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Manutenção da paz no país cabe a todos os moçambicanos

Foto: O País

Dom Germano Grachane defende que o papel de manutenção da paz não cabe apenas às igrejas, já que todos os moçambicanos devem tomar dianteira no processo de reconciliação nacional.

“Trinta anos da assinatura dos acordos de paz em Moçambique” é o lema da conferência internacional que decorre, entre quinta e esta sexta-feira, em Quelimane. O evento, que está a ser promovido pela Universidade Católica de Moçambique, conta com oradores nacionais e internacionais, entre os quais os protagonistas do Acordo Geral de Paz.

Na sessão de abertura da conferência, os políticos Raul Domingos, embaixador extraordinário e plenipotenciário junto da Santa Sé, Lutero Simango, presidente do MDM, Herminio Morais, que representa Ossufo Momade, académicos, religiosos, estudantes e outros convidados marcaram a presença na conferência.

O reitor da UCM defendeu, na abertura, que a guerra propicia falta de partilha solidária entre os povos, sendo que o diálogo deve continuar a ser uma prioridade. O bispo da Diocese de Quelimane defendeu, na ocasião, que os 30 anos de paz revelam que Moçambique já não é país adolescente, por isso os políticos devem trabalhar para o bem dos moçambicanos.

Feita a abertura da cerimónia, seguiu-se ao primeiro painel da conferência com o tema “ideologias no processo de construção da paz”. Dom Germano Grachane falou sobre “a igreja local moçambicana, instrumento eficaz para edificar a comunhão, a unidade e a paz: 30 anos do Acordo Geral de Paz”.

Dom Grachane foi vigoroso na sua abordagem ao afirmar que o papel da manutenção da paz não cabe apenas aos bispos, mas a todos os moçambicanos enquanto cristãos e defensores de várias seitas religiosas.

“A reconciliação não veio de cima para baixo, mas sim da base através da intervenção da igreja local e da comissão de justiça e paz. Tal como no princípio da guerra dos 16 anos, alguém tomou dianteira ao ir pessoalmente às matas iniciar o processo de busca de paz, tornando este processo mais tarde ecuménico. Hoje, com o avanço da instabilidade no Norte, chama-se a responsabilidade à igreja. A igreja não somos só os bispos, a igreja somos todos nós, o povo de Deus. Por isso, todos temos esta responsabilidade”, defendeu o orador.

O académico angolano Raul Tati, que interveio, na ocasião, com o tema “ideologias políticas no processo de construção da paz”, defendeu que não se pode evocar a paz sem se buscar alicerces de estabilidade, nomeadamente inclusão, justiça social, harmonia de grupos de etnias, entre outros.

Diz que a paz deve ser defendida por actores locais e não externos. “Não podemos esperar por uma paz trazida por contingentes externos, a paz deve ser construída a partir da nossa própria realidade nas nossas comunidades, bairros e aldeias. Deve haver sementes de paz que germinam em cada cidadão”, disse o académico, para quem “o caso de Cabo Delgado representa outras tantas situações por que passa o continente africano, onde o Estado perdeu o monopólio da violência, estando nas mãos de forças anti-sistemas, que reclamam alguma legitimidade ou pura e simplesmente alguma razão nem sempre de fácil identificação”.

No mesmo painel, Adriano Nuvunga, académico, falou sobre os desafios de Moçambique na inclusão democrática. Defendeu que o que se vive no país é uma tentativa de pegar algumas pessoas para justificar inclusão, o que faz com que tenhamos mais dois acordos de paz e nos coloca numa situação de conflitualidade que vivemos hoje. A nação precisa de sentar para começarmos a discutir o bem do país”, apelou Nuvunga.

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