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Japone Arijuane traz Ferramentas para desmontar a noite

Segundo livro de Japone Arijuane será lançado terça-feira, numa cerimónia a realizar-se na Fundação Fernando Leite Couto, na cidade de Maputo, a partir das 18h.

Japone Arijuane saiu de Dentro da pedra. Agora, como que armado em mecânico ou algo parecido, vem com vários instrumentos, no seu segundo livro: Ferramentas para desmontar a noite. Esta missão pode até ser complexa para um cidadão comum. Não para um poeta. Então, o livro de poesia é, na voz do poeta, um conjunto de engenhos intangíveis que permitem desmontar as nuvens negras que não permitem sorrir e nem vislumbrar o horizonte.

Neste contexto poético, as nuvens negras não se encontram no céu. Longe disso, metaforicamente, representam a pobreza, a corrupção, as guerras, a desgovernação, o individualismo e o nepotismo. Assim, tal é a convicção do autor, as ferramentas aqui funcionam como catalisador para a ressurreição do amor, o amor ao outro, ao meio ambiente, à moçambicanidade, e, claro, o amor ao próprio amor.

À imagem do que vem acontecendo há algum tempo, Japone Arijuane escreveu o seu segundo livro de poesia porque não sabe fazer nada tão bem, “tanto quanto o nada chamado poesia”. E acrescenta: “a poesia é um inutensilio, como chamou o Leminski. É a minha forma de estar com todos outros eus. Escrevo para não morrer do ridículo que se tornou moda nos dias que correm. Escrevo para libertar os meus fantasmas, que no fim do dia, são de todos outros. Escrevo para me distanciar de tudo isso, às vezes até de mim mesmo, às vezes para me aproximar mais de mim”.

Ferramentas para desmontar a noite aconteceu em momentos diferentes, que resultaram em três cadernos independentes. Ao notar que havia uma certa intertextualidade entre os tais cadernos, que apontam para o mesmo horizonte (o desmontar do abismo), o autor decidiu unificá-los. Logo, o desmontar aludido no título também é, paradoxalmente, um processo de montagem da felicidade.  

O livro publicado pela Fundação Fernando Leite Couto tem aproximadamente 70 textos. A propósito da chancela, Japone Arijuane decidiu confiar o seu segundo livro àquela editora porque oferece uma estrutura que lhe permite uma boa edição.

Ora, passados seis anos depois de se estrear em livro, Japone Arijuane adianta que em Ferramentas para desmontar a noite os leitores vão encontrar o mesmo autor que de Dentro da pedra ou a metamorfose do silêncio, seu primeiro livro. Porém, mais maduro e mais poético, no sentindo de consciência literária. “Este é o livro de poesia que eu sempre quis ler. Porque não encontrava em livrarias e nem em bibliotecas, resolvi escreve-lo”, afirmou o autor, sugerindo, como quem provoca, os seguintes versos do livro: “Como desmontar a noite com uma vontade sem gumes?/ a noite é navalha a verter incertezas/ lâmina viva plantada na carne do vento/ voz incendiada nas falas do cifrão/. grito de vazios nas entrelinhas da cidade/ onde a dança cósmica do pão emerge/ para o amor rouco no silêncio das mãos”.

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