Chamado a reagir sobre a tragédia na Turquia e na Síria, o Instituto Nacional de Minas, que, no rol das atribuições, faz a monitoria sísmica no país, referiu que a Turquia se encontra numa zona de intersecção entre placas tectónicas, razão pela qual é propensa a sismos. As autoridades alertam, porém, para a necessidade de Moçambique tomar atenção na edificação de infra-estruturas para evitar possíveis tragédias afins.
Na camada interna da terra, conhecida por geosfera ou litosfera, é onde se podem encontrar as placas tectónicas que são grandes blocos rochosos que se movimentam sobre uma camada de rocha derretida, chamada manto. Na verdade, manto é o material que sobressai para a superfície em caso de vulcões. O movimento das placas pode ser lateral, de afastamento e de colisão.
Quando colidem no mar podem causar maremotos ou tsunamis e, quando o choque acontece na terra, causam vulcões e terramotos. O último fenómeno foi o que aconteceu na Turquia e na Síria. O Instituto Nacional de Minas explica as razões que ditaram o nível de estragos. “O que notamos é que o epicentro deste sismo aconteceu na zona de falha, isto é, na zona em que as placas se encontram. Para além de a magnitude ter sido alta, outro condicionalismo é a profundidade. Se tivéssemos uma situação de um sismo com mesma magnitude (7.8 ) e a profundidade for de 100 a 200 km de profundidade, os estragos não teriam esta magnitude. Agora, este teve uma profundidade abaixo de 30 km e este é um factor que determinou o nível de estragos”, revelou Hélio Inguane, porta-voz da instituição.
O técnico revelou que a falta de conhecimento sobre como agir antes, durante e depois dos sismos pode agravar as tragédias. “Os sismos começaram à madrugada, os que tinham algum conhecimento sobre o fenómeno e sentiram a terra a tremer começaram a sair das casas, mas os que ficaram são os que vão contribuir para que os números possam subir. Normalmente, quando a terra treme, a orientação é abandonar as casas e procurar locais abertos onde não haja árvores e outros objectos que possam cair sobre as pessoas”, esclareceu.
Em Moçambique, as autoridades estão preocupadas com o alastramento do vale do rift, uma abertura causada pelo afastamento de placas tectónicas, que parte do Norte de África, forma o Lago Niassa e está a alastrar-se.
“A falha está a alastrar-se para a zona de Manica, Gaza e Inhambane, e os estudos ainda não conseguem prever para que lado esta falha irá, mas as zonas com maior actividade sísmica em Moçambique são Niassa (Lago Niassa), Zambézia (Morrumbala), Tete, Manica, Sofala e no Norte de Inhambane e Gaza. O confortante é que, no nosso país, os sismos acontecem em zonas com pouca densidade populacional, por isso não assistimos a um número elevado de mortes. Entretanto, há destruições a relatar. Em Manica, na zona de Machaze, pode-se testemunhar que a terra se dividiu e há casas cujos cómodos foram separados e já são zonas em que não se pode habitar”, exemplificou.
Uma vez que não se pode prever a sua ocorrência, o INAMI defende que o país deve preocupar-se em garantir construções resilientes para evitar possíveis futuras tragédias afins. “Japão é exemplo de país que teve que melhorar a forma como edifica as suas infra-estruturas para evitar muitos danos. Como sabemos, aquele país sofre vários sismos. Nós, como país, temos que nos adiantar, temos que ser proactivos e usarmos as técnicas de construção que são usadas noutros países”, sugeriu Inguane.
O sismo desta segunda-feira na Turquia e na Síria está entre os 20 mais violentos e mortíferos da história mundial. O mais intenso ocorreu a 22 de Maio de 1960, no Chile, com uma magnitude de 9,5 na escala de Richter e causou dois mil mortos. O mais mortífero da história registou-se a 12 de Janeiro de 2010, no Haiti. Teve magnitude 7 e matou cerca de 316 mil pessoas. O registado no dia 26 de Dezembro de 2004, na Indonésia, foi o segundo mais violento, ao alcançar 9,1 de magnitude, e o segundo mais mortífero, com 230 mil mortos, devido, em parte, ao tsunami que causou.