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Luís Bernardo Honwana (3): O fim do ciclo e os ventos da esperança

Ao sair da prisão, Luís Bernardo Honwana não ficou desamparado. Mais ou menos dois anos depois, foi a Portugal estudar Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Cinco anos depois, quando a independência nacional foi proclamada, o escritor foi nomeado Director do Gabinete do Presidente da República, Samora Machel.

A vida política, com feito, não lhe engoliu. Pelo contrário, contribuiu para a dinamização da actividade artística e cultural ao nível nacional. Por exemplo, ajudou a fundar a Associação Moçambicana de Fotografia e a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). Na verdade, foi Luís Bernardo que unilateralmente decidiu onde seria a sede da AEMO, na Cidade de Maputo.

Luís Bernardo Honwana contribuiu intensamente para a fundação da AEMO, a 31 de Agosto de 1982. Inclusive, presidiu a Comissão Constitutiva da agremiação. Nesse mesmo ano, tornou-se secretário do Estado da Cultura e, em 1986, foi nomeado Ministro da Cultura de Moçambique.

Cinco anos depois, em 1991, fundou e foi o primeiro Presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, actualmente, presidido por Nataniel Ngomane.

Quando largou a vida política activa, Luís Bernardo Honwana envolveu-se em vários projectos. Foi convidado para entrar para o Secretariado da UNESCO e foi nomeado director do Escritório Regional da organização, com base na África do Sul.

Honwana não voltou a publicar um livro de ficção, mas continuou a participar em palestras, debates ou em sessões que lhe permitem partilhar o seu pensamento. Nós matamos o cão-tinhoso bastou-lhe para que fosse reconhecido como uma das figuras tutelares da literatura moçambicana. Para alguns intelectuais, se José Craveirinha é o poeta maior de Moçambique, Luís Bernardo Honwana é essa voz fundadora na prosa.

Parte do que o escritor pensa como intelectual encontra-se publicada no seu segundo livro, A velha casa de madeira e zinco (2017), publicado pela Alcance Editores. Mas é Nós matamos o cão-tinhoso a sua obra-prima.
Já na década de 60 do século passado, “Dina”, um dos contos que constituem o livro, foi adaptado para o filme intitulado
Deixe-me ao menos subir as palmeiras, de Lopes Cardoso. Apesar da astúcia do realizador, que colocou um capaz preto ao invés de um branco, o filme também foi interdito.

Ora, além de Lopes Cardoso, a escrita de Luís Bernardo inspirou a actriz Ana Magaia, que, há uns anos, levou ao palco o monólogo Rosita, até morrer, adaptado para o teatro a partir de um conto do escritor que, em 1964, não fazia parte da primeira edição de Nós matamos o cão-tinhoso. Na edição brasileira da Kapulana (2017), sim, o conto foi inserido.

Em 2018, a artista plástica moçambicana, que vive e trabalha nos Estados Unidos, Cassi Namoda, realizou uma exposição de pintura inspirada na obra Nós matamos o cão-tinhoso. Inclusive, deu à sua individual o título do primeiro livro de Honwana.

Em homenagem a Luís Bernardo, o escritor angolano Ondjaki escreveu o conto “Nós choramos pelo cão-tinhoso”, texto publicado no livro Contos africanos dos países de língua portuguesa, organizado pela professora brasileira Rita Chaves.

Ano passado, Licínio Azevedo adaptou para o cinema o conto “Nhinguitimo”, um dos que constituem Nós matamos o cão-tinhoso. O filme a preto e branco tem 20 minutos de duração e retrata uma história de injustiças e intransigências.

Em 2014, moçambicanos e ingleses celebraram os 50 anos de Nós matamos o cão-tinhoso. No mesmo ano, Luís Bernardo Honwana foi homenageado pelo Governo de Moçambique e, de seguida, foi laureado Prémio de Literatura José Craveirinha, o maior galardão literário do país.

A oitava edição da Feira do Livro de Maputo, organizada pelo Conselho Municipal de Maputo, foi dedicada ao autor de Nós matamos o cão-tinhoso, um dos 100 melhores livros africanos do século 21, pela Feira Internacional do Livro do Zimbabwe. Indisponível na cerimónia de homenagem por razões de saúde, o município da capital homenageou-o publicamente esta quinta-feira, a propósito dos 135 anos da Cidade de Maputo.

Além de artista, dinamizador cultural, político e gestor, Luís Bernardo Honwana, actualmemnte, tem-se envolvido em acções de preservação ambiental.

Luís Bernardo Honwana é casado e é pai de dois filhos. 10 dias depois da mãe completar 102 anos de idade, neste 12 de Novembro, completa 80 anos de idade.

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