O País – A verdade como notícia

Chuvas pioram inundações em bairros historicamente problemáticos

Há, entre as vítimas, quem pede o segundo reassentamento, depois de ter passado pela situação nas cheias do ano 2000.

A chuva dos últimos dias piorou a situação de famílias residentes em zonas baixas. Há, na periferia da Cidade de Maputo, avenidas debaixo da água, quintais quase “engolidos” e casas abandonadas.

No bairro de Magoanine C, vulgarmente conhecido como Matendene, o Estado pode voltar a ser obrigado a reassentar centenas de famílias que foram retiradas de diferentes bairros para aquela zona com a promessa de que, finalmente, esqueceriam o drama das inundações.

Matendene é o nome – em XiChangana – que foi dado ao bairro, na altura caracterizado por tendas usadas como casas para aqueles que foram afectadas pelas cheias do ano 2000, há exactos 24 anos.

Daquelas casas, já saíram pelo menos 60 famílias que foram acolhidas num centro de acolhimento provisório aberto numa igreja evangélica nas proximidades. Delas, pelo menos, seis tiveram de ali parar depois das chuvas dos últimos dias.

“Durmo aqui com os meus três filhos. Ao lado, há outras pessoas. Gostaríamos de estar em casa, em segurança. Viver em grupo não tem sido fácil”, disse à reportagem do jornal O País Maria João, mãe solteira que saiu de casa com os seus três filhos.

Pelos bairros ainda inundados, reza-se quase todos os dias, pedindo que a água da chuva não entre nos quintais ou, quando menos, dentro de casa, mas debalde. Muitas famílias já estão a viver esse drama.

Na Avenida Montes Libombos, em Magoanine C, Angelina, uma idosa de 67 anos, olha pela janela a água que já inundou a vedação da sua casa e a varanda, sendo apenas barrada por blocos improvisados para não entrar dentro de casa.

“Há dias, a água estava longe, mas, com a chuva dos últimos dias, tudo ficou alagado. A minha vedação está inundada”, conta-nos.

Enquanto conversávamos, chegou a vizinha Angélica Hobwana, também idosa, que, ao aperceber-se da nossa presença, nos leva à sua casa, ou melhor, ao que restou dela. De lá (um espaço de dois quartos e uma sala), não conseguiu retirar quase nada, antes de abandonar o seu lar e pedir abrigo na vizinhança.

“Não recuperei nada; está tudo lá dentro. Só peço socorro, porque estou a sofrer com os meus netos. Não tenho para onde ir. Pedi apoio a um vizinho para conseguir dormir”, conta e depois se emociona.

São histórias como estas que se repetem pelas zonas baixas dos bairros da Cidade de Maputo. Na sua mais recente actualização, a edilidade da capital informou que as inundações afectaram cerca de 42 mil pessoas.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos