As famílias estão no centro de reassentamento de Mutchessane, distrito de Nicoadala, e são provenientes de vários distritos que foram duramente assoladoras pelo terrorismo. Mocímboa da Praia, Muidumbe, Macomia e Palma são alguns dos pontos.
Inicialmente, no centro de Reassentamento de Mutchessane, localizado no distrito de Nicoadala estavam alojadas mais de cem famílias, oriundas de distritos fortemente assolados pelo terrorismo, na província de Cabo Delgado. Mas devido à situação de fome e outras carências, as mesmas começaram a abandonar o local. Algumas famílias preferiram regressar para outros locais seguros de Cabo Delgado, outras preferiram manter-se em Nicoadala.
De acordo com as famílias, o Governo tem feito a distribuição de alimentos com destaque para farinha e arroz. Contudo não é suficiente pois são disponibilizados por cada trinta dias, apenas dez quilogramas farinha ou arroz, o que não é suficiente.
“Com dez quilogramas vamos fazer o que, estamos a falar de trinta dias a razão daquela quantidade. Não temos direito a caril, óleo e nenhuma outra ração para garantir a nossa dieta”, disse Elias Chapelo chefe dos deslocados, no centro de reassentamento de Mutchessane.
Chapelo foi mais longe ao afirmar que a farinha que as famílias têm recebido no centro, através das autoridades, apresenta-se deteriorada.
“A farinha muitas vezes contém bichinhos e isso não é bom. Para comer é necessário ceifar. Do contrário, não é possível comer”, acrescentou.
Sobre o assunto, a nossa reportagem foi confrontada com tal facto. Farinha contendo bichinhos e as mulheres obrigadas a ceifar ou a peneirar para evitar situação desagradável na hora das refeições.
Amisse Adamo, outro deslocado, disse que a situação alimentar e carência de outros mantimentos levam os deslocados a pensar nas suas zonas de origem.
“Pena que não temos como sair por causa da guerra, na nossa província. A situação aqui não é boa. Só dão-nos arroz ou farinha nas quantidades já mencionadas. Mas sem, no entanto, nos dar caril, óleo entre outras coisas para podermos alimentar-nos. Sabemos que não estamos nas nossas casas, mas podemos viver com alguma dignidade na base do apoio que nos é prestado mas infelizmente” precisou Adamo.
Lúcia Jacob e Saviana Luís, outras duas mulheres deslocadas de Cabo Delgado, explicaram que se o Governo não tem capacidade de dar farinha e caril, talvez a melhor alternativa seria apoio financeiro através do INAS ou outras entidades. Isso poderia permitir ter ração com alguma dignidade e não como está a acontecer.
“Se nós levarmos essa comida aos vossos pratos, talvez vocês não comeriam. Mas nós estamos a passar por isso. Estamos a pedir a quem de direito para olhar para nós, porque não temos capacidade neste novo lar. Talvez se a guerra acabar, quando voltarmos para as nossas zonas, a situação poderá ganhar outro rumo”, disse Lúcia Jacob visivelmente emocionada.
Ainda sobre o assunto, a nossa reportagem contactou a administradora distrital Adelina Tiroso. Telefonicamente fez saber que encontrava-se a viajar a trabalho. Mas assim que regressar prestaria informação necessária sobre o assunto. No entanto, explicou que a distribuição de comida para as famílias têm estado a ocorrer mediante uma calendarização disponível.
“Não temos relato de falta de comida. Todos os dias, um de cada mês fazemos a entrega de comida”, disse a governante. Contudo, até o dia de ontem, oito de Março, nenhuma família teria recebido comida no centro de reassentamento de Mutchessane.