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Mais de quatro mil ambulantes vendem em locais impróprios na Cidade de Maputo

Há cada vez mais vendedores informais nos semáforos da Cidade de Maputo. Actualmente, a edilidade contabiliza mais de quatro mil ambulantes em locais impróprios. Uma preocupação para a Polícia de Trânsito (PT), que diz que, para além de embaraçar o trânsito, o fenómeno contribui para o índice de atropelamento.

É uma resposta ao desemprego encontrada por vários jovens, mulheres e até crianças, que procuram convencer os automobilistas a comprarem os seus produtos. Um cenário que se replica por várias avenidas da capital moçambicana. E as razões são conhecidas –  a luta pela sobrevivência.

Isaías Mambo, natural da província de Gaza, vende bolachas, doces e pipocas no cruzamento entre as avenidas Joaquim Chissano e Acordos de Lusaka há mais de cinco anos. Debaixo do sol e ao pé da estrada, Isaías vê, no sinal vermelho do semáforo, uma fonte de renda para sustentar a sua família.

“Estou aqui à procura de pão. Tenho dois filhos por sustentar, para além da minha esposa e dos meus pais”, justificou o vendedor ambulante.

Para além de Isaías Mambo, há, nos semáforos daquele cruzamento, dezenas de vendedores, tal é o caso de Arlindo Lourenço, que explicou que “estou aqui por falta de emprego. O pouco que ganho com as vendas dá para pelo menos comprar comida para a minha família”.

Naquele negócio, tem mais lucro quem mais corre sem olhar para o perigo. Afinal, nem sempre os vendedores ambulantes respeitam a intercalação das cores dos semáforos.

Florência Alexandre, viúva e mãe de seis filhos, diz que conhece os riscos que corre ao dividir espaço com viaturas, ainda assim, “não tenho como, porque é fazendo isto que consigo ganhar pão”.

Na venda de hortaliças no vale de Infulene há mais de três anos, Florência ainda carrega memórias de colegas que foram vítimas de atropelamento.

“Acidentes têm acontecido muito. Temos um amigo que vendia aqui connosco e foi atropelado. Ainda hoje (semana passada), houve outro acidente, um colega que vendia numa carrinha foi também atropelado”, lamentou Florência Alexandre.

Alguns vendedores dizem que arriscam as suas vidas por falta de espaço, tal é o caso de Dércia Francisco, vendedeira de alface.

“Sei que é perigoso, mas não há nada a fazer. Não temos mercado. Se dessem espaço no mercado para mim e para as outras senhoras, a situação mudaria”, desabafou Dércia.

Mas outros, como Florentina Horácio, que se instalou naquele local em 2016, dizem que o negócio é mais lucrativo quando é desenvolvido fora do mercado.

A PT afirma que a invasão dos vendedores informais às estradas é uma preocupação, não somente devido aos constrangimentos para a circulação das viaturas, mas também no aumento de atropelamentos.

Só no ano passado, foram registados mais de 200 acidentes de viação na Cidade de Maputo, dos quais 150 do tipo atropelamento, que resultaram na morte de 103 pessoas.

“Os atropelamentos continuam a ser um grande problema na nossa cidade. A principal causa tem sido a má travessia do peão. Algumas pessoas fazem aquela actividade com menos cuidado, ou com ignorância, esquecendo que, apesar de ser uma forma de lutar pela sobrevivência, coloca em risco as suas próprias vidas”, referiu José Nhantumbo, chefe de Educação Pública da Polícia de Trânsito.

Cremildo Maunze está na Cidade de Maputo há menos de dois anos. Por influência dos seus amigos, decidiu montar a sua banca nos semáforos do cruzamento entre a avenida Eduardo Mondlane e a rua da Zâmbia.

O seu trabalho começa logo às primeiras horas do dia. De viatura a viatura, procura convencer os automobilistas a comprarem frutas. O jovem reconhece que o trabalho é arriscado e, porque não quer fazer parte das estatísticas das vítimas por atropelamentos, explica os cuidados que tem tomado ao fazer-se à estrada.

“Tenho que me arriscar para conseguir comprar pão. Há outros jovens que assim como eu querem ganhar a vida de forma honesta, ao invés de roubar, ou se passando por mendigo. Tenho prestado atenção para correr ao encontro dos automobilistas, somente quando o semáforo fecha. Quando abre, saio de imediato”, explicou Cremildo Maunze.

A venda ambulante nos semáforos cresce numa altura em que o Conselho Municipal de Maputo quer organizar o sector informal, e uma das medidas recentemente adoptadas foi a revisão da postura de mercados e feiras, segundo a qual, os compradores passarão a ser penalizados.

“O que queremos acima de tudo não é penalizar como tal, mas sim consciencializar o cidadão que deve fazer as compras nos mercados. A penalização é o último recurso na verdade, mas, acima de tudo, o que pretendemos é que o cidadão esteja cada vez mais consciente de que não pode exercer este acto a nível da via pública”, esclareceu Tomás Mondlane, director de Mercados e Feiras no Conselho Municipal de Maputo.

Por outro lado, o porta-voz da Polícia Municipal, Mateus Cuna, explicou que os bens que são vendidos nos semáforos e noutros locais impróprios podem ser aprendidos.

“Estas apreensões são uma forma de corrigir esta atitude, mas não é o fim, pois o munícipe tem a prerrogativa de se aproximar ao Conselho Municipal para poder reclamar em caso da aplicação desta sanção”, esclareceu Cuna.

Actualmente, cerca de quatro mil vendedores encontram-se em locais impróprios, dos quais 250 abandonaram os mercados.

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