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Likane, o Sedutor de Corredores

Os corredores do Centro Universitário Cristão de Pembene, tão serenos à primeira vista, escondem histórias que se espalham como folhas ao vento, carregadas de sussurros e indignações. Entre os rostos apressados e os livros apertados contra o peito, há um nome que emerge com frequência: Likane, o professor que veste o título de doutor como armadura e o poder como arma.

Likane não era apenas professor; era também um estrategista social. Com um sorriso que oscilava entre o falso e o predatório, fazia questão de ser amigo de todos. Mas os mais atentos percebiam que suas amizades seguiam um padrão: sempre jovens, sempre estudantes, sempre mulheres. Não era amizade o que ele buscava, mas oportunidades.

Diziam que aquelas que, por infortúnio, entravam na sua mira, logo descobriam o verdadeiro preço de sua simpatia. Havia quem falasse de encontros em pensões escondidas, de convites sussurrados no canto de corredores, de promessas veladas que misturavam notas académicas e ameaças disfarçadas.

Foi num desses corredores, em meio ao vai e vem quotidiano, que Likane cruzou com uma jovem estudante do curso de Administração. Olhou-a de cima a baixo e, com a voz carregada de audácia, sentenciou:

— Enquanto não me abrires as páginas, daqui você não sai.

Ela riu-se. Talvez por nervosismo, talvez acreditando que era uma brincadeira. Mas, à medida que os passos de Likane se afastavam, um frio subiu-lhe pela espinha. Algo estava errado. Ao chegar a casa, o episódio não lhe saía da cabeça. Durante o jantar, contou à avó, como quem divide um fardo pesado.

A anciã, mulher de sabedoria forjada pelas intempéries da vida, não disfarçou o espanto.

Seus olhos se arregalaram ao ouvir a história:

— Um professor assediador no Centro Universitário Cristão?

 

A avó sabia que aquelas palavras eram mais do que um mero desconforto. Eram um sintoma de algo maior, um eco de tantas histórias sufocadas pelo medo, pela vergonha, pela impotência diante de figuras que usavam o prestígio como escudo para os próprios pecados.

No Centro, enquanto a jovem tentava digerir o ocorrido, Likane continuava a caminhar pelos corredores, confiante em sua impunidade. Mas, como as folhas que sussurram segredos ao vento, as histórias sobre ele começavam a se espalhar. E, em algum lugar, uma onda de indignação começava a crescer.

 

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