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O peso para dar comida aos deslocados no Norte do país

O Programa Mundial para a Alimentação precisa de 17 milhões de dólares por mês para continuar a prover comida aos deslocados de guerra e das calamidades naturais no Norte de Moçambique. De Janeiro a esta parte, triplicou o número de pessoas assistidas pelo PMA, estimado em 865 mil.

O conflito armado na província de Cabo Delgado forçou a retirada da população das suas zonas de residência e de produção e deixou mais de 800 mil pessoas numa situação de dependência para ter alimentos. O Programa Mundial para a Alimentação (PMA) é o principal parceiro do Governo na assistência alimentar.

Em entrevista exclusiva à nossa reportagem, o director-adjunto do PMA em Moçambique, Pierre Lucas, falou do aumento, três vezes mais, do número de pessoas necessitadas no Norte do país, desde Janeiro deste ano. “Assistimos deslocados no Norte e atingimos 865 mil pessoas com assistência em Janeiro deste ano. Entregamos 4.750 toneladas métricas de alimentos e 4,6 milhões de dólares em transferências de dinheiro para pessoas deslocadas”.

A acrescentar as 865 mil pessoas deslocadas devido ao terrorismo, existem as vítimas de calamidades naturais em Nampula e Zambézia, que também precisam de assistência alimentar. “Estamos a apoiar, para complementar, as necessidades de assistência às pessoas deslocadas nos centros de trânsito temporário na Zambézia e, em breve, apoiaremos, também, em Nampula. Mas, ainda não temos números finais”, acrescentou Pierre Lucas.

O PMA estima que precisa de 17 milhões de dólares por mês para continuar a alimentar a população no Norte de Moçambique, numa altura em que, por vezes, faltam recursos para garantir essa assistência, tal como aconteceu no ano passado em que aquela instituição das Nações Unidas se viu forçada a instituir reduções da cesta básica alimentar. “Embora o PMA tenha aumentado a assistência alimentar no Norte de Moçambique, recursos adicionais são necessários urgentemente para fazer face às necessidades. O nosso principal desafio é financiar a assistência regular”, alerta Lucas.

Na sua actuação em Moçambique, o PMA disponibiliza insumos alimentares ao Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) que, por sua vez, distribui a cesta básica regular aos deslocados, maioritariamente em Cabo Delgado e Nampula.

Numa outra perspectiva, o PMA actua no apoio à melhoria da integração do mercado dos pequenos agricultores, nos distritos de Malema e Ribáuè, em Nampula, desde 2019, através da instalação de um mercado virtual que foi oficialmente lançado esta terça-feira (22), naquela província.

É uma inovação que vai poupar esforços dos agricultores dos distritos em referência, que podem recorrer à plataforma digital para colocarem os seus produtos agrícolas, proporem o preço e interagirem com potenciais compradores, sem precisarem de carregar os produtos para o mercado tradicional.

“Reiteramos o apoio ao Governo para aumentar a produtividade e rendimento dos agricultores. Assim, estaremos a agir pela redução da fome e dos níveis de desnutrição em Moçambique”, salientou Pierre Lucas, durante a cerimónia oficial.

A plataforma é financiada pelo Governo do Japão e foi desenvolvida também por uma empresa japonesa. O embaixador nipónico em Moçambique, Hajime Kimura, destaca a importância do mercado virtual para os beneficiários. “Com este sistema digital do AgroPonto nem se precisa da cooperativa agrícola. As associações ou cooperativas é que põem os anúncios nessa plataforma digital, então as cooperativas agrícolas convivem com este sistema digital e o seu trabalho fica muito mais eficiente e fácil”.

O administrador de Ribáuè, Iasalde Ussene, lembra que há vezes em que os produtos se deterioram nos celeiros dos agricultores por falta de acesso aos mercados.

“Vai contribuir para aprimorar o trabalho do Governo na redução das barreiras dos comerciantes no acesso à informação dos mercados, conectando, com sucesso, os agricultores, vendedores e compradores, para um preço conhecido e justo em determinado momento e local específico”.

As cooperativas ou associações receberam os aparelhos que vão usar para o comércio virtual em referência.

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