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Lágrimas e pedido de desculpas… Namburete diz que foi enganado

Foto: O País

O primeiro réu do dia estava visivelmente emocionado e até deixou cair lágrimas. “Peço perdão a todos que ofendi”. Sérgio Namburete tem, ainda, as memórias bem vivas da sua detenção por envolvimento no esquema das dívidas ocultas. Com perto de 60 anos, ele e a esposa foram à cadeia, deixando um bebé de quatro meses, por sinal, a primeira sorte do casal.

“Até hoje, não sei como pedir desculpas à minha mulher”. E essa mulher é Márcia Namburete, que chegou a ser arguida no caso, por alegadamente ter recebido parte do dinheiro ilegal através do seu marido Sérgio Namburete.

O Juiz Efigénio Baptista apelou ao réu para que ficasse calmo, porque “não está a ser condenado, ainda, nem absolvido”.

As questões de fundo foram-se desenvolvendo e Sérgio Namburete disse ter conhecido Inês Moiane (sua amiga) na década de 90. Revela que a então secretária do antigo Presidente da República, Armando Guebuza, o convenceu a entrar no esquema sem dizer, de facto, qual era o negócio.

Segundo o réu, Inês Moiane disse que havia um projecto de se erguer prédio de mais de 20 andares no terreno da co-ré, na zona do ATCM (Costa do Sol), cujo investidor era de Abu Dhabi e que para Namburete ser intermediário tinha de ser através de uma empresa.

“Eu fiquei muito feliz quando soube que era um empresário de Abu Dhabi. Naquela altura, quando se falava de um empresário dos Emirados Árabes Unidos… vi que era uma oportunidade de abrir uma empresa e fazer os meus negócios”.

O réu diz que o investidor não queria fazer negócio com singulares, mas sim com empresa e que ele tinha de ter uma firma para poder facturar.

Questionado sobre que trabalho de consultoria fez, Namburete diz que foi um dos assinantes do contrato, fez a demarcação do terreno e levou os topógrafos para fazerem a planta topográfica do projecto que nunca mais avançou.

“Quem deu o preço foi o senhor Jean Boustani. O valor era de 750 mil euros sem acréscimo de nada. Mantive contacto com o senhor Jean via telefone e o contacto foi-me passado por ela (Inês Moiane). Ela pensava que eu já tinha a empresa”, detalha.

Lembre-se que Sérgio Namburete, de acordo com a acusação, abriu uma empresa de consultoria que nunca esteve em actividade, apenas serviu para receber dinheiro da Privinvest, num esquema coordenado com Inês Moiane, então secretária particular de Armando Guebuza, sendo que a verba teria sido recebida por Moiane para facilitar reuniões entre Guebuza e Jean Boustani.

O valor canalizado neste esquema é de 877.500 euros. Deste valor, 127.500 euros foram para os bolsos de Namburete, conforme diz a acusação e a assunção do próprio réu.

O réu pediu uma pausa para tomar medicamentos e, minutos depois, a sessão foi retomada. O Juiz quis perceber como é que a ré Inês Moiane procurou um intermediário para um negócio no qual conhecia a outra parte e podia negociar pessoalmente, entretanto a Defesa de Namburete pediu que o Juiz fosse directo nos seus questionamentos de modo a que o réu conseguisse responder.

Neste momento, o Juiz dita a acta das respostas e, logo a seguir, deverá ser o Ministério Público a fazer perguntas.

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