O País – A verdade como notícia

Insólito: mãe obrigada a regressar à casa com cadáver de filha às costas

O silêncio…tornou-se companheiro de quem perdeu o filho primogénito em situação pouco clara. Tristeza e dor são os sentimentos que ainda prevalecem no seio da família Macura, desde o dia que Flora Taibo Macura foi-se para sempre. Tudo começou, na última sexta-feira, quando a menor de sete anos teve problemas respiratórios. E porque era tarde e o hospital mais próximo fica distante, a solução foi de lá ir na manhã de sábado, e assim foi. O pai da menina Flora lembra-se das últimas palavras da filha. “A criança começou a passar mal e por volta das 4h00 da manhã saímos para o hospital Habel Jafar. Prestes a chegar, a minha mulher disse que tinha que regressar à casa para cuidar do Nandinho – filho mais novo – e que ela poderia seguir sozinha. Entendi e regressei para casa, mas antes eu disse a minha filha que tinha que voltar para casa para cuidar do seu irmão e ela disse que estava tudo bem. Foram as últimas palavras que ouvi”, descreveu Gordo Macura entristecido.

Depois de uma hora a caminhar de casa até ao Hospital Habel Jafar, a mãe da menor diz que a demora no atendimento pode ter contribuído para a morte da filha. “Quando chegamos ao hospital demoraram nos atender, até falei com um pessoal que lá estava mas me ignoraram. Só quando viram que a situação estava a agravar é que se mobilizaram”, contou entristecida Elina Chuvene.

O que deixa a família Macura mais descontente e amargurada é que depois de declarado o óbito, a mãe foi obrigada a regressar a casa com o cadáver. “O enfermeiro levou um lençol e cobriu a criança e depois disse que não havia espaço para deixar o corpo da criança. Ele vestiu as luvas, carregou a criança e colocou nas minhas costas. Pedi a servente para ajustar a criança para que eu pudesse leva-la para casa. E de facto, levei a criança de volta para casa”, detalhou a mãe da menor.

Elina Chuvene caminhou cerca de uma hora de regresso à casa, com a filha morta nas costas. Entretanto, a dor era grande e ao cruzar com alguns conhecidos, desmaiou. “Desmaiei quando vi uma pessoa conhecida lá da Igreja. Comecei a tremer as pernas e a tensão ficou alta. Porque comecei a pensar que estou a carregar uma pessoa morta. E não pode falar. Desde o hospital Jafar até aqui nas proximidades. É uma grande distância de lá para cá, com um cadáver”, entristeceu.

Um choque duplo para Macura

Gordo Macura diz ter ficado chocado quando soube que a filha havia perdido a vida e que a esposa estava desmaiada na rua. “Alguém veio até aqui avisar-me sobre o que havia acontecido. Fiquei transtornado, não era de se esperar. Corri descontroladamente e cai por várias vezes porque não estava bem. Quando lá cheguei vi a minha esposa deitada num lado e a minha filha coberta noutro. Não aguentei e comecei a chorar”, explicou para depois dizer que foi aparado pelas pessoas que estavam na rua que se prontificaram a ajudar.

A vizinhança condena o procedimento do pessoal afecto ao hospital Habel Jafar.

Os restos mortais de Flora Taibo Macura foram a enterrar esta segunda-feira. Para já, a preocupação do casal é de cuidar do pequeno Nandinho, de quatro anos, que mais do que uma irmã, perdeu uma companheira.

Psicólogo diz que mãe precisa urgentemente de cuidados médicos

Em reacção ao sucedido, o psicólogo Hachimo Chagane defendeu que mãe da criança precisa de um acompanhamento médico para evitar possíveis transtornos mentais. “Só a perda da vida de uma criança com esta idade é um trauma e quando é a própria mãe a ver uma situação é mais complicado ainda. Em condições normais, numa situação de morte de um filho a mãe deve ser isolada para que não veja em primeira mão e seja informada com o devido cuidado”, disse Chagane para depois avançar que a situação agrava-se pelo facto dela ter sido exposta a mais outro trauma mais doloroso e fora do comum. “Ao ter que carregar a filha morta para casa é mais grave ainda, o enfermeiro deveria, no mínimo, pedir um número de um familiar e ligar a explicar a situação. O ideal é que esta mãe seja acolhida num hospital, porque provavelmente, pode desenvolver alguns transtornos de natureza psiquiátrica e pode afectar a sua qualidade de vida”, defendeu.

Partilhe

RELACIONADAS

+ LIDAS

Siga nos