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Maenga: um lateral de classe que terminou na miséria!

O destino como grande futebolista ficou traçado no Matchedje e na Selecção Nacional, onde foi um dos melhores laterais direitos que passaram pelos nossos campos, nos anos de ouro da equipa militar. Arrumou as botas e acabou perdendo-se na bebida, vindo a falecer no Chimoio, com o físico e a mente totalmente destroçados. O seu nome: Maenga!

“Rabota, muita rabota”, o que quer dizer trabalho, muito trabalho, era a mensagem, quase em permanência que Victor Bondarenko transmitia aos seus pupilos. O Matchedje vivia os seus tempos áureos, tendo conquistado o título nacional sob o comando do ucraniano, em 1987. No ano seguinte, chegou às meias-finais da então Taça dos Campeões Africanos.
O ponto forte dos militares era o contra-ataque. Algo novo e que veio revolucionar o futebol de então. A turma jogava retraída “convidando” o adversário a subir. Depois, em altas “cavalgadas” ou em pontapés longos, chegava à baliza adversária e o perigo ficava instalado. A componente física era determinante e no Matchedje não havia poupanças. Todos corriam que se fartavam e não se fartavam de correr. Como autênticos militares que eram.
Recordemos alguns craques da formação base do Matchedje: Filipe, Maenga, Luís, Maló, Zacarias, Nico, Adelino, Betinho…
Maenga era uma das peças-chave, no futebol moderno que Bondarenko punha em prática. Ele subia pelo flanco direito, tabelava com os colegas e dos seus pés saíam cruzamentos para a área ou fortes remates à baliza.

Do S. Benedito para a selecção

Começou como muitos meninos da sua idade, na Cidade da Beira, no S. Benedito. Era baixinho, mas gostava de jogar ao ataque. Quando se decidiu pelos federados. Cedo apercebeu-se que a sua propensão e características apontavam para jogar à defesa.
Em boa hora terá vindo o recrutamento para o serviço militar, num período de ouro do Matchedje. Na altura, os convites para estagiar e actuar nos países socialistas eram muitos e a competição era a sério.
Daí para Selecção Nacional, foi um passo. Estreou-se a 16 de Abril de 1989, na Machava, frente a Zâmbia, em que fomos derrotados por 1-0, em eliminatória para o CAN. Depois actuou por mais nove vezes na equipa de todos nós, disputando o lugar com Dinis, do Desportivo, e Cachela, do Maxaquene.

Ascensão e… Queda

Jogou até aos 30 anos e deixou o futebol. Porque era militar,
“reformou-se” com a patente de capitão. Uma nova vida começava, nem sempre com a mesma determinação e consciência do Maenga futebolista, que levantou os estádios.
Foi-se perdendo nas noitadas, com bebedeiras descontroladas à mistura. Nem a ida para o Chimoio, onde tinha casa, contribuiu para melhorar o seu comportamento. Em dia de salário, havia “festa na aldeia” à custa do tio-Maenga.
Os convites para se enquadrar no futebol, ajudando no dirigismo ou transmitindo a sua experiência no enquadramento da camada jovem não resultaram.
Há cerca de cinco anos, foi-se deste mundo o excelente lateral direito, mas ficaram na retina de quem o viu actuar, imagens das suas grandes jogadas, com cortes em “carrinho” e velozes partidas para o contra-ataque.

 

 

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