Os nomes são fictícios, para proteger a identidade das adolescentes, mas as suas histórias são reais, com todos os seus dilemas. Todas iniciaram a vida sexual precocemente, fenómeno, entretanto, que permite múltiplas interpretações, desde socioculturais até económicas.
Lídia, 15 anos de idade, mora em Mahubu, distrito de Boane. A família recebe-nos e revela a pobreza que as poucas pessoas que ali moram enfrentam. A luta pela sobrevivência é regra. Entretanto, a intranquilidade toma conta da adolescente, que nos leva a um lugar mais tranquilo, porque, afinal, a situação não reúne consenso na família.
Frequenta a quarta classe. Não sabe ler, não sabe escrever o seu nome, não sabe o que quer ser. O seu corpo revela mudanças, mas a sua mente ainda é de uma criança. Aliás, Lídia reconhece que queimou etapas. “As pessoas dizem que eu não deveria engravidar agora, mas aconteceu. Eu quero voltar a estudar. Depois que o bebé nascer, vou deixar em casa do pai, porque ele não quer assumir a barriga”.
Uma em cada cinco mulheres no mundo tem filho antes dos 18 anos e, a cada ano, nascem 16 milhões de crianças de mães adolescentes. Em países subdesenvolvidos, como Moçambique, uma em cada três mulheres é mãe na adolescência.
Por detrás destes números, escondem-se muitas realidades. Gina é parte das estatísticas que revelam um problema que ocorre em todo o país, em diferentes estratos sociais. Engravidou aos 14 anos e descobriu que seria mãe. Seis meses depois, não estranhou as transformações no seu corpo.
Mora apenas com o pai e nunca teve informação sobre a sexualidade. “O meu pai não é aberto, nunca me falou sobre sexo. É difícil sustentar uma criança, principalmente porque o pai não quer assumir e não trabalha”, lamenta, cabisbaixa, a adolescente.
Em muitos casos, a vulnerabilidade e a pobreza tornam ainda mais difícil a tarefa de cuidar de um ser que de muita atenção e cuidado precisa.
Maternidade precoce
As mortes maternas relacionadas com a gravidez e parto em raparigas entre 15 e 19 anos de idade representam cerca de 70 mil óbitos por ano. Segundo Páscoa Wate, directora do Departamento de Saúde da Mulher e Criança no MISAU, os dados do último inquérito nacional, realizado em 2015, referem que uma em cada duas adolescentes já esteve grávida ou teve filho; uma em cada duas mortes entre mulheres dos 15 aos 24 anos de idade e? por causas relacionadas com gravidez, parto e aborto.
Moçambique apresenta a mais baixa taxa de prevalência de contracepção, entre os países da África Austral, com apenas 25%, num ranking liderado por Zimbabwe, com 64.7%. O mesmo estudo revela que, no país, apenas 14.1 por cento dos adolescentes usam métodos contraceptivos modernos.