Há três semanas que a travessia no rio Mutacaze, em Nampula, é feita de forma muito condicionada. Centenas de pessoas desafiam diariamente o leito do rio caminhando ou nos ombros de outras pessoas porque a ponte foi arrastada pela corrente da água aquando da passagem do ciclone GOMBE.
Faz-se 70 km de estrada asfaltada recentemente inaugurada pelo Presidente da República e, em menos de uma hora, a ligação entre a cidade de Nampula e a vila-sede do distrito de Mogovolas fica estabelecida. Só que logo a seguir, para quem vai em direcção ao distrito de Angoche, a viagem muda de rumo quando se chega ao rio Mutacaze cuja ponte metálica foi arrastada pela corrente da água há três semanas, aquando da passagem do ciclone GOMBE.
O leito do rio baixou muito. As pessoas que estão nas duas margens do rio atravessam o leito caminhando ou nos ombros dos biscateiros que viram uma oportunidade para ganhar dinheiro fazendo atravessar as pessoas sem se fazerem à água. Feliciano Caetano é um desses. Não tem a conta exacta do número de pessoas que carrega nos ombros por dia, só sabe afirmar que o movimento tem sido bom.
“O valor depende da negociação com o cliente. Há clientes que me pagam 30 Meticais, há outros que me pagam 20 ou 10 Meticais”. Os dias são difíceis para muita gente. O rio isolou dois postos administrativos do distrito de Mogovolas, mas o grande prejuízo é sentido pela população dos distritos de Angoche e Larde que dependem muito da cidade de Nampula para abastecer-se em insumos do dia-a-dia.
Juvêncio Sapite desce do colo de um jovem que o fez atravessar e desabafa: é complicado. É mais um gasto. Não temos muito e é mais um gasto. Só espero que isto se resolva o mais rápido possível. Até há esforços nesse sentido. A estrutura metálica da ponte de 30 metros que fora arrastada está a ser desmontada para ser recolocada entre os pilares.
Mas a natureza foi tão forte que 15 metros dela não são aproveitáveis. Do lado dos encontros da ponte, numa das margens, há necessidade de reconstrução com betão e o prazo indicativo dos trabalhos é de 50 dias.
“O encontro existente cedeu e há necessidade de fazermos um novo encontro e lançarmos a ponte”, garantiu Manuel Benjamim, técnico responsável pela obra. No local, um camião-cisterna de transporte de combustível que saía da cidade de Nampula em direcção a Angoche teve que terminar a viagem numa das margens e com recurso a uma motobomba e um tubo de mais de 50 metros de extensão foi bombeado o combustível para o outro camião-cisterna que estava na outra margem.
São alternativas possíveis perante uma crise de circulação causada pelos eventos extremos.
Cansado de esperar, o condutor de uma viatura ligeira decidiu desafiar o rio a quatro rodas. O carro de alta suspensão foi determinante para a travessia arriscada. Com ajuda da força humana, o mesmo conseguiu atravessar o rio para poder chegar à cidade de Nampula para adquirir produtos de primeira necessidade para alimentar o comércio no distrito de Larde.
“Tinha que arriscar. Estou aqui há três semanas. Vou à cidade de Nampula adquirir produtos. Volto amanhã. Não tinha como, porque tudo está fechado e os preços sobem do outro lado. Assim é para poder minimizar os preços porque muita gente pode morrer a fome”, disse Gulamo Rajabo.
As embarcações a motor e canoas pararam de fazer a travessia porque o caudal do rio está muito baixo.