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Mais um jornalista acusado de terrorismo em Cabo Delgado

A Procuradoria Provincial de Cabo Delgado deteve, no dia 28 de Outubro último, no distrito de Balama, um jornalista supostamente por ser membro do grupo terrorista que actua em Moçambique há mais de cinco anos.

Trata-se de Arlindo Severiano Chissale. Segundo a acusação, o jornalista, do jornal electrónico “Pinnacle News”, baseado em Nacala-Porto, dedicava-se à recolha e partilha de informações sobre a situação de segurança das aldeias e vilas para facilitar as acções do grupo armado.

“Não foi detido por ser jornalista nem por exercer a actividade de jornalismo. Ele foi detido como um cidadão em conexão com terroristas, com particular destaque para a recolha de informação para actos terroristas”, explicou Gilroy Fazenda, porta-voz da Procuradoria Provincial de Cabo Delgado.

O jornalista foi detido depois de uma denúncia da população que alegadamente o viu a captar imagens na vila, incluindo do edifício onde funciona o comando da Polícia da República de Moçambique em Balama.

“Ele foi suspeito porque, quando chegou à vila, captou algumas imagens de instituições públicas, das quais o comando da Polícia e foi numa casa de acomodação onde pediu a disponibilidade de todos quartos porque havia homens para sua própria segurança. No interrogatório, disse que estava numa missão sigilosa relacionada com elevação de Balama à categoria de município, tendo depois mudado o seu depoimento, dizendo que estava ao serviço de um partido político da oposição que escusamos revelar. No fim, identificou-se como jornalista, mas apresentou um documento do comando da Polícia de Nampula, que indicava ser jornalista, mas que já havia expirado em Dezembro de 2020”, revelou Gilroy Fazenda.

O Misa-Moçambique, única organização de defesa do jornalista que até ao momento está a acompanhar juridicamente o caso, vai continuar com o processo até se provar que a detenção não tem nada a ver com o exercício das suas funções.

“Apesar de ser acusado do terrorismo, vamos continuar a acompanhar o caso, até porque o nosso advogado já esteve em Balama para mais detalhes”, garantiu Jonas Wazir, do Misa-Moçambique em Cabo Delgado.

Este é o terceiro jornalista acusado de participação em actos terroristas em Cabo Delgado, desde a instalação do grupo armado na província há mais de cinco anos.

O primeiro caso, que envolve dois jornalistas de uma rádio comunitária em Macomia, foi registado em 2019 e, até ao momento, o processo ainda não teve o desfecho.

Ao “O País”, Tomás Vieira Mário, director da Sekelekani, garantiu que Chissale era correspondente da instituição que dirige.

“Arlindo Chissale faz parte de um grupo de 50 correspondentes comunitários que temos em todo o país, que são activistas e escrevem-nos histórias de zonas onde haja projectos de extracção de recursos naturais”, disse Tomás Vieira Mário.

“É uma atitude de abuso de poder, autoritária e que nos deixa preocupados. Há  distritos com liberdade de imprensa condicionada, onde se pede guia-de-marcha, autorização, como se fosse um território estrangeiro. Este tipo de atitude tem efeito intimidatório”, acrescentou.

Para Jonas Wazir, representante do Misa-Moçambique, informações disponíveis indicam que o jornalista foi interpelado em Balama pela Polícia. “Questionado se era jornalista”, Chissale “apresentou um documento fora do prazo. Disseram-nos que não foi detido por exercer a actividade de forma ilegal e ligações ao terrorismo. Mesmo assim, não o vamos deixar de defender e o advogado já começou o trabalho preliminar em Balama”.

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