrada está em más condições, várias vezes prometeram reabilitá-la, mas, até hoje, nada aconteceu. Mesmo os produtos são difíceis de ter, por isso acabam por ser mais caros.”
Segundo avançou, as promessas de uma estrada melhorada vêm de há décadas e até já se cansou de esperar.
Érica Cume, também residente no distrito, disse que o pior não foi o que vimos, o verdadeiro drama vive-se no período chuvoso. “Mapinhane parece muito longe, mas não é. Só é distante por causa da estrada. É muito difícil viajar nestas condições, quando chove os transportes de passageiros desaparecem, para viajar só podemos usar camiões. Há vezes em que ficamos todos o dia num percurso de 120 quilómetros, há cenários de carros que capotam e alguns avariam. ”
Uma vez que Mabote não tem universidades, Érica, estudante da 12ª classe, sonha em fazer enfermagem e tem planos de sair do distrito. “Daqui, o desejo é ir a Maputo. Tenho as minhas tias lá e elas irão ajudar-me. O ideal é que tivéssemos uma universidade aqui, mas ainda não temos”, lamentou.
Não são apenas as estradas que dificultam o rápido desenvolvimento daquele distrito, há outros serviços importantes que são prestados de forma deficitária. Encontrámos Brito Mazive a abastecer a sua viatura na única bomba de combustível do distrito. “O combustível está muito caro. Na bomba a gasolina, está a 93 Meticais, nas ruas, está a 120 Meticais. Quando não há combustível nesta bomba, os revendedores especulam os preços que até atingem os 150 Meticais por litro”, retratou.
Os residentes de Mabote lançam o grito de socorro. “Nós trabalhamos por contra própria e esses preços são insustentáveis. Além dos combustíveis, está esta estrada muito degradada. Pedimos a quem de direito que possa construir uma estrada melhorada”, pediu Joaquim Agostinho.
DISTRITO TEM APENAS UM BANCO PARA 55 MIL PESSOAS
Outro dado caricato é que o distrito tem um único banco para atender uma população de 55 mil habitantes. Grande parte dos edifícios da vila remete ao tempo colonial, não obstante estarem a surgir novas infra-estruturas, como é o caso da nova delegação do INSS.
É através do troço que vai dar à vila de Mabote que se pode chegar aos parques nacionais de Banhine e Zinave. Da vila de Mabote para o interior de Zinave, a nossa equipa percorreu mais de duas horas e meia para fazer 93 quilómetros. É através de uma estrada degradada que os turistas percorrem dezenas de quilómetros para ver as riquezas que o Zinave tem. Recentemente, o parque tornou-se no primeiro de nível nacional a ter todos os big-five, com a introdução do rinoceronte.
GOVERNO DE MABOTE DIZ ESTAR EM CURSO MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS
Bastante optimista, o administrador de Mabote garantiu à nossa reportagem já ter iniciado o processo de mobilização de recursos para a reabilitação da estrada. “Estamos a procurar soluções. O Ministério das Obras Públicas já nos apresentou algumas propostas. A nível do Governo central esta questão está no centro das preocupações, o mesmo acontece a nível do Governo provincial e distrital”, disse Carlos Mussanhane, entretanto, quando questionado sobre os prazos para o arranque das obras, o dirigente foi cauteloso.
“Não vamos avançar com datas, porque elas têm a ver com a questão das negociações. Temos estado a receber garantias de que o processo está encaminhado, vários grupos estão interessados em ter uma estrada alcatroada. Acreditamos que, a breve trecho, teremos boas notícias”, esperançou.
Além das riquezas faunísticas, Mabote produz, anualmente, entre quatro e cinco mil toneladas de castanha de caju, o que o torna no maior produtor desta cultura de rendimento na província de Inhambane.