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Mabjaia: faleceu um defesa que não brincava em serviço

Bola nos seus pés, era esférico no meio campo adversário. Elias Mabjaia tinha a sua maneira de actuar, algo que acompanhou o seu triunfo no futebol nacional, ao longo de mais de três décadas, primeiro no Incomáti de Xinavane e depois no Ferroviário de Maputo, equipas do seu coração e a quem ajudou a chegar a vários triunfos.

Foi internacional por duas vezes. Mas a sua melhor actuação pela equipa de todos nós, aconteceu no dia 16 de Abril de 1989, no Estádio da Machava, diante da super-poderosa Zâmbia. Jogou que se fartou e não se fartou de ir à luta, deixando os KK Eleven impressionados. Perdemos por 1-0, mas o nosso Elias Mabjaia, naquela tarde solorenta, evitou um mal maior. E se Nico, o “danger-man”, estivesse nos seus dias, haveria outra história para contar!

CARÁCTER E CARACTERÍSTICAS MUITO PRÓPRIAS

De facto, não brincava em serviço. Diziam que jogava feio, mas isso não o preocupava. Alto, espadaúdo, buscando o choque e o contacto em cada lance, dificilmente saía com a bola nos pés, tentando inventar. O seu forte era “limpar a área”, obrigar os colegas a subirem. O jogo aéreo, era um dos seus pontos fortes. Vivia as partidas como poucos. Daí que os técnicos o colocassem como último homem, numa zona em que não há espaço para brincadeiras. Ao lado de Joaquim João, eles completavam-se. Um preocupado (também) com o estilo, o outro a aliviar sem contemplações.

Era assim no Incomáti de Xinavane, continuou sendo assim no Ferroviário e na Selecção.
Num pequeno encontro com os jornalistas, ele não teve qualquer receio em afirmar:
– “Eu não jogo para vos agradar. Escrevam o que quiserem de mim. Sigo apenas o que o meu treinador me instrui e o que a minha equipa precisa”!

Dentro e fora do campo, era igual a si próprio. Simples, prático, directo e pouco falante. O importante para ele nas quatro linhas, era lutar para ganhar, sem rodeios e nem rodriguinhos. A simpatia e o “bana estilo” ficava para os outros!

 

UMA HISTÓRIA APARA RECORDAR

Martinho de Almeida acabava de assinar um contrato com o Ferroviário de Maputo. Estava-se no início de época. JJ, o eterno capitão, tinha sido convocado para a Selecção Nacional e por isso o mister decidiu entregar a braçadeira ao Elias Mabjaia. No regresso, as actuacões de Joaquim João, sem a braçadeira, comecaram a ser menos vistosas. O que se estaria a passar?

O criador do método Marsia indagou e chegou à conclusão que JJ, sem a braçadeira, que fazia parte do seu estilo, não era o mesmo. Ele não considerara antes esse pormenor de importante, mas acabou por mudar de opinião. O que fazer?
Usando o seu pragmatismo, Martinho de Almeida convocou um encontro com os visados, tentando chegar a um entendimento que não ferisse qualquer dois dois e beneficiasse a equipa.
Assim sendo, foi dizendo:
JJ, o que se passa com o teu rendimento. É por causa da falta da braçadeira?
De algum modo si, mister. Até as amigas da minha esposa, no bazar gozam, dizendo-lhe: o teu marido já não é capitão? Desceu de categoria? Isso afecta-me!
OK. disse o mister. E tú, Mabjaia. Jogas mais ou menos, sem a braçadeira?
Nem pensar, mister. O que me importa, é a equipa e as vitórias.

O assunto ficou resolvido na hora. Martinho tirou do bolso um valor considerável, em notas, e ofereceu a Mabjaja, em troca da cedência da bracadeira ao eterno capitão JJ. E tudo voltou à normalidade, com a dupla de centrais locomotivas a voltarem a render em pleno.

É este grande – no tamanho e no valor – desportista moçambicano que faleceu. Ele partiu, mas a sua história de vida fica connosco. Sobretudo com os mais velhos que com ele privaram e tiveram o privilégio de (com)partilhar, em inúmeras tardes de glória e em diversos palcos, onde a sua modalidade de eleição – o futebol- trazia alegrias aos adeptos.

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